A vergonha é um sentimento inerente ao ser humano. Do ponto de vista psicanalítico, o desenvolvimento é sequenciado em fases. O inicio do 3º período, a latência, é marcado por um forte sentimento de vergonha frente a situações relacionadas a privacidade do corpo e principalmente a nudez. Inicia-se por volta dos 6 anos. Antes dessa idade já existe uma censura, mas a vergonha com um sentido moral e que se manifesta muito forte, é nessa época e perdura por toda a vida.

Na adolescência a vergonha se abranda um pouco, e as meninas e meninos já se trocam na presença de amigas e amigos ou de pessoas em que tenham maior intimidade. Essa vergonha exacerbada no adulto pode ser produzida por uma timidez que é um sentimento de auto depreciação (insegurança).

Geralmente é mais comum em homens, pois corresponde a alguma fixação nessa idade crucial da vergonha ou em outra idade anterior, portanto a um conteúdo psíquico traumático ou recalcado da infância ou adolescência. Os adolescentes são muito impiedosos com eles mesmos. São muito críticos uns com os outros. Muitas vezes por questões de má educação sexual e desconhecimento do próprio corpo o menino pode sofrer muito com complexos de inferioridade em relação ao tamanho do pênis e levar esse sofrimento pela vida toda.

Já nas meninas é mais comum a vergonha sem estar vinculada às vivências traumáticas da infância. Famílias que cultivam hábitos de privacidade com o corpo, formam meninas com mais vergonha de se exporem em momentos de privacidade.

Uma pessoa mais tímida pode ter a sensação de vergonha mais potencializada em situações que exija maior intimidade como fazer sexo, por exemplo. As mulheres também podem se sentir pouco a vontade com o próprio corpo ou mesmo de se entregarem à relação sexual, conforme a educação que receberam.

Já nas crianças, geralmente o sentimento é de pudor em relação à nudez; a vergonha começa acontecer depois que ela é capaz de censurar a si mesma e o outro. Olhando o fenômeno à luz da psicanálise podemos dizer que é quando ela já tem constituído o seu superego. Que é a internalização de valores pessoais e culturais, críticas e censuras sobre si mesmo.

É necessário educar para a vida, e ao mesmo tempo respeitar a individualidade da criança em suas características pessoais e escolhas. Não se deve forçar a criança a ter condutas mais desinibidas se não for característica dela. Da mesma maneira não se deve educar para os excessos de pudor. Antigamente, as partes íntimas eram chamadas de “vergonha”. Era comum ouvir mães dizerem: “Tampe suas vergonhas, vá vestir uma roupa”. Temos famílias que já adotam em sua cultura familiar a nudez, o banho conjunto, portas abertas dentre outras condutas. Naturalmente essas crianças vão crescendo com menos vergonha, enquanto outras famílias primam pela privacidade, então estas crianças vão crescendo com mais pudor pelo corpo.

Para os adultos a minha dica para vencer esse problema é buscar adquirir maior intimidade, conhecimento e confiança com o próprio corpo para se sentir mais auto confiante e assim fortalecer o seu” ego” e então a vergonha “sintoma” pode então se transformar em maturidade e paz em relação ao vestiário. Esse adulto também pode, e deve buscar ajuda profissional, porque será sempre beneficiado com uma psicoterapia.

O adulto tem que se lembrar que a vergonha tem importância em sua vida pessoal e social. O problema está na vergonha desproporcional, descabida e paralisante. Que bom seria se a vergonha se fizesse mais presente em algumas esferas de nossa sociedade. Teríamos políticos mais responsáveis, profissionais mais éticos, pais mais cuidadosos e cidadãos mais respeitadores. Vamos concordar que a vida tem de ser vivida intensamente, mas não irresponsavelmente. Tentar ser feliz não é vergonha, a não ser que com sua felicidade você provoque a infelicidade de alguém mais.




Colunista da Revista Atrevida cerca de 6 anos, tem formação e trabalho em Psicanálise e Terapia Ericsoniana. Pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior, Psicologia e Psiquiatria da Infância e Adolescência, Neuropsicologia e Teologia. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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