Pode parecer teimosia e até arrogância, mas, muitas vezes, as pessoas não conseguem aceitar seu ponto de vista porque não são seguros o suficiente sobre as suas próprias ideias e, quiça, até sobre sua própria pessoa. É como se um ponto de vista diferente arruinasse toda a verdade de suas vidas.

Por não aceitarem sua limitação sobre certos assuntos, tendem a se acharem as donas da verdade, confeccionando leis, regras e argumentos para sustentarem aquilo que talvez nem elas acreditem tanto.

Então vira um embate cuja preocupação é sair vitorioso. A verdade dos fatos acaba ficando em segundo plano. O que conta é ser o mais sabichão. Mesmo que na discussão haja uma vitória, na intuição a derrota é grande porque em diversas ocasiões as sensações explicam aquilo que as palavras são incapazes de formular.

Para isso elas sobem o tom, ficam agressivas e ofendem com rótulos incoerentes que ultrapassam os limites do bom senso ou até nem fazem sentido, mas são uma força na hora de fazer você mudar de ideia, porque a gente se sente culpado e constrangido diante da agressividade do interlocutor e do grupo que nos encaixam por nossas ideias sem que, de fato, façamos parte dele. Tem horas que nem temos tempo de ponderar sobre as barbaridades que dizem na nossa cara só para não estarem errados e, assim, acabamos por ceder e sair derrotados dessa insensata discussão em busca de quem é falsamente o melhor e não do que está realmente acontecendo.

As pessoas ignoram a verdade para estarem certas. Algumas até mentem ou inventam argumentos. O que é surreal, como se ganhar uma discussão fosse algo relativamente importante para se gastar tanta energia. Pior que no fundo é isso mesmo. Para aquela alma pobre que se acha muito pouco, o bate-boca pode ser o único tipo de vitória que consegue ter nesta vida. Não exatamente porque sejam incapazes, mas porque acreditam que não têm valor. Então, estar certo fica mais importante do que ter caráter e falar a verdade.

E se alguém não cede, as ofensas crescem. Envolvem amigos, a namorada e quando chega na mãe, é bem provável que se parta para a agressão. Entre mortos e feridos, entre amizades abaladas ou terminadas, fica tão sem importância saber qual time é melhor, que a religião está certa, se aquele político é a vítima ou o vilão ou se o ovo veio primeiro que a galinha.

Precisamos ter maturidade para saber pelo que discutir. Família, valores, talvez sua própria moral até possam valer a pena ser defendidas. O resto não vale um pingo de estresse porque o mundo é feito de opiniões diferentes de seres humanos que sabem muito pouco sobre o que de fato acontece no mundo ao seu redor.

Cada um tem uma realidade dentro de si, por isso cada ponto de vista envolve a história da pessoa, a forma como ela sente e vê as coisas e aquilo que ela deseja acreditar, e, pasmem, é possível existir opiniões contraditórias coabitando esse universo ao mesmo tempo. Só precisamos relaxar e entender que a verdade do outro é apenas o ponto de vista dele, não a verdade do mundo, assim, como a nossa também. Em realidade, é bem difícil achar nesse populoso planeta duas pessoas com opiniões exatamente iguais sobre determinado assunto.

Então, quando encontrar alguém que contrarie o verde, sua cor favorita, insistindo que o vermelho é mais bonito, olhe para essa pessoa e com um carinhoso sorriso diga: Tudo bem. E, talvez, a sua postura cheia de confiança faça ela repensar a própria cor predileta. Mas o mais importante é que você seguirá livre, leve e solta, com sua autoestima nas alturas e cheia de si sabendo que a sua verdade pode não ser a verdade do mundo, mas é aquela que move a sua vida. E isso basta.




"Luciano Cazz é publicitário, ator, roteirista e autor do livro A TEMPESTADE DEPOIS DO ARCO-ÍRIS." Quer adquirir o livro? Clique no link que está aí em cima! E boa leitura!

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