Alguns dias são mais difíceis que outros, concorda? Na segunda acordamos dispostos, felizes, com o sol brilhando num céu azul, o tanque de combustível do carro lotado, e nossa música favorita toca na rádio já cedo. Ao chegar ao trabalho, descobrimos que o chefe está de bom humor, e que a mocinha da recepção trouxe bolo para toda a equipe. Então, ao retornar para casa, pegamos uma brisa que refresca a pele e o banho renova nossas energias antes de dormir.

Então vem a terça. E a gente já acorda com o cachorro latindo para o gato do vizinho, e ao tentar dizer para que os latidos parem, percebe que a garganta arruinou depois daquele sorvete do fim de semana. Então, após um remedinho vem à indisposição em trabalhar, e parece que a cama diz ‘fique aqui comigo, não vá trabalhar hoje’. Ao girar a chave, o carro não responde, e você se lembra de que devia ter abastecido, mas acabou deixando quieto para chegar mais cedo em casa. E após ligar a uns 5 colegas pedindo carona e descobrir que todos já chegaram aos seus respectivos trabalhos, vê-se na dependência do ônibus que constantemente se atrasa.

E então, chega com um pequeno atraso de 32 minutos e vê pelo vidro a cara de ‘não gostei disso’ do chefe, e percebe que fez o favor de esquecer a marmita em casa. Pronto! Não são nem 10 horas da manhã e aparentemente seu dia já deu errado.

É incrível a capacidade do universo de alterar o cenário ao nosso redor em tão pequena questão de tempo, não? Há até quem diga que quando tudo está muito bem, algo ruim está por vir, e aos adeptos desta frase limito-me a um “misericórdia!”, em alto e bom som.

O que me chama a atenção é o fato de nunca ter ouvido o contrário desta frase. Nunca, seja numa conversa casual, num desabafo ou até mesmo numa destas frases que a gente pega no ar ao sentar-se próximo de pessoas que estão conversando sobre um assunto qualquer… Nunca, eu nuca ouvi alguém dizer que se tantas coisas difíceis estão acontecendo, com certeza algo muito bom está por vir.

Pensando sobre isso percebo como é curiosa nossa mania de viver as alegrias apenas enquanto a nosso ver elas estão existindo, porém as tristezas, vivemos, revivemos, sobrevivemos, e ainda dividimos com outras pessoas em forma de relato.

Bom seria se tivéssemos o costume de ao tropeçar na rua lembrarmos de que só tropeçamos porque afinal, podemos caminhar, enquanto há quem esteja acamado num leito de hospital. Mas não. Automaticamente eu e você lançamos ao culpado pelo tropeção – vulgo chão – mil e um xingamentos informando-o de que estamos atrasados, ou com dor na perna, ou já tivemos um dia estressante e além de tudo, ainda nos vem mais essa! Ora, pois, afinal, porque o chão não colabora, não é mesmo?

Infelizmente costumamos rir da mesma piada no máximo duas ou três vezes, mas nossos choros se perpetuam por dias, meses, anos, e insistimos em reviver a dor do momento tantas vezes quanto julgarmos necessário. Apreciamos o perfume de uma flor apenas ao ganha-la, mas, ao perceber que suas pétalas estão secando, prestes a morrer, então queremos insistentemente reviver o cheiro que antes pertencia àquela pequena forma de vida.

Precisamos aprender a viver, reviver e se preciso for, dar replay em nossas alegrias, antes que elas tornem-se apenas saudade do que já foi. É importante ao nosso bem-estar e à sanidade mental darmos muito mais importância ao que nos fez vibrar ao invés de desperdiçar nossas horas lamentando o que não ocorreu conforme o planejado.

Quando optamos por insistir em todos os dias retornar às lembranças e momentos ruins, mesmo que estes tenham durado apenas alguns segundos, nossos corações enchem-se de dores e mágoas, e isso pouco a pouco vai apagando nosso brilho, e diminuindo o sorriso, e fazendo com que aparentemente tudo ao nosso redor seja ruim. E a gente não consegue compreender que o problema não está no colega, nem no ex-amor, nem no emprego, nem em nenhum fator externo. O problema está em nossa maneira de enxergar o mundo e de ao invés de agradecer pela vida, desvalorizá-la.

Vamos viver mais, vibrar com mais intensidade, agradecer pelo pão, cantar uma canção e mesmo após um maremoto, continuar. Deixar para trás o mal vivido, e dar o verdadeiro perdão. Vamos aprender com nossos erros, e não mais repeti-los, sabendo que nem todos os comportamentos agregam. Vamos sorrir mais, e verdadeiramente querer o bem.
Quando finalmente percebermos o que podemos mudar em nós, sem sombra de dúvida os fardos da vida se tornarão mais leves, e os dias mais difíceis serão apenas isso: dias difíceis, que apesar de parecer longos, tem fim.




Há quem diga que os olhos são a janela da alma, então, no meu caso, eles são uma janela bem grande e aberta. Amante das artes, do universo e das palavras, necessito de música para viver, dos astros e estrelas para pulsar e dos versos para existir. A publicidade me escolheu; por isso anuncio paz, promovo sorrisos e transmito intensidade. Sou colunista do Fãs da Psicanálise.

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