Nós mulheres aprendemos desde muito cedo que o bonito é ser magra, alta, jovem, branca e de cabelos lisos. Podemos ter curvas, mas não barriga, celulite, flacidez, pêlos…

Na tv, nas revistas, nas passarelas, corpos “perfeitos”. E no espelho? Um corpo totalmente oposto àquela “perfeição”, totalmente errado, inadequado à sociedade. Sempre tem um (ou vários) defeito(s).

Primeiramente a mulher não pode ser gorda. Gordura é sinônimo de feiúra, desleixe, preguiça e até doença (mesmo não sendo verdade, na grande maioria das vezes). Uma mulher gorda tem no máximo um rosto bonito, e olhe lá.

Seu corpo é totalmente inaceitável. Não pode gostar de si mesma como ela é. Não pode usar roupas curtas, pois é uma ofensa aos olhos alheios, tem que esconder “o que não favorece”. A gorda tem que estar pelo menos querendo e tentando emagrecer. Espera-se que esteja sempre de dieta ou se sentindo culpada por comer.

A mulher magra é muito bem vinda ao mundo da moda, à publicidade, tv (de onde as gordas passam bem longe). As mulheres, em sua maioria, as olham com aprovação e inveja. Existe bullying contra meninas muito magras? Sim. Mas entre uma magra e uma gorda, a escolhida é sempre a magra, e isso vai desde um paquerinha do colégio até uma entrevista de emprego. É importante dizer que “magrofobia” não existe, gordofobia sim.

Não estou dizendo, no entanto, que tudo são flores na vida de toda mulher que não seja gorda. Se a mulher é magra a sociedade lhe empurra a ideia de que ela deve ter curvas. Magreza demais só é bom na passarela. Mulher tem que ter peito, bunda, coxas… Do contrário não é sexy, nenhum homem vai querer… Aí dá-le cirurgia plástica, academia, suplementos, remédios, anabolizantes…

Tudo em nome do corpo ideal. Afinal, ela já é magra, já foi “abençoada” por não ter gordura pra queimar, barriga pra perder… Só tem que fazer um esforço pra ganhar um pouco de “corpo” (ela já não tem um?) e ficar mais atraente (pros outros).

Tem também aquele meio termo, a mulher que não é nem gorda nem magra. Não veste 36 nem tem a barriga chapada, tem curvas e também aquelas “gordurinhas”… A grande maioria das mulheres, aliás, está nesse grupo!

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No entanto, esse corpo está longe de ser bem aceito pela sociedade e pelas próprias mulheres. Afinal, todas fomos muito bem ensinadas a desejar o “corpo perfeito”. E por essas mulheres não serem “tão gordas assim”, a pressão para que “melhorem” e se encaixem no “padrão” não é pouca.

Afinal, estão “quase lá”. Só precisam perder alguns quilinhos e para isso basta “fechar a boca”… Se a mulher perde os tais quilinhos, agora está flácida, com celulites, tem que malhar pra ter a bunda durinha, usar cremes pra acabar com as celulites, fazer lipo pra tirar gordura localizada, e por aí vai…

O problema do “padrão” de beleza é esse: NUNCA somos boas o suficiente! Estamos sempre olhando para nossas características que consideramos defeitos e nos pondo pra baixo. Adiamos nosso amor próprio para depois de alcançar o “corpo ideal”, só que ele simplesmente não existe!

O tão “padrão”, na verdade não representa ninguém. As poucas mulheres que tem o tão sonhado corpo usam e abusam de truques para obtê-lo como diversas cirurgias plásticas, cremes e tratamentos estéticos caros, horas e horas de exercícios físicos sempre com os melhores personal trainers (ou seja, coisas que a grande maioria das mortais não tem acesso) remédios, regimes extremos nada saudáveis e recursos tecnológicos como photoshop, que removem toda e qualquer “imperfeição”. Corremos atrás de um sonho inatingível, baseado em ilusões e passamos a vida toda nos odiando por ele nunca se tornar realidade.

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Embora seja quase humanamente impossível atingir o “padrão”, é difícil se livrar totalmente dele. Mesmo tendo consciência do quão absurdo ele é, desencanar e amar o próprio corpo não é tão simples, afinal foram anos de doutrinação que está entranhada na nossa cabeça.

É como se fosse uma voz interna do mal que vive fazendo cobranças baseados nas “regras” ditadas pelo “padrão”: “você está gorda e horrível, precisa emagrecer!”. Além do mais, o amor próprio, quando existe, incomoda muito, por isso sofre críticas o tempo inteiro: “Como você pode ter engordado e não estar nem aí?”; “Não vai fazer nada pra perder essa pança?”; “Toma vergonha na cara e entra logo numa academia!”; “Encontrei uma dieta maravilhosa pra você!”; “Nossa, vai comer isso tudo?”.

Muitas vezes deixamos de sair, vestir as roupas que queremos, usar biquíni, namorar, ter auto-estima, ou seja, deixamos de NOS AMAR e de VIVER PLENAMENTE por causa do “padrão”.

A falta de auto estima reflete em todos os aspectos da vida: relacionamentos, carreira, saúde física e mental, integridade, segurança, tudo! Por não se amarem como são, mulheres se submetem todos os dias à relacionamentos abusivos, muitas vezes envolvendo até agressões físicas, acreditando que aquilo é o máximo que merecem…

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Deixam de investir nas mais diversas profissões, viagens e sonhos (com possibilidades reais de se realizarem) por não acreditarem ser boas o suficiente para isso… Muitas desenvolvem distúrbios alimentares gravíssimos como anorexia, bulimia e compulsão por comida… Enfim, a lista é longa.

Isso porque estou falando apenas de um dos tipos de padronização que a sociedade nos impõe, que é o do biótipo magro… Se a gente for falar de cor de pele, cabelo, idade, classe social… a lista não tem fim! E embora padrões afetem também os homens, são imensamente mais cruéis com as mulheres.

Precisamos muito falar nesse assunto muitas e muitas vezes ainda, e não basta o debate ficar só entre minas empoderadas e bem resolvidas, que já estão no processo de auto aceitação. Isso tem que ser dito em todos os ambientes, para todas as pessoas! Chega de nos submetermos!

É preciso que nossas meninas já cresçam sabendo que são lindas como são e que não precisam correr atrás de uma perfeição que não existe. Que o padrão deveria representar o que a maioria das pessoas reais são, com suas variadas formas, pesos, alturas, cores, cabelos, curvas, marcas, pêlos, gêneros… e que tudo bem ser do jeito que é! Chega de sermos objetos que se moldam à um ideal cruel, excludente e inatingível… Chega de digladiarmos nossa auto-estima! Falo isso para mim mesma, inclusive. Vamos juntas?




Graduada em Engenharia Civil, atua como militante em movimento social. É apaixonada por animais, livros, música, filmes, séries e pelos mistérios da mente humana. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

1 COMENTÁRIO

  1. Amei esse assunto e realmente ele me fez olhar para mim de uma forma diferente e aprender a me amar como sou e não ficar correndo atrás de um “padrão” que não existe, já deixei de ir em lugares e de fazer coisas por não me amar como sou, por vergonha de mim mesma, mas agora quero aproveitar a vida e quero repassar o que está escrito nesse blog para outras meninas, pois muitas precisam, e ajuda las assim como vc, obrigada

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