Hoje presenciei uma cena triste: uma jovem teve um surto dentro do mercado. Começou a discursar sozinha e, de repente, passou a dar socos no caixa eletrônico. Me perdi naquele episódio. Uma moça bem vestida, boa aparência, uns vinte e poucos anos. No mesmo instante inúmeras hipóteses passaram na minha mente: está usando drogas, está enfrentando problemas, simplesmente enlouqueceu… Seja o que for, nunca saberei.

Foi triste de ver! E mesmo desconhecendo as suas razões, aquilo me marcou. E comecei, então, a observar as pessoas ao meu redor. Fui para casa e, dirigindo, observava cada alma que cruzava meu caminho. Perguntava mentalmente: o que se passa com essa pessoa ali? E com aquela lá? Sem me dar conta, estava a analisar as pessoas da rua. Até que, num semáforo, parei. Pois bem na minha frente atravessou um senhor de barba branca e comprida, apoiando-se em um galho de árvore e com uma sacola de pano na cabeça fixada por um cinto.

Certamente pensava ser o Gandalf, do filme ‘The Hobbit’. Fiquei intrigada: quando foi que essas pessoas perderam a sanidade e, sem perceber, passaram à insensatez? Afinal, qual é a medida da loucura? Minha ficha caiu. A linha entre a loucura e a lucidez é muito tênue. Veja você, essa moça do mercado e esse senhor na rua: sequer perceberam que não estão mais de posse de suas plenas faculdades mentais. Estão vivendo de acordo com a lógica de suas maluquices, sem compreender que a realidade dos sãos não mais lhes pertence. Não se veem em desatino. Não têm consciência da sua loucura. Vivem uma ilusão. E pior: acreditam nela!

De repente, fiquei com medo. Medo de enlouquecer. Ou de já estar louca e não saber! Respirei fundo e segui em frente. Afinal, ainda lembrava o rumo de casa. Ufa, cheguei! Senti um certo alívio por chegar. E cá com meus botões, me pus a refletir: Quantas vezes nós, lúcidos, nos iludimos? Quantas vezes, por razão ou outra, acreditamos em verdadeiras quimeras, como se fossem reais? Não seríamos, então, todos nós, humanos, um pouco doidivanas?

Quantas vezes acreditamos numa mentira pelo simples fato dela estar sendo contada por nós próprios? Nem tudo o que sai da sua boca é real. Nem tudo o que você escuta é real. Nem tudo o que seus olhos veem é real. Nem tudo o que você PENSA é real.

Pare e responda: qual é a medida da sua loucura? Não sabe dizer, não é… Então, meu amigo, só há um jeito: antes de chamar alguém de doido analise-se, pois o louco pode ser você!

Imagem: Paolo Nicolello

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