O rei sapo, ou o príncipe sapo, é um conto de fadas famoso pela sua versão dos irmãos Grimm.

No conto uma princesa brincava com uma bola dourada que caiu dentro de um poço de onde ela não conseguia retirá-la.

Eis que um sapo aparece e diz que para devolver a bola ela deveria cumprir três desejos dele: sentar-se à mesa com a princesa, comer de seu prato e dormir em sua cama. Ela então prometeu tudo porque estava muito triste com a perda da sua bola.

Assim, que o sapo a trouxe de volta, a princesa esqueceu suas condições e ele teve que lembrá-la de sua promessa. A cada vez ela obedecia com relutância porque o sapo é tão repulsivo que cada exigência era pior que a anterior.

A última condição, então, de que o sapo dormisse na sua cama, a princesa nem queria ouvir falar, mesmo assim, o sapo entrou na sua cama, de onde ela o tirou e o jogou contra a parede. Nesse instante o sapo desapareceu e em seu lugar surgiu um Príncipe.

No conto temos os seguintes personagens: O rei e suas filhas, sendo a caçula sua favorita. Não há menção da rainha, portanto podemos supor que a atitude consciente, simbolizada pelo rei precisa de renovação, pois não há o casamento entre feminino e masculino, há uma ausência de Eros.

Nesse caso, a consciência se apresenta muito rígida, presa a regras, leis e normas. Falta flexibilidade, acolhimento e sensualidade.

A princesa é a heroína do conto, ou seja, ela é quem realizará o processo de transformação e renovação da consciência coletiva. Ela irá restabelecer o funcionamento normal e sadio da situação vigente, onde todos os egos estão desviando-se do padrão básico e instintivo da totalidade.

A princesa brinca com sua bola favorita e essa rola em direção ao poço. A bola simboliza aquilo que possui movimento involuntário e que se move e continua rolando mesmo com todas as vicissitudes, obstáculos e dificuldades do mundo material.

Isso significa que uma parte do nosso inconsciente nos impele ao processo de individuação sem que precisemos forçar o processo. É algo espontâneo, como um desejo repentino, ou algo que “surge do nada” e altera o curso de nossas vidas.

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A bola rola em direção a um poço com água. A água é símbolo das emoções e também do inconsciente pessoal. Nesse caso, algo provindo do inconsciente da princesa salta a consciência, trazendo um conteúdo emocional que deverá ser assimilado.

O poço é um local onde as pessoas costumam retirar água para matar a sede, ou seja, ele simboliza um caminho ao inconsciente que traz um conteúdo numinoso capaz de renovar a vida. O poço também tem uma simbologia feminina é a mãe terra que fornece a água da vida. Portanto é desse local que o feminino poderá ser renovado.

Mas desse local sai algo repugnante, um sapo. Na mitologia, o sapo é geralmente tido como um elemento masculino, que pode tanto envenenar como dar vida a alguém.

O sapo lhe devolve o brinquedo querido, em troca de comer e dormir com ela. Ou seja, ele quer ser plenamente aceito na vida privada como se fosse um ser humano.

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Vários conteúdos de nosso inconsciente clamam por serem aceitos em nossa vida cotidiana, principalmente os arquétipos.

O sapo aqui representa o lado masculino da princesa que está reprimido e subdesenvolvido. Ele precisa participar da vida dela para que possa começar a ter uma expressão mais humana. Ele é o homem superior da psique feminina que ainda está por vir.

Uma mulher extremamente feminina costuma ter uma compaixão em excesso por tudo o que é desamparado, o que pode ser muito nocivo. Ela precisa desenvolver a objetividade de seu lado masculino e alguma vez terá de colocar para fora qualidades “viris”, mesmo que a principio seja de forma desajeitada. Pois quanto mais uma mulher é feminina, menos seu animus é agressivo e mais a vida tende a passar por cima dela.

Algumas versões do conto dizem que a princesa beijou o sapo. Mas se ela tivesse feto isso, não teria entrado em contato com sua agressividade e ele não teria se humanizado. Ao não ter compaixão por um ser que lhe aparece repugnante ela o transforma e o deixa se expressar. Ela não foi inutilmente agressiva!

O problema agora é encontrar um meio termo na expressão desse masculino em seu mundo feminino. Mas agora ela pode ser uma mulher mais completa e ser fecundada por seu masculino interior se tornando um ser criativo e com uma expressão mais objetiva no mundo.




Hellen Reis Mourão é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas. Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e RJ. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

1 COMENTÁRIO

  1. Oi Hellen EU me Chamo Ana e moro na Alemanha .
    Sou psycologa e professora de meditacao no Metodo Da atencao Plena ” John Kabat Zin ” .. Voces ja publicaram algo a respeito Do John Kabatt Zin? Adoraria ler algo em portugues .. Adorei o artigo sobre contos de Fada . Um abraco Ana – Alemanha March Hugstetten

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