Quando perdemos alguém as datas comemorativas são difíceis.

A saudade aperta e a vontade de estar perto, fisicamente, parece que é elevada à potência mil.

Com o Dia dos Pais chegando, convidamos algumas pessoas a contar uma boa notícia para seus pais ou filhos que já partiram.

Escrever para eles pode ser uma forma de se sentir pertinho e a boa notícia traz um pouco de leveza e quentinho no coração nessa data tão simbólica.

Se nesse Dia dos Pais você pudesse contar uma boa notícia para o seu pai/filho que já partiu, o que você falaria?

Pai, a primeira boa notícia que tenho para te dar é que o projeto que fiz com as meninas, o Vamos Falar Sobre o Luto? está dando super certo. Ele tem sido uma importante fonte de inspiração, reflexão e conforto para muitas pessoas.

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Eu aprendi e cresci muito com isso e nesse 3º dia dos pais sem você me sinto mais forte e com um sentimento de gratidão maior do que o de tristeza. Claro que o vazio é grande, você faz uma falta danada por aqui. A saudade que sinto de você é do tamanho do meu amor, gigante.

A outra boa notícia é que esse ano te homenageamos como pai e avô. Simmm, sua tão esperada neta chegou! A Lorena. Ela é linda e, como prometido pelo André, São Paulina. Eu sou a Dinda dela e estou completamente apaixonada pela pequena. Vou contar para ela todas as suas histórias e, com certeza, o vovô Sergio terá uma cadeirinha cativa em seu coração. Feliz dia dos pais meu herói. Te amo loucamente.

(Amanda, filha do Sergio)

Bigodinho, você várias vezes me dizia que eu não tinha a mínima ideia do quanto dói uma saudade. Quis a vida que fosse a sua partida que me mostrasse essa dor. Até na sua morte você continuou me ensinando. E a sua ausência se tornou meu treino diário de viver, sentir, sofrer e transformar o luto em luta.

Quando uma perda acontece com um insubstituível, o mundo da gente para por um tempo. E é difícil encontrar boas notícias durante esse período. Quando você morreu, eu tinha a certeza de que passaria todos os Dia dos Pais arrasada. Mas a vida tinha um pequeno-grande plano para a minha tristeza.

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E o sol da minha vida nasceu na noite anterior ao meu primeiro Dia dos Pais sem você, bigode. A neta que você tanto quis conhecer, Marina. Minha sobrinha será enquanto eu viver a minha boa notícia de Dia dos Pais. E eu agradeço à vida por me dar amor em forma de cachinhos e malandragem quando eu e minha família mais precisávamos. A boa notícia que posso dar para quem não tem o pai ao lado nessa data é que a dor, um dia, vira saudade, exatamente como você me falou que aconteceria, pai.

(Lara, filha do Helio)

Oi Pai!

Depois de quase 5 meses que você se foi vim aqui para te trazer boas notícias. Aposto que você deve ter ficado bastante preocupado em ter que ir embora e deixar sua família como estava: Eu grávida de 6 meses, meu marido sem emprego, a mamãe que dependia de você desamparada e meu irmão longe da família.

Pois quero te dizer que desde sempre esse bebezinho foi o maior incentivo para que eu e todos aqui ficássemos positivos e cheios de fé a cada dia que tudo iria melhorar. Assim fomos até o dia em que ele chegou nesse mundão, super saudável, grandão e quase carequinha. Hoje com 2 meses ele é o bebê mais feliz e risonho que já vi! Você iria amar ouvir as risadinhas… É o melhor som do mundo!

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Seu genro está trabalhando e lembramos muito de você quando ele recebeu a proposta; para sempre se valorizar e se posicionar como o bom profissional que é. A mamãe você sabe, é batalhadora! Além de cuidar de todos nós ela está trabalhando na cozinha sem mim para nossa empresa e para outras também. E por fim meu irmão. Ele aprendeu muito com tudo isso que te aconteceu tenho certeza. E ele está bem e louco pra conhecer o sobrinho. Assim que tirar férias vai correr para cá.

Olha pai, neste primeiro dia dos pais sem você quero dizer que pode ficar tranquilo pois seu netinho vai te conhecer e saber de todas as suas aventuras. Vamos contá-las com muito amor e tenho certeza que ele vai ter muito orgulho de você como todos nós sempre tivemos.

Deus te abençoe onde quer que você esteja, fique bem e muitos beijos.

