É sempre muito fácil e muito comum ao ser humano classificar um determinado objeto ou uma situação como boa ou como ruim.

Mesmo que se trate de um julgamento subjetivo, determinar que algo, em si mesmo, seja (tranquilo e) favorável ou desfavorável talvez seja uma atitude que venha de uma atitude superficial sobre as coisas.

Vamos refletir sobre?

Há um conto oriental que pode nos ajudar nisso.

Mestre e discípulo conheceram uma família rural, cuja única fonte de sustento financeiro era uma vaquinha, graças ao seu leite e os produtos derivados.

Essa família, numerosa, obtinha pouco dinheiro, e vivia em uma condição de constante pobreza.

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O mestre, num outro momento, pediu ao discípulo que empurrasse essa vaquinha do precipício. O discípulo, incrédulo, ouviu o pedido mas atendeu ao mestre, devido ao grande respeito que este lhe infundia.

Passados alguns anos, mestre e discípulo andavam pelo local onde a família residia, e este foi passar na casa da família conhecida outrora, para pedir perdão pelo feito de anos atrás.

Entretanto, ao chegar lá, viu uma casa bem estruturada e pessoas bem vestidas.

Após ser perguntado, o chefe da família disse: “Aconteceu, numa noite, um terrível acidente, em que nossa vaca, nossa única vaca, caiu do penhasco, e ficamos sem nossa fonte de sustento. Não tivemos outra alternativa, então, a não ser buscar trabalho. Descobrimos, então, nossas próprias capacidades, e as potencializamos. Como resultado, temos hoje uma bonita e confortável casa”

A morte da vaca, e consequentemente de todo o sustento financeiro, evidentemente, se tratava de algo que provavelmente os componentes daquela família acharam ser um acontecimento negativo. Mas, no fim da história foi o melhor fato que poderia lhes ter ocorrido.

Algo que considero como bom, certamente o é porque me oferece alguma vantagem, realiza algum desejo meu.

Se penso que um emprego é algo bom para mim, é por conta da remuneração que estarei ganhando ou pela realização que a atividade me trás.

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Quando digo que um emprego é bom, não estou me referindo aos dias em que me será muito desafiante trabalhar, ou à possibilidade de ter um chefe “carrasco”, ou me referindo às horas de sono que não vou ter por precisar acordar antes de o sol nascer.

De forma similar, algo que considero como ruim assim me é porque observo apenas o aspecto desfavorável da referida situação.

Se imagino que o término de um relacionamento é ruim (quando a outra pessoa termina comigo), provavelmente é porque me sinto só, sexualmente carente, porque perco a proximidade com uma companhia que considerava de grande importância para mim, e outros motivos.

Mas nesse momento de dor e lamentação, acabo não percebendo que ganho mais espaço para mim, para realizar aquelas coisas das quais acabava abrindo mão porque minha ex parceira não gostava muito.

Não vejo também que agora posso conhecer outras pessoas, posso reconstruir minha vida a meu modo, e diversas outras vantagens.

Acaba sendo uma escolha de cada um de nós, observar tal ou qual aspecto de uma determinada situação.

A partir dessa escolha, classificamos, desejamos, rejeitamos…

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Mas em absolutamente nada na vida encontraremos algo que só traga vantagens, e igualmente nada será visto que seja só composto por desvantagens.

Compreender isso, com raciocínio e emoções, embora pareça algo simples e até mesmo trivial, é o diferencial para uma vida menos aprisionada a situações e pessoas, uma vida mais livre.




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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