Puxa uma cadeira, um banquinho, senta no chão, fique à vontade. Vamos conversar. Pegue um café, mas não o tome; deixe esfriar. Vamos iniciar nossa conversa, então.

Muito interessante esse seu último amor; chegou chegando, cheio de beijos e abraços, risadas, um verdadeiro mar de rosas. Aquele misto de desejo e certeza, vontade de caminhar de mãos dadas, de dividir uma vida, de apresentar à família, de estar todos os dias assim, sorrindo. E foi tão bonito! Dava certo gosto ver seus olhos brilhantes a cada mensagem recebida no celular. A forma como você se desdobrava em contar cada detalhe, sem deixar passar nem uma vírgula, demonstrando estar revivendo o momento dentro de si. Tudo tão lindo!

Agora pegue seu café; sinta o cheiro. Sentiu? É um cheiro adocicado, um pouco enjoativo, que traz à memória a sensação de algo passado. Beba seu café; Bebeu? Sim, eu sei pela sua cara que ele está pra lá de frio, grosso, trazendo ao paladar o sabor daquilo que já foi bom. Assim como o café, seu último amor, infelizmente, foi deixado de canto e esfriou.

Não porque você quis ou porque fez com que isso viesse a acontecer, mas por causa da correria entre trabalho e estudos, pela falta de tempo até para tomar banho, pela constante necessidade em terminar aquele trabalho que você havia começado na semana passada… E assim, em meio à bagunça dos seus dias a xícara de café ficou esquecida sobre a mesa do computador, e junto a ela ficou o sentimento, os momentos vividos, a pessoa que se foi.

Sim, foi difícil compreender, e pior que isso, aceitar, mas a verdade é que o que passou ficou para trás. E junto a todo esse passado é preciso embrulhar as coisas ruins e jogar fora. É como quando você acorda no sábado de manhã e percebe a xícara de café ali, esquecida, e então decide jogar aquele café fora, lavar a xícara, e tirar do seu quarto também os papeis de bala, os rascunhos que se acumulam, as roupas sujas usadas durante a semana, o tapete que precisa ser varrido.

Da mesma forma que seu quarto, seu coração necessita de uma verdadeira limpeza, de uma organizada daquelas que a mãe da gente faz enquanto estamos fora de casa, sabe? Então! É preciso organizar tudo, tirar fora o que sobrou da última pessoa que passou por você. Abrir as janelas da alma e permitir que o sol entre e renove o ambiente. Jogar fora as dúvidas sobre o que aconteceu, as tristezas, a sensação de culpa, o medo do recomeço.

Quando esperamos visita, deixamos a casa limpa, da mesma forma, para que alguém visite nosso interior, ele precisa estar com tudo em dia. A próxima pessoa que passará por você não tem culpa pela bagunça causada pela anterior. Não tem mesmo. Assim como você ela carrega consigo uma história cheia de altos e baixos e da mesma forma, você não tem culpa pelo que ela teve de enfrentar até te encontrar.

Agora, pegue outro café. Se o da garrafa estiver frio, faça outro. Encha uma xícara, e aprecie o aroma encorpado, o sabor de coisa nova. Seu próximo amor chegará até você como esse café: Bem forte, quente e doce. Não o deixe esfriar.

Beba enquanto estiver quente, sentindo em suas mãos a sensação de calor trazida por ele. Não tenha medo de se queimar; se for quente demais, você aprenderá o momento certo para degustar. Se estiver muito doce, beba-o aos poucos, para não enjoar. E se for muito forte, acrescente um pouco de água (bem quente) para torná-lo melhor ao paladar.

Só não o deixe sozinho, esfriando no canto, por medo de tomar café novo. No início, pode até ser igual a qualquer outro café, mas depois, você perceberá que cada detalhe está na medida certa para você.




Há quem diga que os olhos são a janela da alma, então, no meu caso, eles são uma janela bem grande e aberta. Amante das artes, do universo e das palavras, necessito de música para viver, dos astros e estrelas para pulsar e dos versos para existir. A publicidade me escolheu; por isso anuncio paz, promovo sorrisos e transmito intensidade. Sou colunista do Fãs da Psicanálise.

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