Dumbo é uma animação da Disney de 1941, que foi baseada no livro homônimo da escritora Helen Aberson e do ilustrador Harold Pearl.

O nome Dumbo significa estúpido em inglês e no filme ele é um elefantezinho que possui orelhas enormes.

O tema da história gira em torno do fato de Dumbo ser ridicularizado por ser diferente e o fato de sofrer bullying por isso, inclusive dentro do seu próprio meio e dos seus semelhantes.

Geralmente nos contos de fadas o herói é um humano. Mas existem bonitas histórias de animais que, conforme a psicologia analítica representam tendências humanas arquetípicas. Eles são humanos porque naturalmente não representam os verdadeiros instintos dos animais, mas nossos instintos animais.

Em Dumbo o herói é um elefante e isso simboliza um instinto especifico que foi negligenciado pela consciência coletiva e que precisa ser novamente reintegrado.

O elefante representa a sabedoria, a persistência, determinação, memória, longevidade e poder. Mas também o peso, a lentidão e a falta de jeito.

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Na mitologia hindu os elefantes são animais sagrados, sendo um dos deuses mais importantes para eles Ganesha que é representado por uma cabeça de elefante.

Ganesha é considerado o deus da ciência, do conhecimento, da inteligência, da força, do equilíbrio, da superação, da prosperidade e das letras.

Ele costuma ser representado sentado em um ratinho, que lhe serve de transporte. E no filme Dumbo após ter a sua mãe presa por defendê-lo é auxiliado por um ratinho, que consegue enxergar nele a beleza e o impulsiona pela busca de seus dons.

Com isso podemos observar que os arquétipos se apresentam tanto nos mitos como nos contos de fadas, apenas mudando a roupagem. O rato, veículo divino de Ganesha, representa a sabedoria, o talento e a inteligência. Ele simboliza investigação diminuta de um assunto difícil. No filme o rato auxilia Dumbo a encontrar seu talento.

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O talento para muitas pessoas pode ser algo muito difícil de ser encontrado, ele pode representar um assunto muito difícil devido a imagem negativa que a pessoa tem de si mesma.

Ganesha também simboliza a sabedoria da espera e da paciência.

Em uma sociedade como a nossa que visa o fazer, o ter de acontecer e a ação frenética, tem na lentidão e na paciência do elefante algo que deve ser combatido. No entanto esses são aspectos renegados que trazem uma tremenda sabedoria, pois muitas vezes a ação heroica está no esperar pacientemente o momento certo.

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Dumbo tem uma orelha imensa. A orelha é o símbolo da comunicação. Mas uma comunicação passiva, onde se deve estar apto a não falar para poder escutar o outro.

Isso mostra que estamos sempre muito mais aptos a falar do que a ouvir. Ouvir requer paciência, passividade e aceitação. E são qualidades que a sociedade ocidental mais voltada para a extroversão não consegue aceitar.

Dumbo chega a sua mãe trazido por uma cegonha, e ai passa a sofrer perseguições dos próprios elefantes que não aceitam a sua diferença.

Isso representa uma característica da consciência: o de desprezar o novo!

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A consciência sempre reluta e tende a reprimir conteúdos novos que vem do inconsciente. Nós sempre relutamos diante do novo, pois preferimos o conforto do desconhecido, da zona de conforto. O que é diferente nos causa medo.

O fato de Dumbo passar a sofrer perseguição dos próprios elefantes mostra que freqüentemente aquele que não se encaixa e que tem algo diferente, é perseguido pela própria família. A família não o apóia e por vezes o socorro e a ajuda vêm de fora. Ou seja, o próprio valor e a ajuda necessária para a descoberta de seus dons vêm de fora e não daqueles que deveriam dar esse suporte.

Dumbo é o herói da trama e é muito comum que o herói traga uma marca de nascimento ou até um defeito físico, pois essa diferença é que o distingue dos seres comuns.

Essas marcas mostram um destino incomum. Mostram que ele terá de empreender uma jornada iniciática de forma a restaurar o funcionamento saudável da consciência.

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O filme também mostra a forma deturpada com que o homem se relaciona com a natureza. Desde a época dos anos 40 o homem vem tratando a natureza de forma exploratória e a favor do ego.

Ao final Dumbo auxiliado pelo rato consegue voar com suas asas imensas. Vemos na Mitologia alguns animais que tem a habilidade de voar, mas que naturalmente não são capazes, como, por exemplo, o cavalo Pégaso.

Quando um improvável animal voa em um conto ou mito, simboliza que o instinto se transformou em imaginação criativa. É a inspiração poética e a criatividade espiritual. A energia se transformou liberando o símbolo transformador para a consciência.

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O filme então nos mostra que é importante olhar com mais apreço o que é diferente de nós. E isso se manifesta em nosso inconsciente, pois esse outro que rejeitamos e que é diferente da atitude habitual do ego está lá e se manifesta o tempo todo querendo ser observado e aceito.

E realizando esse movimento, com a analise dos sonhos e das fantasias podemos encontrar uma atitude mais criativa.

(Imagem: Dumbo – Walt Disney)




Hellen Reis Mourão é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas. Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e RJ. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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