Não sabemos se temos medo da morte ou medo de deixar esses amores que colhemos pelo caminho.

Triste não ouvirmos mais aquela música deliciosa, triste não vermos o entardecer, triste nos despedirmos da brisa, da lua, do sol, dessas delicadezas que trazem vida pra nossa vida.

Morremos, independente da previsão do tempo, da previsão do outro, em dias de transito caótico, em frente ao mar, entre as árvores. Morremos fazendo a barba, fazendo amor, fazendo comida. Morremos, também, no meio de um filme, de um livro, de uma conversa.

Nossos planos futuros nem sempre acontecerão. Aguardamos o amanhã para viver o nosso hoje. Aguardamos um grande amor, que nem sempre chega, para entender de abraços, beijos e carinhos.

Aguardamos o emprego ideal para realizarmos o nosso melhor. Nós e nossas esperas…viver vai se delineando em esperas e pausas, como se o tempo fosse um senhor adormecido.

E a vida, essa criança que engatinha, anda e corre, vai brincando de esconde-esconde com nosso jeito de sonhar. Presos aos nossos medos ficamos engaiolados, com medo de voar, medo de encontrar no percurso nossas imperfeições e enganos, sim, nossas rejeições, aqueles nãos redondos e enormes, monstruosos, que tiram o sono, a fome e a paz.

Falta desligarmos parte de nossas expectativas e simplesmente sermos. Amar, muito, quem fica e quem vai embora, porque são partes nossas, amar, quem nos visita, ter olhos para o café quente e a conversa, boba, tola e, por isso, deliciosa, priorizar o que nossos olhos alcançam, a cama estendida cheirando cuidado, as flores, o entardecer, o vento no varal, a vida pequena, cotidiana, linda, o bom dia…

(Imagem: Silvestri Matteo)




Psicóloga Clínica Especialista em Família pela PUC SP, especialista em Luto pelo 4 Estações Instituto de Psicologia SP.

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