(Juliana, filha do Ciro)

Oi, Pá.

Nossa! Pra mim, que falava todos os dias com você, não vai ser fácil contar as novidades destes quase 2 anos e 7 meses em poucas linhas, mas vou tentar…

Pra começar, seus 3 netos estão demais! 3 personalidades diferentes, 3 figurinhas: Felipe tagarela, inteligente e enorme, ele sente sua falta.

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Vitor sossegadão, a cara do Ricardo… fofo demais! E o Lucas cada vez mais esperto, engraçado e lindo (lógico que eu ia falar isso, né?! Afinal de contas, ele puxou pra mim ahahaha). A prova disso é que ele já começou a usar óculos, pai, você acredita?! Quando ia fazer 3 aninhos!!! Mas está ótimo, você ia amar o óculos dele! E por falar em óculos, eu consegui operar da miopia! Meus quase 10 graus não existem mais! (sei que esta cirurgia sempre foi uma vontade sua e da mãe, desde quando eu era pequena, então pode ficar feliz porque deu certo!!!).

A Stelinha – como você sempre chamou a sua netinha – ainda não nasceu, pai, mas quem sabe, né?! Por mim eu engravidaria de novo, mas o Gui quer esperar um pouco mais. A mãe está louca para ser avó de novo. Ela está bem, é guerreira demais, continua tocando os seus projetos como pode, por mais que a gente tente fazer com que ela tenha novos projetos e sonhos…

Ah! Essa você não adivinharia nunca! Na Copa do mundo aqui no Brasil, perdemos para Alemanha nas semi-finais (até aí, ok…) mas sabe por quanto? 7 a 1!!!! Piada do século!!!! Ninguém acreditava!

Foi horrível. Mas aposto que você, no terceiro gol, já iria abraçar o Gui e começar a torcer pros germânicos só para não perder a festa… bem no seu estilo, né?! ahahahah (e quando dou essa risada, me lembro da sua gargalhada, que não ouço mais… saudades! saudades sem fim…).

Lembra que eu te perguntei lá no hospital se você achava que ia dar certo essa história de fotografia? Você disse: “Já deu, filha!” Pois bem… Estou tentando, viu?!

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Amo fotografar e hoje te entendo tanto, tanto… hoje enxergo ainda mais a sua paixão pelo seu trabalho e como você lutou e acreditou, muitas vezes sozinho, pelo seu propósito… e te admiro ainda mais.

Obrigada, pai, por ter aceitado e respeitado a minha nova escolha com tanto amor e delicadeza, e por ter me dado tantas dicas nos últimos meses que passamos juntos.

Espero poder te dar muito orgulho ainda! Amo você demais!!!

(Letícia, filha do Laércio)

Zé Carlos era uma pessoa justa, de postura austera, crenças tradicionais e ações, por vezes, originais. Dizer que meu pai era uma pessoa complexa seria um eufemismo.

Como consequência de sua complexidade, casou-se com uma mulher forte, extremamente independente e 100% irreverente. Contraditório, não? Mas como diz o ditado popular “os opostos se atraem”. E como o amor, os encontros e timing não se explicam, de alguma forma, juntos, eles viveram a sua historia de mais de 45 anos, com diversos frutos, sendo o mais importante deles (puxando a sardinha) a criação de três filhas.

Somo três mulheres, cada uma com sua personalidade e complexidade. Em comum, porém (e em virtude de um mundo moderno e muito mais feminino), o objetivo de desafiar todas as tradições, convenções e crenças que meu pai construiu em seus 75 anos.

Demos trabalho! Hoje, ao me recordar dele, penso no poema que Vinicius de Moraes escreveu ao saber do falecimento de seu pai: “Foste um pobre. Mendigavas nosso amor em silêncio.”

Meu pai expressava o seu amor através de preocupações. Uma delas, particularmente frequente na nossa vida adulta, o desejo de ver suas filhas casadas. Queria, porque queria que nos casássemos. Acredita que casamento era uma evolução natural do papel da mulher na sociedade, como também ter filhos, construir família etc etc etc…. Mas como disse, demos trabalho. Questionamos todas as suas tradicionais expectativas, só porque queríamos e podíamos.

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Mas a vida nos prega peças, e ao mesmo tempo em que acompanhava os últimos meses de vida do meu pai, iniciava uma outra história de amor, com o outro homem da minha vida. Aquele que desafiou as minhas próprias convenções e tradições. E, antes mesmo de qualquer comprometimento oficial, meu pai pressentia que essa nova história seria longa e definitiva.

