A pandemia do coronavírus potencializa desafios com os quais lidamos diariamente, como pagar as contas e cuidar de dependentes, e introduz alguns novos, como a possibilidade de ficar doente ou perder entes queridos. Segundo o professor de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Wagner Machado, um cenário assim combina algumas das situações mais “estressoras”: mudança na rotina, perdas financeiras e tédio. Na esteira delas, vem o medo, ou melhor, vários medos.

Diante deles, as pessoas terão diferentes reações, como se deixar paralisar, negar a situação ou ainda se manter na expectativa de que a vida volte ao normal (e frustrar-se a cada semana que passa no distanciamento social). Para lidar melhor com o medo, Machado afirma que o primeiro passo é aceitar a situação de forma realista e o segundo, organizar um novo cotidiano que acomode, por exemplo, o home office ou as aulas à distância.

“O normal não existe mais, então a primeira coisa é entender que as coisas não vão acontecer mais como antes. Na minha casa, começamos a falar sobre a nova rotina, combinar medidas de higiene e tentar reduzir o ruído porque agora tenho que trabalhar aqui, por exemplo.” Wagner Machado

– Chamamos de adaptação da rotina. O normal não existe mais, então a primeira coisa é entender que as coisas não vão acontecer mais como antes. Na minha casa, começamos a falar sobre a nova rotina, combinar medidas de higiene e tentar reduzir o ruído porque agora tenho que trabalhar aqui – ilustra Machado, que é especialista em psicologia positiva, corrente que enfatiza a ideia da promoção de saúde ao invés do tratamento de doenças.

Preocupado com o bem-estar das pessoas durante a pandemia, Machado uniu forças com a psicóloga e professora da PUC-Campinas Sônia Enumo e três alunos para criar uma cartilha com dicas para enfrentar o estresse na pandemia (acesse aqui). A iniciativa já tomou outra dimensão: virou a força-tarefa PsiCOVIDa, reunindo mais de cem profissionais de 20 universidades de dentro e fora do país comprometidos a produzir conteúdo sobre temas específicos como violência doméstica e saúde do idoso em cartilhas, vídeos e podcasts.

Enquanto a academia se debruça na produção de conhecimento, uma onda de medo deságua nos consultórios. A psicóloga Lourdes Possatto, autora de Medos, Fobias e Pânico: Aprenda a Lidar com estas Emoções e Ansiedade Sob Controle – Resgatando a Autoconfiança, mora em São Bernardo (São Paulo). Ela conta que, quando o distanciamento que já durava 10 dias na cidade foi prolongado por mais 15, houve uma “pane” entre seus pacientes e leitores. Recebeu mensagens de pessoas chateadas e revoltadas, querendo sair de casa. Alguns que tinham parado de tomar remédio decidiram retomar o tratamento.

“O medo faz parte da natureza, é autopreservação. Sem medo, você se arrisca desnecessariamente. Um pouco vai bem, para ter cuidados básicos, prestar a atenção. Sentir medo não é anormal, mas só sentir medo é anormal.”
LOURDES POSSATTO, psicóloga

Lourdes faz questão de lembrar que o medo neste momento é natural. Ela frisa que o sentimento, por si só, não é negativo:

– O medo faz parte da natureza, é autopreservação. Sem medo, você se arrisca desnecessariamente. Um pouco vai bem, para ter cuidados básicos, prestar a atenção. Sentir medo não é anormal, mas só sentir medo é anormal.

Para a especialista, no meio de tantas informações sobre o vírus, as pessoas não sabem em quem acreditar, e essa incerteza generalizada semeia pensamentos catastróficos.

– Os próprios pensamentos negativos criam um quadro de histeria e pânico que causa problemas psicossomáticos. As pessoas tremem, perdem o sono, não conseguem fazer nada – detalha. – O cérebro não entende se é fantasia ou não, apenas que está acontecendo, então prepara o organismo para uma batalha. Hoje mesmo falei com uma mãe que teve falta de ar e um filho que passou mal.

Esses sintomas físicos integram a longa lista de reações ao estresse e à ansiedade, que incluem ainda sinais emocionais, como irritação e indiferença, comportamentais, como abuso de substâncias, e cognitivos, como dificuldade de se concentrar, entre muitos outros.

O maior objeto de preocupação dos psicólogos é quem já tinha transtornos de ansiedade e estresse antes da pandemia. Por isso, alertam que é importante procurar ajuda profissional. O atendimento online é prática comum entre os profissionais da área.

– O período atual está reforçando certos quadros já existentes. Alguém que já tinha TOC, que é uma válvula de escape para a ansiedade, está com essa condição exacerbada – exemplifica Lourdes.

(Fonte: gauchazh)
(Imagem: Engin Akyurt)

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