– Boa noite, qual seu pedido?
– Oi… eu quero um romance, por favor.
– Romance tá em falta. Mas “uma noite só” tá saindo muito.
– Ah, não. Cansei desse. Já tem paixão à primeira vista aí?
– Você sempre pede esse, sabe que saiu de linha.
– Custa nada tentar, né? haha. Bem, me vê um… o que é esse “louca dos signos”?
– Nem ela se entende, a gente também não tenta entender.
– Ok… então vou ficar com um “namoro que dura 1 mês”.
– Mais alguma coisa?
– Esse vem com carinho, né?
– Sim, e na versão Premium apresentar pra família e pros amigos é opcional.
– Ótimo. Porque apresenta pra mãe, a mãe se apega, depois termina… mó dor de cabeça.
– É. Mais alguma coisa?
– Só isso, obrigado.
– Crédito ou débito?
– Põe na conta que pago depois, mês que vem tô aqui de novo.

Por mais incrível que pareça o diálogo acima não é real. Ainda não existem lojas que vendem relacionamento.

Espera, não existem lojas que vendem relacionamento?

Qual a diferença entre o Tinder e o iFood? Atualmente os dois oferecem as mesmas coisas! Com a diferença que o iFood entrega em casa, no Tinder você tem que negociar essa parte. Sinceramente, um gasto a mais de energia. Prefiro iFood.

Leia mais: Os relacionamentos nas redes sociais

E quando é que chega o Uber dos relacionamentos? Depois do UberX e UberBlack vem o UberSex?

“Quero ir da Barra da Tijuca pra Copacabana… Posso pegar um UberSex aqui e me pego com alguém no banco de trás até lá.
Opa! E dá pra dividir a corrida. Perfeito. Chamei.”

Pensando bem a ideia nem é ruim. Fica a dica aí, Uber.

A gente vive numa época que os apps facilitam nossas vidas. Os apps mudam a gente e nós mudamos os apps, funciona assim.
Mas nisso nós mudamos nossos próprios hábitos, apegos e expectativas. E consequentemente mudamos a forma com que nos relacionamos com as pessoas.

Leia mais: Somos a geração que não quer relacionamentos

Se isso é bom ou ruim é altamente discutível. Já ouvi argumentos defendendo os dois lados e concordei um pouco com cada.

Mas toda essa mudança parece criar uma cultura do desapego. Onde o legal é não se abrir pra ninguém. A moda é colecionar relacionamentos de 15 minutos. A competição é a de quem demonstra se importar menos. E no final estamos todos sozinhos postando mentiras felizes no Facebook.

Não digo que só dá pra ser feliz estando com alguém. E nem critico relacionamentos rápidos (que sejam sinceros). Eu apenas sempre achei mais legal ter 4 moedas de R$0,25 do que 100 moedas de R$0,01. Cabe melhor na carteira, toma menos espaço e cada moeda dura mais.

Só não entendo e não concordo com a rotina atual:

  • Em 2 dias começa um namoro.
  • Em 5 dias já posta amor eterno.
  • Em 10 dias planos de casar e nome dos filhos.
  • Em 15 dias te chama de babaca.
  • Em 17 dias baixa o Tinder de novo.
  • Em 18 dias dá match com outra pessoa.
  • Em 20 dias a primeira traição.
  • Em 30 dias acabou a relação.

As pessoas estão digerindo umas às outras como fazemos com fast food. Tem que ser rápido, expresso, empacotado, fórmula exata, sabor forte. Tem que ser conveniente, sem esforço, sem pensar, sem cuidado. Tem que terminar logo, pensar na próxima, andar a fila.

Mas, hey! Fast food não mata a fome, só engana a vontade de satisfação. Um relacionamento fast food não te completa de amor, é só você enganando um vazio que vai voltar.

Fast food é bom de vez em quando, sim. Mas se fizer disso uma rotina ou um estilo de vida, só vai te prejudicar.

Leia mais: Não quero um amor meia boca

Ainda há quem prefira comer com calma. E espero que todos cheguem à esse ponto. Sentir todos os sabores, do mais delicado ao mais intenso. Planejar o cardápio, planejar o local, criar boas expectativas.

Aproveitar o momento. Aproveitar a companhia. Como se aquela fosse a melhor coisa que você já viu na sua frente.

Sem pressa. Degustando a pessoa. Sem fast. Só food.

(Autor: Hudson Baroni)
(Fonte: deuruim.net)
* Texto publicado com a autorização da administração do site




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

2 COMENTÁRIOS

  1. O que realmente quero dizer aqui é:
    Lindo pensamento,linda forma de expor esses pensamentos sobre uma cultura que estamos presenciando hoje em nossos jovens e principalmente em nossos adolescentes,e sabe o que mais é triste?é saber que as pessoas que vivem dessa forma acham que essas atitudes as fazem bem,as fazem pessoas melhores quando na verdade estão se destruindo por dentro cavando um buraco cada vez maior.Acredito eu que a psicologia nunca foi tão requisitada quanto nos dias de hoje.Belo texto,parabéns.

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