Cheguei no meu limite quando peguei o telefone, liguei para o pai do meu filho e me estressei com ele de uma vez por todas. Quem diria que depois de longos anos de separação, eu me descabelaria diante do meu ex marido, nem que fosse pelo celular.

Eu explodi, fiquei de cabelo em pé e depois me deu uma sensação de impotência. Me senti em descompasso com meu filho adolescente que foi viajar sozinho para fazer vestibular seriado com a permissão do pai, enquanto eu estava de férias.

Filho adolescente tem seus contratempos com os pais, e pais sofrem de descompassos com suas miniaturas de adultos. Eles pensam que são adultos porque são grandes, o corpo está crescido, enquanto que a idade, a responsabilidade e a preguiça dizem não!

Me senti uma mãe ausente com a descoberta do episódio. O pai dele riu na minha cara quando disparei em tom de desespero: nosso filho não nasceu de chocadeira, muito menos de cegonha. – Cheguei no meu limite de paciência.

Depois daquele bafafá pelo telefone, eu quis chorar, confesso. E chorei de raiva, de indignação e, naquele momento de solidão, de vazio, de me sentir “cegonha”, me lembrei de uma frase do sermão do padre da última missa: às vezes deixamos o coração do lado de fora.

Meu coração naquele momento estava endurecido e o do pai do meu filho estava do lado de fora. Eram duas batidas distantes e com ritmos diferentes de ver a vida. Ele é o melhor pai do mundo, tenho que admitir, porque além de presente, é honesto e exemplo, mas estamos descompassados com nosso filho.

Somos diferentes, ainda bem e talvez a errada seja eu, sei lá! Perdi a paciência porque tive medo, medo de assumir que nosso filho já está crescendo e precisa aprender com a vida.

Ser pai e mãe, é o melhor presente de DEUS, talvez a missão mais importante para uma pessoa, e é uma responsabilidade exclusiva que carregamos para a vida toda. Chorei sim, briguei com o meu ex marido, fiz cenas no telefone e ele riu, porque me conhece muito bem e sabe o quanto sou agarrada às pessoas.

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Ele estava apenas tentando me mostrar que nosso filho precisa aprender a se virar no mundo, assim como um dia, ele e eu começamos a caminhar sozinhos. Mas, e como aceitar isso? Não é fácil!

Incomoda muito ver os filhos criando asas. Incomoda quando percebemos que aquele menininho ou menininha de antes, não precisa tanto assim de nós. Incomoda quando eles nos confrontam com sua necessidade de liberdade. Incomoda quando percebemos que eles estão, aos poucos, indo embora para estudar. Incomoda e dói ver a nossa cria se desgarrar.

Não consigo deixar o coração lá fora. Sou alguém que me envolvo em sentimentos. Não sei ignorar, me distrair ou até mesmo anular quando precisam de mim ou o assunto é delicado. E não conseguiria fingir ou inventar que está tudo muito bem quando meu filho ficou dois dias fora, em um hotel e com menos de dezoito anos. Foi demais para mim que sou mãe.

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Eu sei que muitas mães passaram ou estão passando pelo mesmo que eu, de não se adaptarem com seus filhos que estão se desgarrando. Não e fácil, é marcante. É estressante.

A gota d’água que faltava para transbordar me deu um banho para eu acordar. Descobrir a verdade, e ter a certeza que meu filho adolescente pode viajar sozinho, me fez chorar, porque daqui a pouco ele vai viver a vida dele. É preciso coração para aceitar as mudanças e frieza para encarar as situações, mesmo quando não concordamos, porque nascemos para criar asas e voar.




Simone Guerra é mãe, escritora, professora e encantada pela vida. Brasileira morando na Holanda. Ela não é assim e nem assada, mas sim no ponto. Transforma em palavras tudo o que o coração sente e a alma vive intensamente. Apaixonada por artes, culturas, línguas e linguagem. Não dispensa bolo com café e um dedinho de prosa.

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