Um dia alguém vai te pedir pra deixar rolar, e no primeiro momento, essa frase vai soar como algo doce e leve, você vai acreditar que isso não vai te machucar, até que de repente, você se vê a um passo a frente do outro. Você começa a sentir que está se envolvendo mais do que deveria, começa a perceber que os seus sentimentos parecem querer fugir de você, mas você insiste em deixar rolar, porque deixar as coisas rolarem parece despretensioso demais, e isso talvez, seja o que você esteja precisando no momento.

Algo sem cobrança, sem que você precise dar satisfação ou perca o seu tempo tentando esclarecer algumas coisas. Mas é justamente essa despretensiosidade que vai te dar uma rasteira, rir da tua cara e sumir com aquela pessoa da tua vida. Assim mesmo, de uma hora pra outra. E provavelmente isso vai doer.

Um dia alguém vai entrar na tua vida, vai te conhecer, dividir a cama com você, te levar pra assistir a um filme estrangeiro, te apresentar algumas bandas e falar sobre alguns artistas legais que você precisa conhecer. Um dia alguém vai te chamar pra sair, vai olhar pra tua boca e sorrir, e quando você questionar o porque dele está rindo, ele vai te responder: sei lá, o teu sorriso me trás paz. Um dia alguém vai ser o teu momento de paz, vai transformar a correria do teu dia em algo mais calmo, o teu final de semana mais sereno e um dia problemático em um dia que você vai resumir em uma frase: ”só você mesmo pra me fazer rir”.

Um dia alguém vai ser aquela pessoa que te faz bem, aquela pessoa que se torna o motivo pra você pedir conselhos aos amigos porque você sabe que alguma coisa vai dar errado, mas mesmo assim, a presença da pessoa te dá uma coragem que nem mesmo você sabe explicar. Um dia alguém vai ser aquela ligação no meio da madrugada, que você não atendeu porque chegou cansado demais do trabalho, mas de manhã cedo, ao abrir a caixa de mensagem, você vai ler: só liguei pra ouvir a tua voz, desculpa se te acordei. E isso vai te tirar um riso de canto.

É isso, um dia alguém vai ser o motivo do teu sorriso de canto, daqueles segundos que você se pega intacto enquanto admira o jeito que ele arruma o cabelo. Um dia alguém vai ser a razão pela qual você dorme tranquilo. Até que esse alguém some e se torna o motivo pelo qual você não consegue dormir direito.

Um dia alguém vai te abrir a porta do peito, te permitir entrar e quando você se sentir de casa – de uma hora pra outra – quando tudo parecer tranquilo, esse alguém vai te expulsar de lá, vai dizer que você precisa ir embora ou que talvez, não deveria ter te conhecido, que o erro foi vocês terem se aproximado demais, ou que, simplesmente acabou.

Alguém vai te fazer se sentir mais próximo, mais íntimo, conversar sobre politica, arte, música, filmes, tantos assuntos, mas de repente, esse alguém vai sumir da sua vida como se nunca tivesse sabido da tua comida preferida, da promessa que fez em assistir contigo as ultimas temporadas da sua série favorita, ou ultimo livro que você leu e indicou. Esse alguém vai deixar as suas mensagens pra depois, como se nada tivesse acontecido antes. Essa pessoa vai se transformar em um completo desconhecido que por pouco você conheceu e que talvez, fosse melhor nem ter conhecido.

Um dia alguém vai apresentar você aos pais, a tia que faz crochê, ao cachorro e até mesmo ao papagaio, vai dormir no teu colo numa tarde de domingo, talvez bata o cotovelo no teu rosto em alguma posição durante o sexo, e até te dê um abraço daqueles, como se tivesse te dizendo: por favor, não some da minha vida. Até que essa pessoa some da tua vida, te deixa sem respostas e te encontra em algum desses bares espalhados pela cidade como se vocês não tivessem tido absolutamente nada.

Um dia alguém vai te dizer: deixa rolar. Até que você percebe que se envolveu demais, fica sem saber o momento de sair fora e óbvio, se fode. Eu costumo dizer que todas as relações, até as mais rasas e essas que acontecem mas acabam como se nunca tivesse acontecido, nos ensinam alguma coisa. A gente aprende que deixar rolar, talvez não seja uma boa escolha, porque no final das contas as coisas rolam tanto que acabam se distanciando, e a gente nunca tem controle sobre isso.

A gente aprende que algumas pessoas vão sumir da vida da gente, é inevitável. E que, conhecer os pais, o cachorro, o sorriso, ou qualquer coisa que faça parte da vida de alguém não é um convite pra que a gente permaneça na vida dessa pessoa. E que entrar no coração de alguém não significa ficar na vida dessa pessoa, e que se sentir ancorado em um abraço, não quer dizer que você precise permanecer ali. Afinal de contas, os destinos mudam, as viagens acontecem, a vida segue e você, muito menos o outro, não foi feito pra ficar ancorado em alguém.

(Autor: Iandê Albuquerque)

(Fonte: iandealbuquerque)

*Texto publicado com autorização do autor.




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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