Minha avó dizia que nem sempre pessoas e coisas permanecem em nossas vidas, mas eu tenho de confessar: nunca dei atenção a isso. Acreditava que ela era uma mulher velha e meio louca que esperava o pior dos outros.

Anos se passaram, e hoje eu compreendo perfeitamente o que ela estava dizendo.

Quando era criança costumava construir prédios com os prendedores de roupa da minha mãe. Depois, tinha de derrubar minha incrível construção e guardar cada um de seus tijolos (que eram os próprios prendedores), para que eles não se quebrassem ou fossem perdidos.

No instante em que derrubava os andares de meu prédio pensava com grande tristeza no quanto queria que tudo fosse diferente. Queria poder guarda-lo numa redoma de vidro e evitar que qualquer fator pudesse trazê-lo ao chão.

Hoje eu sei que nada é eterno, logo, aquele prédio de prendedores também não poderia ser. E sei também que o que me doía não era ter de derrubar o prédio; eu poderia construir outro depois, os prendedores ainda estariam lá. O que me doía era ver todo o trabalho e tempo investidos na “construção” desmoronando com um simples toque.

Damos tanto de nós por tudo o que nos cerca, não é mesmo? Entregamos nossa energia ao trabalho, nosso sono à faculdade, nossos finais de semana ao namoro, nossos minutos às amizades… Nossa vida a tudo o que nos cerca. De maneira voluntária (ou não) diariamente nos doamos aos outros na expectativa de um dia ser recompensados por cada hora investida naquela pessoa ou naquele lugar.

E fazemos isso sabendo que não há nada nesta vida que dure para sempre; nossos dias são como grandes e frondosos ipês que numa terça-feira amanhecem floridos, colorindo as ruas com as delicadas pétalas que caem com o vento, e que no sábado são galhos finos, escuros e secos, como se nunca houvera flores ali.

Mas mesmo sabendo das condições da vida humana, torcemos com todas as forças que há dentro de nós para que aquilo seja eterno. Torcemos para que aquele relacionamento seja suficientemente forte ao ponto de nos dar um casamento promissor, e uma velhice na companhia de alguém que realmente se importe quando perdermos a dentadura dentro de casa.

Esperamos ansiosamente por uma promoção no trabalho, e depois outra, e mais uma, até que um dia a famigerada estabilidade chegue e já não tenhamos mais medo de demissão em tempos de crise. Sonhamos com um curso legal, onde possamos fazer boas e verdadeiras amizades de bar, de prova e de tudo mais o que Deus permitir.

Nada fascina mais o ser humano do que a ideia de eterno. Talvez isso se deva à nossa finita existência.

Bom, mas como já dissemos, não existe nada eterno, e é aqui que nossos problemas começam. Estamos suscetíveis aos fins, e sim, eles realmente acontecem. Nem sempre o namoro dá em casamento, e às vezes o emprego dos sonhos se torna um verdadeiro pesadelo.

Pode acontecer de uma amizade de anos infelizmente se mostrar numa tremenda falsidade, e a faculdade tanto pode ser bênção, quanto sarna pra se coçar. Eu sei, é muito ruim perceber isso, mas a verdade é que a vida segue seu próprio rumo, e nós não podemos fazer nada em relação a isso.

Quando um término vem, nem sempre a gente sabe ao certo como ou o que fazer. Todo rompimento, seja ele emocional, físico ou mental nos traz um enorme desconforto, pois ele é capaz de alterar nossa projeção da realidade, e depois, só nos resta perceber que afinal, as coisas não estavam sob nosso controle.

Você pode chorar pelo leite derramado, pode tentar mover moinhos com águas passadas e também pode não correr da água fria após ser escaldado, mas o que não pode é ficar pra sempre desse jeito. Enquanto você estiver preso ao que poderia ter sido, não conseguirá absorver o que foi, e isto implicará diretamente na sua concepção de mundo, e também no que acredita sobre si mesmo.

Deixe o passado no lugar dele. Se for preciso chorar, chore; se quiser gritar, grite, mas não pare seu tempo por conta daquilo que não aconteceu da maneira como você sempre imaginou. O equilíbrio emocional depende da sua força em recomeçar, e novos caminhos só serão trilhados se você se permitir caminhar. Enquanto estiver parado no tempo e no espaço, nada mudará.

Perceba que já se foi, passou, acabou. Este lugar ou esta pessoa não faz mais parte dos seus dias, e isso não pode ser empecilho para sua vida andar, e claro, é preciso lembrar que o sentido é para frente, e nunca para trás.

Dê a você a oportunidade de recomeçar e permita-se fazer algo novo. O que terminou foi um ciclo, e não sua vida toda, então, viva. Pense mais em você e cuide de sua estabilidade emocional hoje, para que amanhã seus dias sejam mais completos, felizes e bem resolvidos.




Há quem diga que os olhos são a janela da alma, então, no meu caso, eles são uma janela bem grande e aberta. Amante das artes, do universo e das palavras, necessito de música para viver, dos astros e estrelas para pulsar e dos versos para existir. A publicidade me escolheu; por isso anuncio paz, promovo sorrisos e transmito intensidade. Sou colunista do Fãs da Psicanálise.

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