Estou indo embora, vou voltar para mim.
Vou me livrar de todas as amarras que se enroscam em meu corpo sem direito e me moldam, apertam, encolhem, dificultando a respiração.

Vou voltar para mim, para o que eu era e nunca deveria ter deixado de ser.
Vou voltar para o meu canto no sofá e a preguiça gostosa de não fazer absolutamente nada.
Vou voltar para o meu quarto aconchegante, colocar uma música dançante e rodopiar de calcinha em cima da cama.
Vou voltar para o meu jardim e ficarei à espera da chuva, desesperada pelos pingos de água lavando a minha alma nua.

Vou voltar para mim, vou voltar a ser inteira, porque a única metade que devemos completar é a nossa mesma.
Vou voltar a ser livre de todos esses demônios que consomem minha vida. Irei libertá-los um por um.
Vou voltar para mim assim de uma vez, sem hesitar, vou quebrar regras que já não me fazem ajudar.
Vou amar minha existência. Cada pedacinho do meu corpo e mente inquieta.
Vou voltar com meus grilos na carcunda, sem a preocupação de exterminá-los porque fazem barulho demais para alguém.
Vou voltar e me olhar todo dia no espelho. Enxergar aquilo que só me diz respeito. Minhas rugas. Minhas pintas. Minhas manchas. Meus defeitos. Minha cara de mau.

Vou ser dona de minhas palavras, opiniões e atos. Não deverei nada a ninguém, apenas à minha consciência.
Quando voltar para mim será assim um momento mágico, registrado numa noite estrelada cheia de luz e treva. Porque um e outro se completam.
Sou minha treva. Sou minha luz. E voltando para mim serei meu equilíbrio perfeito. Entre um e outro sem pesos desnecessários em cima de minhas costas.
Vou voltar para mim, para o meu alto astral, deixar para trás pessoas e fatos que me faziam mal.
Eu vou voltar para mim, para minha menina, para minha mulher, as duas que tanto me fazem felizes com suas peculiaridades.

Vou voltar para minha vida, para os meus medos, porque ninguém precisa ser corajoso o tempo todo. Caso os sinta, me abraçarei com toda força. A força do amor que sinto por mim mesma.
Vou voltar para mim, para os meus sonhos, que mesmo bobos ou impossíveis, são apenas meus. Serei dona de mim e serei feliz assim.

A partir de hoje deixo uma vida ao lado de ninguém para voltar para a pessoa que sempre foi tudo para mim. E se quiser vir comigo. Venha por inteiro. Venha como companheiro. Venha por completo sabendo que nunca mais eu me permitirei partir.




Publicitária por formação, aeromoça por opção e escritora por paixão. Virginiana, perfeccionista, mãe do Henri. Entre fraldas e mamadeiras, entre pousos e decolagens, entre artes e artimanhas, ela escreve. Escreve porque para ela, escrever é como respirar: indispensável à vida! É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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