A gente, às vezes, fala de amor como uma causa perdida. A gente fala de amor pensando no relacionamento anterior, que não era amor. Que só parecia amor. A gente quer se segurar em alguma coisa pra falar de amor, mas o amor não tem paredes. A gente cai e espera ser abraçado. Espera flutuar.

Mas se machuca porque não tem fé no amor. Porque se doa com medo e confunde qualquer cafuné com amor, qualquer riso de canto de boca com amor. A gente tem mania de chegar no amor lotado de pesos, tralhas emocionais, bagulhos de desventuras, mas no amor não cabe passado nem excesso de expectativa.

A gente quer falar que é experiente no amor, só falar que já fez alguém feliz. No fundo, a gente nem sabe direito. Porque a gente é sempre só aprendiz. A gente tem essa mania de ter pressa no amor e atropela o sentir do outro, sem esperar os sinais, porque amar mesmo, de verdade, leva tempo.

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Conhecer é abdicar do orgulho, é dividir o que dói, é sentir queimar a própria pele enquanto o outro arde. O amor tem dessas coisas que silenciam, porque dentro dele também cabe o que ainda nem é palavra. A gente, às vezes, fala de amor com a boca cheia de medos e esquece de silenciar. A gente tem medo de ficar em silêncio perto do outro sem saber que esse é o maior diálogo entre duas almas que buscam aproximação. A gente tem medo de altura, do voo que é amar.

A gente acha que amor é causa perdida e morre sem voar. A gente cresce mutilando as asas, e fica sempre com os pés fixos no chão. A gente tem medo da vertigem. No fundo, a gente quer ancorar. A gente é um pouco covarde, por estar sempre pisando no freio pra se limitar e não sofrer. Mesmo assim, a gente sofre com o excesso da falta, com aquele ‘se’ que não virou possibilidade.

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A gente quer antecipar o amor, sem saber que é sempre estreia, acontece de formas diferentes pra cada um. A gente aproxima a coisa falando dela, mas o amor foge aos conceitos prévios e a gente tem pressa, tem fome e sede de saber que cara tem o amor.

A gente idealiza e, às vezes, passa fome. A gente costuma ver amor onde não tem. Por achar que o amor é só dar as mãos e está feita a mágica, a combinação. A gente quer que o amor aconteça de um jeito planejado, mas o amor não faz compromisso com nosso calendário. O amor é reinvenção.




Ester Chaves é escritora brasiliense. Graduada em Letras pela Universidade Católica de Brasília e Pós-Graduada em Literatura Brasileira pela mesma instituição. Atuante na vida cultural da cidade, participou de vários eventos poético-musicais. Já teve textos publicados em jornais e revistas. É colunista do site “Fãs da Psicanálise”.

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