Estava atendendo uma adolescente no consultório quando ela comentou que se achava feia. Todo mundo já disse ou ouviu isso de uma mulher, então seu relato não me pegou de surpresa. De acordo com ela, ser gorda e baixinha a tornavam menos atraente que as colegas da escola e, também, que nenhum menino se interessava por ela. Enquanto falava, eu a observei. Não como terapeuta, mas como mulher. Ela era uma menina ainda, com um belo sorriso, cabelos longos, simpática, divertida e com um corpo ainda em formação. Para mim, não havia nada de feio. Era uma adolescente muito bonita.

Isso me fez pensar o que acontecia quando eu era adolescente. O modelo de beleza na época era representado pela atriz Juliana Paes. Morena, voluptuosa, com seios grandes. Basicamente tudo o que eu não era. Minhas colegas pareciam mais adequadas ao padrão do que eu. Então me sentia feia. E me senti assim durante muitos anos.

A diferença para o que acontecia comigo e com a minha paciente era o parâmetro. Agora, ser bonita é ser magra, mas não muito, com abdômen definido, cabelos longos e beijados pelo sol, pele e sorriso perfeitos. Ser linda é ser modelo da Victoria Secrets ou uma blogueira fitness.

As pessoas, e principalmente, as mulheres são bombardeadas pelo modelo ideal e o que devem fazer para buscá-lo. Conheço pessoas que se endividaram, porque gastaram o que não tinham em procedimentos estéticos e idas constantes a salões de beleza. Além disso, são tomadas de grande incerteza e insatisfação com quem são. E como não ficar? Cada olhada no espelho é um lembrete de quão imperfeita se é.

Quando a mídia apresenta possibilidades de ser como essas mulheres, a finalidade não fica clara. Na maioria das vezes, não se trata de saúde, nem de qualidade de vida. Mas sim da perseguição de um ideal. O problema com essa perspectiva é que ela muda o tempo todo e que qualquer um fora dela é inadequado. As meninas que eram consideradas lindas quando eu era adolescente, não são mais. Talvez se achem gordas ou bronzeadas demais. Daqui há cinco anos, talvez o padrão mude e as meninas que hoje são lindas, serão feias.

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Voltando a minha paciente, começamos a problematizar esse modelo que perseguia e abordamos como poderia se reconhecer fora dele. Por que o seu sorriso era feio por ser diferente? Por que ela tinha que embranquecer, se não havia nada de errado com sua pele? Por que ela tinha que emagrecer se não tinha nenhum problema de saúde? Não foi um trabalho de um dia só, mas aos poucos ela foi se reconhecendo enquanto uma bela adolescente. Com características únicas, com traços perfeitos por serem diferentes de qualquer um.

Como mulher, acredito que esse é um dos caminhos que podemos trilhar. Estamos reconstruindo padrões de beleza que abarcam as várias formas de corpos, de rostos, de cabelos, de ser.

Dentro de nós, é importante construir uma autoimagem a partir de quem somos. Sei que não é um exercício simples, mas há muito mais do que nos é apresentado. Se você não conseguir fazer isso sozinho, procure auxílio. Muitas vezes, nossos olhos estão “bloqueados” por crenças construídas a partir de uma realidade doentia.

Mesmo que algumas possam investir em tratamentos ou dietas, qual é o objetivo? Estar mais feliz e confortável consigo? Estar mais saudável? Ou caber num tamanho 34? Se for pelo último motivo, aconselho sinceramente que o abandone. Caiba no tamanho que quiser e que te torne feliz e saudável. Se isso envolver uns quilinhos ou pelos a mais, quem se importa?




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