Quando te conheci vi pela primeira vez meu coração saltar. E não é um modo de falar ou uma forma excessiva de enfatizar sentimentos. Eu realmente pude ver as veias ao redor de meu peito saltarem, e de repente uma falta de ar se instalou em mim.

Naquele instante eu entendi o que era a tal química entre duas pessoas; ela não era um evento a parte, era um misto de emoções que efervesciam de dentro para fora.

Todos os dias, passava horas relembrando seu nome e imaginando todas as combinações possíveis para ele. Eu mergulhei profundo na cor dos teus olhos e percebi que você era furacão, mas também era garoa fina.

Não havia nada que não pudesse fazer se realmente quisesse, e nenhum obstáculo parecia grande o suficiente para impedir seus saltos. Eu torci por cada uma de suas vitórias, e me orgulhei dos passos que deu, não apenas por sempre dar certo, mas sim, porque era você.

Era intensa a maneira como nossas mãos se apertavam, como se buscassem por mais. E sempre que me via, você sorria, e ria com os olhos apertados e a boca bem aberta. Seus braços se abriam, e você se projetava para a direção onde eu estava, fazendo com que meu corpo também se virasse pra você.

A nossa sintonia transpassava os limites físicos, e mesmo a metros de distância eu podia observar seus olhos me procurando, e quando eles me encontravam, eu sentia sua alteração, como se a batida de uma nova música invadisse seus ouvidos.

Eu vibrei, me desesperei à procura do seu amor. Ao te abraçar sentia seu coração pulsar com a mesma força do meu e sua energia inundava cada poro do corpo. Eu sentia seu amor, mas não o via, e ao contrário do ar, sentimentos, quando não vistos, geram todas as dúvidas do mundo.

Se na segunda você me abraçava e não me permitia mais sair dali, na terça, era como se eu não estivesse presente no recinto. E na quarta, nos encontrávamos num encontro desses qualquer onde só se diz oi, para na quinta eu acordar com uma de suas mensagens tirando meu fôlego. Afinal, você queria a mim ou a certeza do meu amor?

No nosso xadrez eu era o peão, e você a rainha; não por feminino e masculino, mas pelo grau de importância. Enquanto eu fechava caminhos tentando lhe encontrar, você apreciava o jogo à uma distância confortável e segura.

A todo instante eu me entrega à morte tentando lhe proteger de qualquer perigo, e você se ocupava em dizer para si que tudo não passava de uma fase.

Eu acreditei com todas as forças que o que tínhamos (se é que já tivemos algo) era sólido e recíproco, mas não pude evitar de perceber seu desdém sobre minha insistência em permanecer num lugar apertado demais para mim.

É… Apertado. Isso mesmo. Porque eu e meus excessos lhe oferecíamos o mundo e tentávamos de todas as formas preencher cada vazio seu, mas o espaço que nos era dado em seus dias era como um galão desses que a mãe da gente deixa sobre a pia; parece bastante, mas a água tem de se ajustar às curvas tanto para entrar quanto para sair.

De longe eu observava os oceanos que você ainda ofertava a alguém que já não era mais parte dos seus dias, enquanto eu ficava com as gotas do que sobrava de afeto, e ainda festejava, transformando resquícios em uma verdadeira chuva.

Foi dando meu coração a você que eu entendi que amor é sobre ser, e quando se é, a gente simplesmente não mede esforços e nem consequências, mas quando não é, tudo o que se faz é em vão.

Eu não te culpo por não ter me percebido, mas também não posso dizer que você tenha ao menos tentado.

Talvez o problema seja que você sufocou seu coração até ele parar de gritar, ou talvez seu passado seja importante o suficiente para não lhe permitir seguir em frente. Eu não sei o que, mas sei que em algum momento algo lhe travou ao ponto de você não se dar conta de que eu estava indo, e que talvez nunca mais retornasse.

Eu sempre estive lá. Nas frases das músicas que tocavam, nos textos que líamos, nas conversas onde contávamos um ao outro sobre nossas dores. No carinho dado durante um abraço, e também na saudade que parecia vir do nada. Eu sempre estive lá… Mas você não me viu, ou se viu, não se permitiu enxergar.

Todo caso, agora eu quero ir, preciso ir, e vou. Vou me reconstruir à uma distância segura de você. Confortável só seria se fôssemos juntos, mas se você não me acompanhou até agora, é porque na verdade não pensa em fazer isso.

Por favor, não olhe para trás à minha procura, e se um dia olhar, saiba que eu esperei por você todos os dias, e que não me arrependo de nenhum deles.

Quando perceber que eu fui, já estarei longe, então, não tente me fazer voltar. Eu respeitei suas distâncias, dúvidas e silêncios, por favor, saiba respeitar minha partida. Não vou abrir nenhum abismo entre nós dois, mas também não construirei pontes.

Para trás deixo apenas o chão onde piso. E todo esse amor que me foi entregue em algumas gotas, entregue à próxima pessoa como um rio, um mar, ou ainda mais, como um oceano. Não dê pequenas demonstrações, dê inteiros. Mas dê ao próximo, pois eu que sempre estive aí, agora sou seu antigo e anterior amor.




Há quem diga que os olhos são a janela da alma, então, no meu caso, eles são uma janela bem grande e aberta. Amante das artes, do universo e das palavras, necessito de música para viver, dos astros e estrelas para pulsar e dos versos para existir. A publicidade me escolheu; por isso anuncio paz, promovo sorrisos e transmito intensidade. Sou colunista do Fãs da Psicanálise.

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