Em janeiro de 2015, meu pai se despediu. Em agosto do mesmo ano, fiquei noiva. Em abril de 2016, me casei.

Meu casamento foi uma grande celebração das mais tradicionais crenças, convenções e definições do amor. Do amor silencioso e estrondoso; do amor convencional e irreverente; do amor de opostos e iguais; do amor dos que estão presentes e distantes.

Não tenho dúvida que se pudesse estar presente, meu pai estaria discretamente radiante, alegremente mal-humorado, contraditoriamente reclamando e elogiando tudo. Enfim, celebrando o amor, ao seu jeito.

E além dessa boa notícia, tenho certeza que ele ficaria extremamente contente ao saber que estamos bem, unidas, saudáveis e, dia-a-dia, construindo nossas histórias.

Feliz Dia dos Pais, Zé Carlos!

(Mafê, filha do Zé Carlos)

Da infinidade de lições que você me deixou, a mais importante foi a de que eu não deveria desistir de nada, nem por medo, nem por falta de coragem. De tanto que você me disse isso, eu nunca desisti de nada. Quando pensava em entregar os pontos, logo você surgia diante dos meus olhos com seu ar de reprovação e rapidamente eu me recompunha. Eu nunca desisto. Eu não sou covarde.

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Assim que você morreu, isso tudo mudou. Não havia força que me fizesse continuar, fosse um livro, fosse uma música, fosse uma explicação de uma ideia complicada. Achava, no começo, que era por causa do próprio processo de luto, que nos deixa tão perdidos e cansados. Algum tempo depois, porém, eu percebi que não era nada daquilo. Eu estava era com medo. Logo eu.

Encarar a minha nova vida, uma vida da qual seus abraços, o cheiro da sua barba e a sua voz não faziam mais parte, me botava debaixo da mesa. Eu sequer podia pensar em como seria conquistar algo que você jamais pensou que eu pudesse ou quisesse. Não compartilhar com você uma nova vitória ou um outro fracasso seria desleal, e, como eu também aprendi com você, trair um amigo ou um princípio é inadmissível.

Foi então que eu me dei conta de que, a cada vez que eu desistia, eu jogava uma pá de cal em seu legado. Era uma traição dupla, que me fazia desmerecedora do pai que tive e que, por 32 anos, insistiu para que eu fosse corajosa e íntegra, e eu não queria perder mais isso.

Por isso, pai, a boa notícia que quero dar a você é a de que, apesar de por um longo período eu não ter sido a filha que você criou e nutriu com palavras e gestos, hoje eu estou aqui, exatamente do jeitinho que você deixou.

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Quer dizer, não exatamente: estou um pouco melhor. Já consigo tocar direitinho três ou quarto músicas no violão (apesar da dificuldade de fazer as pestanas). Já li uma meia dúzia de romances (mesmo aqueles que eu não quero ler). Já não guardo mais para mim as minhas mágoas (ainda que, de vez em quando, eu deixe alguns sapos se acumularem no meu estômago). Já enveredo por novas paragens (mesmo quando eu não entendo direito os mapas).

Você não viu nada disso, mas, se tudo isso aconteceu, é porque você sempre esteve comigo e não me deixou esquecer que nunca devo desistir de nada. Obrigada por nunca ter desistido.

(Camile, filha do Paulo)

Minha querida filha Caroline!

Quero que saiba que viver sem você não é fácil, é um desafio constante, mas você é amor, e você só deixou coisas boas, um grande amor!

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Peço constantemente a Jesus, que transforme meu coração e que amenize a dor, dando lugar as lembranças e alegrias vividas com você. Nesse dia dos pais, o segundo sem você, vou sentir muita sua falta, mas quero que saiba que a dor, aos poucos, está dando passagem para a saudade e as lembranças dos momentos inesquecíveis que vivemos!

Nesse dia, quero agradecer a você, por ter me concedido a graça de ser pai e ter vivido esse amor, que hoje se eterniza em meu coração! Fica a saudade, mas sei que você estará pertinho de mim nesse dia, como tem sido presente constantemente!

(Francisco, pai da Carol)

Feliz Dia dos Pais!

(Autora: Amanda Thomaz)
(Fonte: vamosfalarsobreoluto.com.br)
*Texto publicado com a autorização a administração do site




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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