Uma vez perguntei pra minha mãe se ela ainda amava o meu pai. Ela me disse que o amou muito um dia, mas pela insistência, o amor virou nada. Acho que ela quis dizer, quando o amor deixa de ser amor, ele apenas deixa de ser, não é mais, não acolhe, não cuida, não faz bem.

Ele vira alguma coisa perdida que não faz mais sentido sentir.

Consegue perceber o quão difícil é dizer que o amor por alguém que, um dia, foi o amor da sua vida, acabou? Foi foda ouvir isso dela e acredito que foi mais foda ainda pra ela chegar ao ponto de não sentir absolutamente nada mais pelo meu pai.

A gente nunca está preparado pra lidar com o fim. A gente não sabe lidar muito bem quando algo perde o sentido real. Então a gente insiste até o último milimetro de amor esgotar dentro da gente, até que já não suportamos mais olhar pra quem, em algum momento, nos fez sentir o amor. A gente só quer ir o mais longe possível, achando que o amor se mede pelo tamanho do caminho que percorremos, quando na verdade, o amor é sobre cuidar ainda que ele esteja ao teu lado, e não sobre se importar somente quando ele não está mais ali.

Já passei por uma relação da qual amei profundamente alguém e cometi o mesmo erro da minha mãe, insisti por achar que o amor significava permanecer, quando na verdade, faz mais sentido estar ao lado daquela pessoa ainda que vocês não estejam mais juntos. Porque o amor não é egoísta a ponto de você querer aquela pessoa pra si, sem se importar se você faz bem pra ela ou se ela faz bem pra você na completude que só o amor proporciona.

Eu sei o quanto é difícil você ver alguém que ama tendo a possibilidade de amar outras pessoas que não seja mais você. E por não saber lidar com isso, você prefere escolher manter o outro ali, porque não entra na sua cabeça a ideia de amar o outro quando não se está mais ao seu lado.

Quero te dizer que você vai entender o que é o amor quando precisar deixar alguém que ama pra trás, porque haverá a necessidade de partir e não há nada o que fazer, porque às vezes isso é a unica coisa que resta.

É extraordinário amar alguém ainda que aquela pessoa esteja em outros caminhos, em outro lugar, talvez até com outra pessoa. é um amor totalmente livre de egoísmo e desejos possessivos, é um amor libertário, você reconhece que o outro foi alguém capaz te amar e ainda que não esteja mais contigo, as lembranças boas ficam. Não é um amor traumatizante, é um amor feliz, desses que mesmo que a partida tenha sido dolorida, o sorriso continua no rosto pelos momentos que proporcionou.

Se você tiver a oportunidade de amar alguém, ame intensamente. Mas se perceber que não existe motivos pra ficar, não existe respeito, nem vontade, nem desejo, permita partir e deixar que o outro parta também. A insistência maltrata o afeto, o egoísmo apodrece o amor.

(Autor: Iandê Albuquerque)

*Texto publicado com autorização do autor.

 




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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