Chega a ser engraçado lembrar que eu não penso mais em você. Por um instante, quase me desequilibrei por sua causa. Me joguei, porque eu achava que você ia me segurar.

Mas quando eu olhei pra baixo, vi o chão e eu usei todas as minhas lembranças para amortecer a queda.

Você me deixou um vazio e uma saudade que aparecia nos momentos de tédio.

Sua forma de criticar tudo que é do senso comum; seus argumentos afiados; o cheiro de vida boa que vinha do seu pescoço e se misturava com seu gosto de cerveja e o jeito que você aceitava a minha intensidade eram suficientes para mim.

Mas, quando eu me dei conta, as coisas que a gente viveu foram ficando desfocadas e quase desapareceram.

Agora você é só um vulto. E eu nem tenho mais palavras pra te dar porque elas não te pertencem mais.

Escrevi um texto de duas páginas e você nem notou que era sobre você. Nele eu acordo com um gosto ruim na boca e você não está mais lá.

Mas foi tudo um disfarce porque, na realidade, eu acordei olhando pro meu cabelo espalhado no seu travesseiro e com você me puxando pra mais perto.

Eu lembro que você tinha medo de ser para mim, um otário, igual a todos os outros caras que vieram e foram. Você não é um otário. Você é melhor que isso. Mas infelizmente eu tive que te colocar no lugar onde todos os outros estão. No passado.




Talvez eu seja todas as palavras que eu já escrevi. Talvez eu seja todos os personagens que eu já criei e vivi. Acho difícil falar de mim, já que, quem eu sou agora, já é diferente de quem eu era um minuto atrás. Colunista do site Fãs da Psicanálise.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui