Desde muito cedo na vida vamos aprendendo a nos conter.

A engolir o choro, a interromper a risada, a ponderar a língua, a ajustar os movimentos do corpo, a maneirar nos gestos.

Vamos crescendo e ficando mais regrados, mais comedidos, e isso é importante para a vida social, para respeitar o espaço alheio e o ambiente comum e ter noção dos próprios limites. Mas também acho que a disciplina excessiva das emoções pode desestabilizar uma alma.

Parece que uma pessoa adulta equilibrada é aquela que tem convicções, postura, autocontrole exacerbado, não fala na hora indevida, não titubeia nas decisões, sabe o que quer, sabe por onde vai, com quem vai e como vai.

Mas eu acho que equilíbrio mesmo é abrir-se e permitir-se expressar.

Equilíbrio é um dia aceitar a chuva de lágrimas, a desesperança, a tristeza e no outro, navegar na maré calma e morna da alegria.

Equilíbrio é gritar para extravasar, é calar quando não tiver nada para dizer. É falar pelos cotovelos quando a mente sentir vontade de celebrar e narrar histórias.

Confio mais nas pessoas que são cheias de dúvidas do que de certezas, que têm mudanças de humor, que em alguns dias têm os olhos marejados e em outro, um sorriso largo.

Acredito na importância de se permitir transbordar, deixar energias de dentro virem à tona quando elas aparecem.

Porque um choro pode ser apenas uma limpeza de algo que machucou. Mas muitos choros contidos podem afogar uma alma.

Porque uma gargalhada descomedida pode ser uma explosão de alegria momentânea, mas pequenas felicidades reprimidas podem desencadear uma apatia no olhar para o mundo.

Porque um ato de loucura, um grito, um berro, um travesseiro arremessado na parede pode ser apenas uma euforia ou uma raiva que invadiu nossas células, mas muita raiva refreada pode causar manchas irreparáveis por dentro.

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Por isso tudo, acho que bonito e equilibrado é o ser que não se envergonha de chorar, amar, sorrir, titubear, enlouquecer de vez em quando.

Equilíbrio é saber que somos seres sociais e químicos, culturais e bichos, crianças e adultos, inseguros e confiantes. Tudo junto e misturado. Aqui, agora, nesse instante.

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Clara Baccarin é paulista dos interiores, nascida nos anos 80. É escritora, poeta e agitadora cultural. Faz parte do grupo editorial Laranja Original. Publicou, pela editora Chiado, o romance poético Castelos Tropicais (2015) e a coletânea de poemas, pela editora Sempiterno (2016), Instruções para Lavar a Alma. Em 2017 lança, em parceria com músicos e compositores, o álbum Lavar a Alma, que reúne 13 de seus poemas musicados. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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