A famigerada maledicência, também conhecida popularmente como fofoca, é um dos problemas interpessoais e relacionais mais antigos que se tem conhecimento, sendo uma postura anti-ética e irresponsável. Por este motivo, é uma atitude que pode promover consequências funestas ou mesmo desagradáveis. A fofoca pode estar relacionada com a falsidade e a inveja e deste modo ser geradora de intrigas, conflitos e discórdia.

A fofoca existe desde tempos imemoráveis, quando o homem desenvolveu a linguagem, provavelmente no paleolítico. Sendo assim, o processo de comunicação não é só uma inclinação natural do ser humano, mas faz parte da sua natureza intrínseca.

Somos dotados de linguagem e esta obviamente nos permite estar sempre em comunicação, em interação, em socialização, em troca de informações, tendo como objetivo facilitar a nossa vida. Mas, até que ponto esta comunicação ultrapassa os limites da ética e do relacionamento saudável com os demais, chegando mesmo a desrespeitar os limites da integridade e da moralidade nos nossos relacionamentos?

Sócrates, um filósofo grego, explicitou em um diálogo, com um amigo, como podemos lidar de maneira inteligente com a maledicência. Neste discurso ele explica que toda e qualquer informação que nos chega deve passar criteriosamente pelos filtros da VERDADE, BONDADE E UTILIDADE, para que desta forma possa ser propagada.
Em outras palavras, a informação a ser passada adiante para outras pessoas deve:

1- Ser absolutamente um fato verídico, sem alterações ou deturpações ou interpretações subjetivas da realidade;

2- Deve ter como objetivo precípuo um ato de bondade, com o propósito de ajudar e servir o próximo, ou seja, que não almeje prejudicar ou manchar a imagem de pessoas, grupos, sociedades ou organizações;

3- E por último, que seja sempre uma informação obrigatoriamente útil para favorecer as pessoas e a comunidade;

A fofoca surge por motivos diversos: porque queremos ser aceitos em um grupo, porque queremos chamar atenção dos outros, por vingança, ciúme, ou simplesmente porque queremos “passar o tempo”. No entanto, o motivo principal é o de não termos objetivos definidos, ou seja, além de estarmos nos espelhando nos outros, estamos desocupados.
Então, quando estamos desocupados e insatisfeitos, sem objetivos e propósitos de vida, nossa auto-estima baixa e percebemos a vida do outro como mais interessante, dando espaço a sentimentos como a inveja e o ressentimento.

Como já relatei em outro texto, todos nós somos únicos e especiais. Ao observar a vida do outro, nossa vida fica esquecida, trava, não se desenvolve e nem prospera, já que não estamos focando nos nossos propósitos. Faça sua vida mais interessante, mais fascinante, pois você também possui muitas qualidades e recursos. Desenvolva-os.

A fofoca também tem outro ponto negativo: torna qualquer ambiente hostil, seja na vida pessoal ou social, pois ela fere o direito das pessoas, trazendo consequências negativas, algumas vezes irreparáveis. Todo mundo sabe como uma fofoca começa, dai ela vai se distorcendo, tal qual na brincadeira do telefone sem fio; com sedimentações de informações adicionais e distorções.

No final de tudo, ninguém sabe como se chegou a uma estória totalmente diferente e cheia de criatividade; Muito menos se sabe quem disse, quem inventou e propagou. A fofoca não tem identidade. Porém, certamente existem pessoas prejudicadas e com imagens manchadas, sendo difícil contornar a situação ou até mesmo revertê-la. Então, para que se envolver em situações infrutíferas ou danosas? Que tal ocuparmos o nosso tempo com algo que nos beneficie?

Devemos rever nossas posturas e valores, nos posicionarmos como pessoas de bem e para o bem, semeando sempre a concórdia e a paz, sendo instrumento de crescimento e bem-estar comum. Para este fim, precisamos filtrar os boatos, as informações que nos chegam, não interagindo com as fofocas e nem fazendo julgamentos precipitados. Utilizar sempre o filtro da verdade, bondade e utilidade. Se assim o fizermos, nos absteremos dos julgamentos precipitados, das antipatias infundadas e das aversões interpessoais sem critérios. (…)porque os outros disseram…(…)porque o outro fez isto ou aquilo, nesse “disse-me-disse” que não leva a nada de bom.

Acredito que devemos discutir idéias, propósitos, situações. Discutir sobre questões politicas e sociais, e não discutir sobre o comportamento direto das pessoas; pior, opinar sobre a vida delas sem ter consentimento das mesmas e sem acrescentar nada que as beneficiem. O mundo necessita de pensadores, de questionadores, de avaliadores, de pessoas que façam a diferença, que se preocupem com coisas essenciais, que promovam mudanças e que se preocupem com os outros de forma positiva e responsável.

PARA REFLETIR:
Como disse Freud: “Quando eu falo do outro, na realidade eu estou falando mais de mim que do outro.”

Não esqueça: é de uma pequena fagulha que se provoca um incêndio. Portanto, quando for emitir ou receber alguma informação não esqueça se você está utilizando os três filtros: VERDADE, BONDADE E UTILIDADE.




Psicóloga, escritora, Psicotraumatologista, Expert em Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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