Sábado de manhã.

Você acorda cedo, resolve “gastar um tempo” no celular e pensa: “Vou ficar uns 30 minutos no Facebook”. Abre o aplicativo e, de repente, salta na tela o convite: o seu chefe do trabalho está pedindo para ser seu amigo no Facebook.

Quase que por instinto você se movimenta para aceitá-lo, mas pensa melhor: devo ou não devo aceitá-lo? Você lembra daquelas fotos postadas onde aparece bebendo com os amigos no bar. Todos muito doidos!

Lembra também daquele post onde você falava que precisava de férias urgentes para recuperar a energia porque não aguentava mais o trabalho. Isso sem falar nos comentários que você fez sobre as melhores empresas para se trabalhar e que seu sonho era trabalhar no Google.

Sábado à noite.

Aceita ou não aceita o seu chefe como amigo? Isso não sai da sua cabeça. Se não aceitar, vai ficar muito chato, né? Qual vai ser a desculpa?

Como explicar que você é amigo de vários colegas de trabalho mas não aceita o seu chefe?

Você se convence que tem que aceitar, até para o bem do seu relacionamento. Mas espera, se você aceitar, o que vai acontecer se no meio do expediente você escreve um post no facebook e o seu chefe olha?

Ele vai pensar que você não está trabalhando e está se distraindo durante o trabalho, vai logo falar em perda de produtividade.

Puxa, você vai ter que se controlar em tudo que escrever. Que chatice! Que cilada você se meteu! Você perde a vontade de continuar a ver facebook e deixa para decidir sobre o que fazer no dia seguinte.

Domingo de manhã.

Você abre o facebook e o convite do seu chefe ainda está lá. Você olha para ele e não sabe o que fazer. Tem uma ideia: o que será que seu chefe escreve no facebook?

Você vasculha e descobre que o seu chefe tem apenas três semanas no facebook… e não escreveu nada ainda, nem foto ou qualquer comentário. Ele está mudo. Será que ele entrou no facebook somente para fiscalizar os funcionários?

Domingo à tarde.

O seu chefe é legal, gente boa, mas você não tem muita intimidade com ele no trabalho. Você não costuma falar de assuntos pessoais com ele e nem conta confidencias.

É difícil imaginar o seu chefe vendo fotos de sua intimidade, seus momentos com amigos e os comentários engraçados e sarcásticos que muitos deles deixam em seu mural de atividades.

Não! Definitivamente você não pode aceitá-lo como amigo. Poderia ser constrangedor e até impactar negativamente a sua carreira. Então deixa para decidir depois.

Domingo à noite.

Mas, espera, você é criativo, bem humorado, é bem comportado no Facebook, ele vai ver que você tem uma vida pessoal saudável e uma família legal.

O seu chefe vai saber separar as suas opiniões pessoais do que os outros escrevem em seu mural. E pensa: ser amigo do seu chefe no facebook vai ajudar você a ter mais exposição com ele e mostrar coisas legais.

Quem sabe você pode passar a escrever coisas mais relevantes e até chamar a atenção do seu chefe?

Segunda-feira de manhã.

Você chega no escritório. Passa na frente da mesa do chefe. Ele olha, sorri e dá um aceno de bom dia. Você senta em sua mesa, pega o smartphone e aceita o seu chefe como amigo.

Essa história é uma ficção, mas comum a um grande número de trabalhadores que passam por situação similar diariamente. A conversa de ser ou não ser amigo do chefe no Facebook já é algo corriqueiro no ambiente de trabalho. Muitas vezes a iniciativa parte do chefe, outras vezes é o funcionário que dispara o convite para o chefe.

O Brasil é país mais ativo no Facebook, e o dilema acontece de forma muito mais contundente exatamente nessa rede social, que é uma rede com claros propósitos pessoais. O LinkedIn tem uma pegada diferente, lá a exposição é profissional e criar conexões profissionais é sempre visto como uma ação positiva. O Twitter parece não sofrer este tipo de análise.

Uma pesquisa feita no ano passado mostrou que os brasileiros pensam diferente do resto do mundo em relação a amizades com colegas de trabalho e chefes no mundo virtual. 41% dos brasileiros se sentem a vontade para ter o chefe como amigo nas redes sociais, enquanto que a média mundial é de apenas 19%. Sobre ter os colegas de trabalho como amigos, os números são ainda maiores, 51% para os brasileiros e 25% para o resto do mundo. A pesquisa foi feita pela Robert Half junto a 1.775 líderes de Recursos Humanos em 13 países e grandes centros.

Um outro estudo mostrou que cerca de 25% dos jovens no mundo entre 18 e 25 anos já são amigos de seus chefes na rede social. E a maioria dos entrevistados disse que não se preocupa com o conteúdo publicado nos perfis. 60% dos jovens que são amigos virtuais de colegas de trabalho não restringem o conteúdo para eles.

A decisão de aceitar ou não aceitar o seu chefe como amigo no Facebook não pode ser algo emocional, deve ser algo racional, onde a decisão poderá causar impactos no relacionamento entre ambos e até em sua carreira profissional. Existem alguns pontos que merecem análise e consideração. Coloque-os na balança para que a decisão faça sentido.

Vale a pena ser Amigo do seu Chefe no Facebook:

1. Se você já tem um bom relacionamento com ele, compartilha informações pessoais e tem até alguns interesses similares fora do ambiente do trabalho;

2. Se seu chefe já é amigo no Facebook de colegas no trabalho, ou seja, já rola um ambiente online colaborativo entre todos;

3. Se seu chefe é usuário ativo no Facebook, valoriza o mundo online, compartilha opiniões e mostra que não está lá para fiscalizar, mas sim para compartilhar;

4. Para que você conheça melhor o seu chefe fora do trabalho, conhecer suas predileções, expectativas e características pessoais. Isso vai ajudar a melhorar seu relacionamento com ele;

5. Para que ele conheça melhor você, saber de seus interesses pessoais e profissionais, constatar que você é um cara bacana e com bons propósitos.

Se você já é amigo do seu chefe no Facebook, pode valer a pena:

1. Postar algumas coisas para que sinalize a ele seus objetivos de carreira, aspirações e desejos profissionais. Seja sutil, afinal de contas todos estão vendo, mas deixar alguns rastros pode ser uma boa;

2. Compartilhar a sua criatividade, coisas interessantes que toquem em sua área de trabalho e que reforcem seu conhecimento;

3. Ser bem humorado. Todos gostam de pessoas otimistas e de bem com a vida.

Mas…

1. Cuidado com o você posta;

2. Não faça reclamações sobre a empresa, salário e carreira nas redes sociais. Este não é o local correto para isso. E nem seja irônico;

3. Ahhh… e não vale falar mal também da ex-empresa ou do ex-chefe;

4. Não mostre intimidades e nem informações muito pessoais. Se este é o caso, então mantenha a sua página no Facebook apenas conectada com sua família e amigos íntimos;

5. Não seja polêmico ou irônico sobre assuntos sensíveis, especialmente aqueles que dizem respeito a preconceitos e tabus da sociedade. Isso pode ser um tiro no pé.

6. E, nunca, jamais, bajule o seu chefe virtualmente, ou você vai querer ficar conhecido com puxa-saco virtual do seu chefe?

E, não esqueça, você é um ser humano único. No mundo das redes sociais, onde a transparência é completa, não existe mais fronteiras entre o lado pessoal e o lado profissional. É tudo uma coisa só. O que você faz lá bate cá e vice-versa.

Enfim, no mundo digital você é que você publica.

(Autor(a): João Pedro Braconi (JP))
(Fonte: resilienciamag.com)




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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