Acordei bem antes da hora prevista. Era domingo, Dia das Mães, e eu me aprontei para trabalhar. Olhei para a foto dela na mesa, sorridente. A foto captava uma alegria extasiante e era assim que eu queria lembrar-me dela naquele dia e em todos os que me restam. Fiz minhas orações, agradeci a Deus pela mãe que tive e acendi uma vela por sua alma.

No decorrer do dia, resisti bravamente aos cumprimentos para “minha mãe”. Falei da morte dela, que completava exatamente um mês naquela efeméride capitalista. Não chorei e demonstrei uma certa resignação.

Trabalhei e me entretive. Vi muita gente e, por alguns momentos, me esqueci daqueles almoços em família, das conveniências de Dia das Mães.

Voltei pra casa, comi o que ela gostava e pensei no quanto ela estaria feliz em me ver superando aquele dia, como outro qualquer. Fiquei “de boa”, mas recusei almoços com amigos que estavam com suas mães. Talvez aquilo me reabrisse um vazio no peito e, nestas horas, é melhor prevenir do que remediar. Tudo ainda é muito recente e sei que posso cair de repente, porque esta dor é devastadora.

Passei na casa de amigas que me encheram de carinho e potes de comida pra semana inteira. Me senti acolhida, mantive a serenidade até chegar a hora da missa, que eu tinha marcado pelos 30 dias de falecimento.

Na igreja, também acompanhada por uma outra amiga, foi uma emoção diferente. Lembrei dos últimos momentos da minha mãe, o quanto doeu ver seu corpo em coma induzido e tão inchado. As lágrimas escorriam e eu sentia aquele aperto, aquela vontade de chorar sem hora pra acabar. Mas, me contive. Redimensionei tantas coisas depois que ela partiu, que eu já não sou mais a mesma. E isto é muito bom, embora a falta que ela faz seja tão dilacerante…

Me entretive de novo, conversei, comi pizza. Ela ia adorar comer comigo. Não me senti sozinha: o desamparo, que parece revisitar os enlutados de uma hora para outra, não veio de novo. Ri, fiquei em paz. E sei que ela está também. A saudade é grande e não vai ter fim, mas tenho certeza de que onde quer que eu esteja, ela estará comigo: aqui dentro do peito e dentro de muito do que sou. Obrigada, mãe!

Imagem: Jez Timms




Mônica Kikuti é cronista e colunista do site Fãs da Psicanálise.

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