Todos nós temos o direito de ser felizes. Pelo menos é o que muita gente diz. Entretanto, existe uma certa distância entre falar isso e até mesmo estimular outras pessoas nesse sentido e de fato viver como se acreditasse nisso. Existe um intervalo entre esse discurso e a vivência disso. Eis o objeto do presente texto.

Nada mais instintivo e natural para o ser humano do que a busca dele pelo que ele julga lhe fazer bem. Todos nós, mesmo quando tomamos atitudes prejudiciais, em algum aspecto acreditamos estar buscando o melhor. Nesse sentido a vida humana é construída e idealizada por cada um de nós. Desde a pessoa mais dedicada à própria saúde e a mais negligente acreditam estar buscando o melhor para elas. E se elas se prejudicam propositadamente, acredite, elas acham que esse prejuízo faz bem para elas em algum nível.

Entendido esse anseio natural de todos nós, podemos entender como é fácil existir esse discurso na sociedade. A começar pela mídia que vende o tempo todo produtos e serviços que farão seus consumidores as pessoas mais realizadas do planeta. E continuando no dia a dia. É muito fácil oferecer conselhos aos outros, dizendo “Ah, ciclano, larga essa dor, vai ser feliz!”. Da mesma forma é muito fácil ver pessoas dizendo que estão vivendo tudo o que vivem para serem felizes. Estudam, trabalham, tem relacionamentos amorosos, hobbies, esportes, atividades religiosas em nome da tal felicidade e… não são felizes. Não raro são pessoas repletas de ansiedade, medos, angústias, tristezas, vivenciam diversos conflitos em suas mil atividades e carregam consigo diversas psicopatologias emocionais. Mas como essas pessoas fazem tantas coisas para serem felizes, e, na prática, estão – digamos – tão doentes da alma?

Bom, não poderia esgotar aqui todas as respostas para essa pergunta, mas certamente posso traçar, com base em minhas observações, uma delas: Muita gente diz que merece ser feliz, mas vive como se devesse propositadamente sofrer. De que adianta fazer um curso muito conceituado de Engenharia, quando, na verdade o que lhe faz brilhar os olhos é dar aulas de Matemática? Ou, como uma pessoa que nunca sentiu atração por mulheres vai achar que pode se sentir sexualmente realizada com elas? São alguns exemplos de quase infinitos possíveis. São contradições que mostram que, por algum motivo, e em nome de uma pretensa felicidade, elas escolhem o que não lhes faz feliz. Escolhem – repito, por algum motivo que visa “o melhor” – não se sentir bem.

É uma contradição muito, mas muito comum. Quantas vezes não fazemos escolhas sabendo que no final não vai ser tão bom e no fim – adivinha – não é bom mesmo. Fica aqui o convite para você, respeitável leitor(a), olhar para si mesmo e ver onde que você está se deixando em segundo plano. Onde que você diz que merece ser feliz, mas se condena, mesmo sem querer, a um lugar de não-vida, de não-paz, enfim, um lugar de infelicidade.

Quando você perceber melhor isso, fica aqui um segundo convite: ouse um novo caminho. Busque perceber melhor a você mesmo, faça psicoterapia, medite. Perceba de fato onde está o seu existir mais leve e faça as escolhas a partir dessa visão. Não viva mais só com o discurso da felicidade e atitudes de auto anulação. A vida pode ser melhor do que isso.




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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