O maior afrodisíaco que pode existir em uma relação é uma alma escancarada.

Não há nada mais belo, mais sedutor, mais atraente do que alguém completamente despido em suas miudezas, aberto em sua loucura, completamente vulnerável, ansiando para ser tocado, fisgado por um abraço, preso em um olhar.

Todo relacionamento profundo depende da abertura das pessoas presentes na relação. Dessa maneira, é necessário que as almas estejam escancaradas, a fim de que haja profundidade para o mergulho. Caso contrário, a relação será superficial e, por conseguinte, incompleta.

Acho que nós, mais do que ninguém, sabemos disso, afinal, em quantos relacionamentos nos sentimos completamente despidos, sem joguinhos, arrodeios e medo?

Eu sei que é bem verdade que quando nos colocamos de maneira totalmente desarmada em frente a alguém, há o grande risco de nos machucarmos ou de não sermos correspondidos. No entanto, procurando o prazer sempre há o risco de tropeçarmos na dor.

O amor é um risco. Quem quer garantias faz um seguro

Sendo assim, é preciso que estejamos dispostos a nos arriscar, já que não se envolver profundamente com alguém por medo, como diria Sean, personagem de Robin Williams, no filme Gênio Indomável, é apenas uma superfilosofia que garante que você nunca irá conhecer ninguém de verdade.

Somente almas escancaradas são capazes de mergulhar na loucura, não a psiquiátrica, mas a que permite que todos os pecadinhos, os segredos, as esquisitices, as coisas bobas sejam reveladas.

Ou seja, a loucura que permite a eclosão do próprio sujeito, o qual se transforma a partir do mergulho nas profundezas de outro ser. Um mergulho na essência do humano, da intimidade e, portanto, bálsamo do divino.

Desse modo, quando há a libertação dos medos e nos entregamos, com a alma completamente nua, acontece o encontro que alegra, lembrando Spinoza.

Nesse espaço colocado entre duas pessoas enlaçadas sem nenhum subterfúgio, acontece o gozo, o prazer, o delírio, a perda da própria consciência, a imersão em uma órbita superior, em que não há limites para o voo, pois todas as limitações terrenas se esvaem na medida em que sentimos a manifestação do divino.

Acontecem os refluxos da alegria, o aumento da potência de ser e, acima de tudo, sentimos por instantes que somos capazes de criar um escudo contra a morte, porque criamos memórias compartilhadas e estas são eternas, porque existem no espaço secreto onde as almas se beijam e o tempo não passa.

A conversa, o toque, podem até existir em qualquer relação, todavia, é apenas quando sentimos que temos a nossa frente uma alma escancarada que conseguimos interpretar cada palavra e perceber a sua poesia, inclusive, a do olhar, que mesmo em silêncio, é capaz de fazer as denúncias mais subterrâneas, como se houvesse um canal ligado diretamente à alma, uma janela aberta sem nenhum tipo de cortina.

Sendo assim, o maior afrodisíaco que pode existir é uma alma escancarada, entregue e vulnerável, capaz de sentir cada dedo penetrando, acariciando e envolvendo cada célula do corpo, pois o maior prazer que existe em uma relação é perceber que em meio a tanta superficialidade, há um lugar no mundo onde podemos encontrar luz e calor para descansar nosso corpo e acordar nossa alma.




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