Foi quando te vi pela primeira vez, tomando aquele suco de laranja para não precisar olhar em seus olhos, e mantendo dentro de mim aquela incerteza se você gostaria de me ver de novo ou não. Ou talvez tenha sido depois.

Foi em nossa primeira discussão, que já nem lembro mais o motivo, mas me recordo claramente do nosso encontro no meio da madrugada para fazermos as pazes, pois esperar até nos encontrarmos de novo era um tempo muito distante. Ou talvez tenha sido depois.

Foi quando descobri que você era tão compreensivo, como aquela vez que meu carro quebrou, também no meio da madrugada, a noite sempre foi nossa cúmplice não é mesmo? E você ficou comigo até o guincho chegar jogando conversa fora e eu preocupada que você teria de acordar para trabalhar dali poucas horas. Ou talvez tenha sido depois.

Sim, foi quando me contou que não estava aqui para ficar. Que me enganou de maneira tão esperta e esperou eu ser inteiramente sua para me contar que nossos anos juntos eram, na verdade, meses. Ou talvez depois disso.

Quando a saudade era tamanha que os dias que não nos víamos ficavam cada vez mais curtos. Ou talvez depois.

Quando percebi que não tinha resposta para sua pergunta sobre o que faria quando você fosse embora. A vontade era responder que não saberia quem eu seria sem você ali. E se você fosse o pilar que estava me sustentando?

Quando percebi que talvez, só talvez, você fosse o primeiro com que eu realmente tivesse certeza do que eu sentia. Já que fazia anos que não sabia o que era sentir algo tão forte por alguém.

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Engraçado, eu que sempre achei que os anos eram imprescindíveis para se amar alguém, descobri que o tempo é simples e facilmente descartado quando estou com você, tão pouco tempo e um sentimento tão sólido.

Foi quando me dei conta do quão tranquila consigo ser ao seu lado e do quão segura me sinto com seus abraços e beijos carinhosos.

Talvez tenha sido naqueles dias em que eu te olhava quando você não percebia e me dava conta de como, se houvesse tempo, eu seria feliz ao seu lado, para sempre.

Talvez tenha sido na última semana juntos.

Ou naqueles últimos dias em que os abraços ficaram mais apertados. E que o tempo, antes simples, se tornou nosso mais valioso vilão.

Foi na despedida, no ar que todo aeroporto exala, entre os cheiros de encontros e despedidas, entre a voz robótica no alto falante soando como alarme para nossos ouvidos, entre as idas e vindas de tantas pessoas e tantos destinos, e entre tudo isso, eu e meu nervosismo, quando não conseguia te olhar nos olhos, expressar qualquer comentário supérfluo ou prestar atenção na sua conversa, pois meu único mantra era não desabar enquanto você estava ali de frente comigo.

Talvez tenha sido depois.

Foi quando dei as costas sem saber quando iria sentir seu rosto perto do meu novamente.

Ou foi ao entrar em casa e abraçar seu travesseiro com seu cheiro e finalmente desabar?

Foi ali? Ao sentir que o mundo estava caindo e que para me salvar precisava abraçar fortemente o cheiro seu que já não estava mais ao meu lado?

Não, não. Foi antes.

Dei seu nome a minha saudade parada em frente ao embarque daquele aeroporto, te segurando forte em nosso último abraço. Sim, foi ali. Bem ali, naquele último abraço.

Naquela despedida desengonçada, sem saber se queríamos nossos beijos apaixonados ou nossos abraços seguros, se queríamos passar a mão em nossos rostos para guardar a textura da pele ou se nos abraçávamos pela cintura como um pedido secreto para não nos deixarmos.

Foi bem ali, abraçada a ti, sentindo teu cheiro pela última vez, olhando teu rosto pela última vez, antes que o buraco do embarque temporal te levasse para longe de mim. Foi naquele gesto de virar as costas enquanto você sumia de vista e sentir o peito afundar contra as costelas e o que chamam de a dor da alma florear por todo o corpo.

Minha saudade ainda tem seu nome, carrega seu cheiro, sua fisionomia, seu sorriso, riso, seu olhar. Ela carrega nossas memórias, dorme ao meu lado como se fosse você, me acorda com a brisa da sua lembrança e me atormenta com a ânsia dos meses que passam tão lentamente. Até o dia que te abraçarei de novo no aeroporto e, enquanto me extasio com sua presença, essa saudade pegue algum voo e vá tirar férias.

Via nosso site parceiro Deu Ruim

Autor: Roh Dover




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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