Foi querer estar perto e querer cuidar, principalmente, quando você fazia um drama exagerado dizendo que estava resfriado. Eu preparava um chá, enquanto você me esnobava com cara de nojo (já que o chá não tinha um cheiro muito agradável), eu explicava que minha vó que me ensinou uma receita que faz milagre. Foi querer tomar todas as suas dores e medos.

Não foi premeditado, não foi combinado e nem arranjado. Foi de repente, de lugar algum e almejar que você se cuidasse a cada boa noite, que ele se esquecesse de desligar o ferro após passar a camisa e se possível, acordar cedo sem desligar o despertador e dormir mais cinco minutinhos, porque, esses cincos minutinhos sempre se transformavam em vinte. Foi protetor, foi cuidado.

Não foi só mais uma história de verão. Foi história de quatro estações completas, repetidas várias vezes. Foi de ver o sol se pôr e fazer planos observando as estrelas, foi de ver as folhas caírem secas na calçada, foi de dormir de conchinha ao som da chuva e ouvir sussurros românticos no pé do ouvido, foi de chocolate quente, meias e cobertas num sábado à noite. Foi de encantos ao ver as flores nascendo novamente. Foi sereno, foi brisa leve.

Não foi paixonite, nem platônico. Foi de se entregar, de se jogar, de uma vez – sem pensar. Foi de viciar, rir e chorar. Foi de uma urgência sem precedentes intimar sua presença, toda vez que eu lembrava que seus olhos sorriam ao me ver. Foi de brigar por besteira e fazer as pazes com sexo. Foi de corpo e alma.

Não foi o seu jeito de rir a risada mais engraçada que existe. Foi escutar, atentamente, os problemas familiares dele e segurar sua mão, mesmo sem saber que conselho dar. Foi cuidar do cachorro dele, enquanto ele estava fora a trabalho e mandar fotos pra mostrar como eu sei me virar bem sozinha, fazer comida e não colocar fogo na casa. Foi carinho, foi cumplicidade.

Não foi ter uma música só nossa, nem textos feitos só pra você, nem ter poesias só pra mim. Foi para sempre e acabou.

Decidi não sofrer mais.

Faltou coragem de assumir tudo o que você foi em mim e, talvez você me diga que eu fui longe demais e que não queria me magoar. E eu vou compreender. Não vou te culpar de nada, exigir explicações, traduzir desculpas mal interpretadas… Não. Eu estou encarando sem medo que o tempo passa, que daqui alguns minutos serão só mais minutos passados e daqui alguns anos, talvez, você nem se lembre de mim.

Portanto, que o destino nos permita novos reencontros… Porque é bom sentir mais uma vez e não se morre de amor, afinal.

Só posso te agradecer, sem ressentimentos e sem mágoas, quem eu sou hoje. E de tudo que deixou de fazer por mim, pra eu entender onde eu precisava chegar. Se teve uma lição que eu aprendi, é que esses minutos que passam, apesar de nos levar momentos bons, eles deixam o amadurecimento. E quem sabe, nossa memória filtre somente o que o coração precisa guardar. Não foi só amor, você sabe…

Por isso eu finalizo este texto aqui, fragmentado do que me serviu de aprendizado.

Imagem: Samantha Green




Ela ama comer. Tem medo de apontar para uma estrela no céu e acordar com uma verruga no dedo. E também ama comer. Acredita que troca de olhares, às vezes, são mais bem dados que beijos de cinema. Não confia em pessoas que não gostam de animais. E ama comer. Tem medo do escuro e acha normal falar sozinha. Vive no mundo da lua e adora comer por lá também. É sagitariana, paulista, teimosa, devoradora de filmes, gulosa por livros e por comida também. Mas acha tolice tudo acabar em pizza, porque com ela, acaba em texto. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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