O diagnóstico de “transtorno de personalidade Borderline” tem sido comum nos consultórios de psiquiatria, mas afinal, você sabe do que se trata?

O Transtorno de Personalidade Borderline é uma condição mental complexa, marcada pela instabilidade, agressividade, caos, problemas com regras sociais, mas também marcas de intensos vazios e dores intensas as quais expressam de modo muito primitivo. Assim, comprometem suas relações afetivas, enquanto o intelecto se mantem preservado.

Deutsch (1942) se refere como estados intermediários entre a psicose e a neurose, descreve a “personalidade como se”. Segundo a psicanalista, essas pessoas apresentariam uma personalidade que, por trás de uma tênue adequação nos relacionamentos sociais do dia-a-dia, apresentavam um grave distúrbio nos relacionamentos interpessoais mais significativos. Os descreve:

“É como a performance de um ator tecnicamente bem treinado, mas a quem falta a centelha necessária para tornar suas personificações verdadeiras à vida. […] O mesmo vazio e a mesma falta de individualidade que são evidentes na vida emocional também aparecem na estrutura moral. Completamente sem caráter, inteiramente desimbuída de princípios, no sentido literal do termo, a moral dos indivíduos como se, seus ideais, suas convicções são simplesmente reflexos de outra pessoa […]. Ligando-se com grande facilidade a grupos sociais, étnicos e religiosos, eles buscam, por adesão ao grupo, dar conteúdo e realidade ao seu vazio interno e estabelecer a validade de sua existência por identificação (DEUTSCH, 1942).

Há uma intensa ligação com a destrutividade, como também com o masoquismo e o narcisismo, sendo evidentes falhas na construção de uma identidade, o que se pode remeter a falhas muito primitivas na relação mãe-bebê. São comuns apresentações de sintomas depressivos, já que a vida afetiva costuma estar sempre marcada pela insatisfação e sentimento de reivindicação de algo perdido/roubado.

Por serem bastante regredidos em sua maturidade precisam de acompanhamento, já que tem tendência a vícios para tamponar os vazios e práticas danosas como automutilação e drogadição o que acaba marcando certa dependência do outro.

Importante que o psicólogo trabalhe com ele sobre suas noções sobre destrutividade, vazios, relação com o corpo e a natureza do vínculo primário, no caso a mãe ou quem exerceu esse papel. O tempo todo são pacientes que sentem demais, guardam muito ódio e talvez este tente ser tamponado, assim como os vazios do desamparo. Reivindicar faltas, como a um lugar no mundo, onde possa ser mesmo, sem se sentir “preso” em sua agressividade, pode ser o que se produzirá num trabalho psicanalítico com o paciente.

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Green (1998) afirma que a destrutividade é ligada necessariamente à libido erótica. Porém, eles temem a perda de controle e contato afetivo, o que gera afastamento social. Importante explorar na subjetividade de cada paciente o que tanto lhe dói, quais são seus temores e vazios.

Mas o que esse paciente deseja? Talvez ser capaz de triunfar sobre a dor vivida como invasiva ou ausente da presença da mãe. Buscam o olhar dela, o tempo todo, para que possam se construir como sujeitos, o que foi falhado na fase em que era um bebê. Instala-se então a compulsão a repetição, como com o uso de drogas e cortes.

Há uma “ambivalência” constante. Certamente houve algo com essa mãe relacionado a separação precoce ou certo “vínculo mortal”, onde a mãe lhe parecia viva, porém não era presente. Há muitos sentimentos ameaçadores dentro desse paciente que o consomem.

A psicoterapia em settings estruturados costuma gerar grandes melhorias na qualidade-de-vida destes pacientes e quem o cerca. Paralelamente são indicados tratamentos medicamentosos, como uso de medicações que possam melhorar a sintomática e os padrões de conduta.

Referências:
DEUTSCH, H. (1942). Some forms of emotional disturbance and their relationship to schizophrenia. Psychoanalytic .
GREEN, A. (1998). “Histeria e estados-limite: quiasma. Novas perspectivas”.




Psicóloga, estudante de Psicanálise. Colunista do site Fãs da Psicanálise.

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