Meu irmão mais novo graduou-se no mês passado. Foi emocionante, um daqueles momentos que estarão guardados para sempre. Enquanto ele estava sentado com sua turma, muitas foram as lembranças e sensações que me passaram pela cabeça. Lembro da época em que ele não sabia pronunciar o R; de resgatá-lo nos intervalos da escola, porque os coleguinhas pegavam o lanche dele; das brigas; das brincadeiras.

Senti muito orgulho de vê-lo completando mais uma etapa e mesmo alguns dias depois, meus olhos se enchem de água quando recordo desse momento. Creio que será sempre assim. Em algumas semanas, ele também vai se casar, então fica o marco de que meu “little brother” cresceu. Se eu, que sou irmã, senti várias coisas, pensei em como meus pais estavam vivendo esse evento. Eles que o incentivaram, cuidaram, educaram, agora veem o homem que ele se tornou e que está deixando o lar, para seguir um novo caminho.

Junto com as sensações positivas desse evento, também era possível discriminar algo agridoce. Agora que ele cresceu, vai deixar a casa dos meus pais e se unir a uma outra jovem, estabelecendo uma nova família. Esse processo, mesmo que pensado e apoiado, é doloroso para os envolvidos. Para o meu irmão, porque exercerá um novo papel pessoal (marido) e profissional (administrador) e para os meus pais, porque ficarão com sozinhos em casa.

Assim como meus pais, vários “perdem” seus filhos para o mundo e percebem-se com a casa vazia. De repente, não verão o filho todos os dias, não saberão o que ele comeu no almoço ou o que achou da final do Master Chef. Mesmo que continuem sendo pais, a responsabilidade diminui e voltam a residir sem os filhos.

Esse momento pode ser traumático para alguns pais e é chamado de síndrome do ninho vazio. Considerando o quanto isso pode ser desafiador, aponto aqui algumas sugestões de como lidar com esse momento:

A) Lembre-se que você não é só pai/mãe/responsável (usarei o termo pai para me referir a esses títulos de agora em diante): um filho pode ser uma dádiva, mas é um investimento, de muitos anos. Quando o investimento termina (porque se tornou independente), fica a sensação de que não se é nada além de um pai.

Redescubra os outros papeis que você ocupa, tanto profissionais como pessoais. Antes que você tivesse um filho, também era várias coisas (amigo, companheiro, esposo, filho, trabalhador). Ser pai é apenas uma parte de quem é.

B) Envolva-se em novas atividades: mesmo para pais que trabalharam durante a criação dos filhos, esses ainda eram responsáveis por inúmeras tarefas, seja marcar consultas médicas, fazer compras no supermercado, lavar as roupas, entre outras. Agora é possível que “sobre tempo”! Invista-o em coisas novas: cursos, exercícios, uma saída semanal com amigos. A ideia é estimular o aspecto cognitivo e desenvolver novas relações com o mundo que o cerca.

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C) Não sufoque seu filho: sair de casa é um processo difícil para ambas as partes. Alguns pais, na ânsia de não se sentirem sozinhos ou abandonados, se comportam de forma a diminuir a independência dos filhos, para que esses ainda precisem deles. Esse é um erro, muitas vezes inconsciente, mas que pode prejudicar tanto o processo de tornar-se adulto dos filhos quanto da descoberta de novos papeis para os pais. Disponibilize-se para ajudar, mas permita que eles o acessem.

D) Converse com seu filho sobre seus temores: Seja honesto sobre suas inseguranças e permita que seu filho o ajude a lidar com elas.

E) Procure ajuda: às vezes, pelo maior interesse dos filhos, os pais se negligenciam e sequer sabem o que fazer sem eles. Se esse for o seu caso, procure um psicólogo para lidar com esse momento e redescobrir-se enquanto pessoa. Seus gostos, preferências e sonhos precisam ser colocados sobre os holofotes para que você possa realizá-los.

Cada pessoa é única, então as dicas que apontei aqui são apenas isso: dicas. Analise e descubra quais delas podem ajudá-lo nesse momento. Lembre-se que somos todos humanos e é normal sentir-se receoso com esse novo desafio. O fato de seus filhotes saírem de casa não significa que você se tornou obsoleto, mas sim que será pai de outras maneiras.




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