“A vida é boa quando você está feliz, mas é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa.” (Papa Francisco)

Sem dúvida alguma, assistir à felicidade que nós mesmos trazemos para as pessoas é muito reconfortante, faz um bem imenso. Quando percebemos que ajudamos alguém positivamente, em algum aspecto de sua vida, parece até mesmo que nossa vida vai junto nesse embalo de alegria. Da mesma forma que a tristeza de quem amamos nos afeta, a felicidade alheia também nos atinge, e isso é ainda mais forte quando somos uns dos causadores daquilo tudo.

Por mais que tenhamos uma atitude mais fria, por mais que tentemos não nos importar com o que não nos cabe, é quase que impossível caminhar sem olhar para o lado e refletir sobre o mundo que nos cerca. Não devemos carregar o peso de toda gente em nossos ombros, mas quem pensa somente em si mesmo acaba também adoecendo de qualquer forma. Como dizia o poeta John Donne, ninguém é uma ilha isolada, pois vivemos em sociedade, somos o que fizeram e o que farão, somos parte do todo.

Esse sentimento fica ainda mais intenso quando existe gratidão, quando o outro expressa a nossa real importância em sua vida. Somente o fato de ajudar já nos faz bem, logicamente, mas ajudar e ouvir um “muito obrigado” nos dá a certeza incontestável de que estamos no caminho certo. Temos que ser seguros quanto ao que fazemos, mesmo que ninguém reconheça, porque a felicidade é parte do íntimo de cada um, porém, a gratidão torna tudo menos denso, menos pesado, para todo mundo que estiver ali envolvido nessa troca.

A forma como o mundo vem se movimentando, hoje, deixa pouco espaço para se pensar no outro, uma vez que há necessidade de correr atrás das próprias conquistas, para se tornar um vencedor. O que se dissemina como metas de vida, pela mídia em geral, deve estar atrelado ao consumo desenfreado, à posse de bens materiais, a viagens ao exterior, a um emprego rentável, à estética física. E, nessa busca por uma superficialidade plástica e material, descuidamo-nos de nossa carga afetiva, deixando de regar os sentimentos que deveriam sempre sustentar as nossas vidas.

Como se vê, quanto mais valorizamos tudo o que é de fora, externo, menos damos atenção ao que vem de dentro, ao que é sentimento, ao que não se vê, mas é imprescindível à vida de cada um de nós. E a frieza, então, instala-se, tornando-nos como que insensíveis ao que não tem a ver com nossas metas de compra, de beleza, de status enfim. Porque quem pensa demais em si mesmo jamais terá tempo para pensar no outro. Quem se olha no espelho o tempo todo jamais voltará os olhos a quem está ali ao lado.

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Não é à toa que aumentam os casos de doenças da alma, pois não há emocional que consiga sobreviver sendo sobrecarregado pela necessidade de se obter cada vez mais poder de compra e juventude eterna. Uma ou outra hora, o mundo lá fora vem bater à nossa porta, simplesmente porque não existe redoma alguma que nos proteja da vida que está em volta da gente. O tempo é implacável e nosso envelhecimento, inevitável. A vaidade pode ser saudável, desde que não fira o bem estar do curso natural de nossa vida, desde que não nos torne obsessivos e cegos.

Da mesma forma, a ambição é positiva, desde que não nos torne pessoas desprovidas de escrúpulos, de ética, de empatia. Aliás, adoecemos emocionalmente também pelo fato de que a preocupação excessiva consigo mesmo impede esse colocar-se no lugar do outro. E, sem se colocar no lugar das pessoas, ninguém consegue entender, compreender, solidarizar, tampouco ajudar. A empatia nos torna mais sensíveis, melhores, mais gente de verdade. Infelizmente, quem vive tão somente para si mesmo não consegue exercitar esse olhar, endurecendo o coração, isolando-se em seu próprio mundinho.

Todos queremos ser felizes, isso é fato. No entanto, devemos nos conscientizar de que a felicidade nunca será plena, enquanto houver tristeza lá fora. De nada adiantará obtermos tudo o que quisermos, se nada daquilo for o que realmente precisamos. Nenhum caminho será livre, se, ao percorrê-lo, for necessário pisar em pessoas e sentimentos.

Somos parte de um todo, somos sujeitos de nossa própria história e também sujeitos das histórias de quem nos rodeia. Sejamos, nós, portanto, aquela parcela de gente que é feliz e faz as pessoas felizes – o mundo carece tanto disso. Sejamos!




Graduado em Letras e Mestre em "História, Filosofia e Educação" pela Unicamp/SP, atua como Supervisor de Ensino e como Professor Universitário e de Educação Básica. É apaixonado por leituras, filmes, músicas, chocolate e pela família. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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