As dores do amor são tratadas com o mesmo desdém dado ao chá das três, e isso nos obriga a carregar nos ombros o peso do fracasso da relação, como se a culpa fosse toda de uma só pessoa. E então você passa a encarar a noite como uma janela aberta para a passagem dos pensamentos que dizem a todo instante que talvez, se você tivesse feito diferente naquele dia, tudo estaria de outra forma agora.

Se você não tivesse dito, ou feito, ou ido. Ou se tivesse dito, ou feito, ou ido. Se naquela noite as coisas não houvessem terminado da maneira como terminaram, ou se naquela tarde de domingo você tivesse aceitado tomar sorvete… Mas você não fez, você não disse, você não foi, você não. E isso agora é uma culpa carregada todos os dias em seu coração como uma pedra de cimento misturado a ferro que além de ser pesada, é difícil de segurar. A dúvida sobre qual caminho poderia ou deveria ter tomado consome seu interior com a mesma velocidade que uma barra de chocolate acaba na TPM.

Você não precisa chorar. Além de não precisar, não merece. Não precisa se lamentar por algo que naquele momento não permaneceria em sua vida, independente do esforço realizado. E isso não significa que esse amor não quis estar ao seu lado, ou não amava você o suficiente, ou não merecia segurar sua mão. Não, não é nada disso. Simplesmente, às vezes, as pessoas estão vivendo outro momento em suas vidas, e por difícil que seja, é preciso ter maturidade suficiente para compreender que somos feitos de fases, e é impossível alterar o rumo de nossos dias, pois, a vida é dona de cada um de nós, e não o contrário.

Não há como segurar entre as mãos um punhado de água sem que as gotas escorram pelos vãos e derramem até que todo o conteúdo tenha caído. Não é possível caminhar de um lado para outro com açúcar ou sal entre as mãos sem que os pequenos grãos comecem a cair e formem uma trilha branca quase invisível no chão. E tanto o que é líquido quanto o que é sólido não permanece em nossas mãos porque não foram feitos para estar num lugar onde há vãos; eles precisam estar presos.

E amor não é prisão. Amor é liberdade, é direito de ir e vir, é escolher permanecer, mesmo quando é possível sair. Amor é aquele bichinho de estimação que pode correr por toda a casa, e mesmo assim escolhe caminhar atrás de você em busca de atenção. Amor é aquela borboleta que mesmo podendo sobrevoar enormes campos de flores, entra pela janela da sua casa e traz cor ao ambiente.

O amor, diferente da maioria das coisas necessariamente deve estar livre, leve e solto para então se firmar e criar raízes onde foi plantado. Quanto mais abertas estiverem suas mãos, mais agarrado a elas estará o coração da outra pessoa.

Onde há liberdade há amor. E quando o outro se vai, por estranho que pareça, ele mostra que nos amou. Talvez não da maneira como esperávamos ser amados, ou mesmo do jeito como queríamos, mas nem por isso deixou de ser amor.

Às vezes, é preciso entender que o meu ciclo é diferente do seu, e por isso naquele ano em que nos conhecemos não fomos capazes de permanecer unidos em corpo. Era minha hora de estar plantado em terra, e o seu tempo de voar. Estávamos no mesmo mundo, mas em situações opostas.

Não se entristeça na busca por uma resposta que jamais virá. Não perca anos de sua vida à procura da explicação do que é inexplicável. Em seu caminho permanece quem deve permanecer, e da mesma forma, vai-se quem necessita ir. Nada é por acaso, tudo é história, consequência e aprendizado.

Quando se sentir mal pensando que a culpa foi sua, lembre-se: não foi. Não há culpa; há apenas ciclos, e cada um de nós têm de viver os seus à maneira como a vida lhe permite. Quando os ciclos se encerrarem, talvez vocês se reencontrem e juntos entrem no ciclo do re: revejam, refaçam, realizem. E talvez sigam por caminhos opostos até o fim. Mas o mais importante é que em seu coração haja paz suficiente para sempre lembrar e saber que o que tinha que acontecer, aconteceu, e nada do que você fizesse poderia mudar isso.




Há quem diga que os olhos são a janela da alma, então, no meu caso, eles são uma janela bem grande e aberta. Amante das artes, do universo e das palavras, necessito de música para viver, dos astros e estrelas para pulsar e dos versos para existir. A publicidade me escolheu; por isso anuncio paz, promovo sorrisos e transmito intensidade. Sou colunista do Fãs da Psicanálise.

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