Ai a preguiça! – esse grande mal da sociedade muitas vezes conotado negativamente e atribuído a pessoas que não têm grandes objetivos de vida e que simplesmente não se “dão ao trabalho” de fazer aquilo que é preciso.

Não se confunda a preguiça descrita neste artigo com sintomas associados a doenças mentais, ou à procrastinação que tem um significado mais profundo e destruidor – Estamos a falar de “preguiça saudável”, que todo ser humano precisa (desde criança a idoso), fazendo pausas que o permitem refletir, descansar e motivar também.

Fernando Pessoa já nos falava sobre “o bom que é ter um livro para ler e não o fazer”. E de fato assim o é. A lição que Fernando Pessoa nos transmite é assim sobre a distinção entre o ócio e a preguiça.

O ócio está ligado à incompetência, ao descrédito, à dificuldade em seguir um caminho traçado, um conjunto de objetivos.

A preguiça não. O exercício ativo da preguiça pode ser bem libertador, porque nos atribui a responsabilidade (e a liberdade) de fazer ou não fazer uma tarefa.

Isso não implica que sejamos incompetentes, muito pelo contrário, implica que em determinado momento tenhamos a liberdade de deixar essa mesma tarefa para mais tarde, podendo até canalizar mais energias para a sua concretização no futuro, o que provavelmente nos trará um melhor desempenho.

Falando em desempenho, Bill Gates também tem uma frase interessante sobre a preguiça. O fundador da Microsoft dizia que “preferia contratar um preguiçoso porque este iria arranjar uma maneira mais eficaz de fazer o trabalho em menos tempo”.

Seguindo as suas palavras, podemos também inferir que a preguiça pode estar também ligada à eficácia, à eficiência, uma vez que se nos sentimos preguiçosos para realizar uma tarefa, mas ao mesmo tempo temos o dever de a cumprir, vamos obviamente fazê-la o mais rapidamente possível libertando tempo para fazer outras coisas que gostamos mais. Esta ação não nos torna incompetentes, desde que a façamos com dedicação e o brio necessários.

A preguiça pode funcionar aqui como um bom “gestor” (se lhe quisermos chamar assim) uma vez que ajuda a que consigamos ter tempo para desempenhar mais e mais tarefas.

Outra frase também ligada ao trabalho neste caso de Confúcio nos dizia para “escolher um trabalho que gostemos e não teremos que trabalhar um único dia na nossa vida”. Esta frase pede uma reflexão um pouco mais profunda.

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Hoje em dia, seja nas redes sociais, seja em conversas com amigos, muito se fala sobre o mau que são as segundas-feiras de manhã e o bom que são as sextas feiras à tarde. Por isso a preguiça pode também servir como um ponto de reflexão do nosso próprio caminho.

Tirando as exigências da vida que muitas vezes nos obrigam a cumprir funções que não gostamos, podemos sempre mudar, nem que seja uma pequena coisa no nosso trabalho, nas nossas relações, na nossa vida.

Cada um de nós tem os seus gostos, as suas motivações e o seu caminho, diferente de pessoa para pessoa e que o torna assim, único. Cabe a cada um refletir sobre a sua verdadeira essência e levá-la avante.

Se estamos a ser preguiçosos durante muitos meses ou até anos, talvez o caminho que estamos a seguir não é aquele que nos satisfaz realmente.

A preguiça pode assim ser um aliado muito interessante para descobrimos quem somos, para onde vamos e para onde queremos ir.

Aproveite a preguiça quando ela surgir e reflita um pouco em si e no seu caminho. Conclusões interessantes irão surgir com certeza.




Psicólogo Clínico e Forense Membro efectivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses Licenciado em Psicologia, Mestre em Medicina Legal, Dirige atualmente o seu gabinete de psicologia, colaborando também com outras 6 clínicas no Porto. Dedica-se também à formação e ensino, tendo sido recorrentemente convidado como Orador e Palestrante em várias universidades da zona norte de Portugal. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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