O perdão pode ser o passo que falta para uma vida emocional mais equilibrada. Muitas pessoas acreditam que não são capazes de perdoar o parceiro que os traiu e até mesmo alguns não são capazes de perdoar algumas mentiras contadas durante o relacionamento. No entanto, o perdão deve ser exercitado até em casos imperdoáveis pois poderá trazer bloqueios em muitas áreas da vida e dificultando os próximos relacionamentos.

A dor da frustração deve ser vivida até o ponto que não atrapalhe o futuro da pessoa. Ela é necessária para reconhecer que somos responsáveis por nossos relacionamentos e ninguém é completamente vilão ou vítima da situação. Não existem situações imperdoáveis, existe o desejo de vingança mesmo que oculto, o desejo que o outro sinta o que sentimos. No nosso imaginário há a crença de que ao dar a revanche o outro pagará pelo mal infligido e então recuperaríamos nossa autoestima e recebia o que nos foi tirado, o que é completamente impossível. Não tem como apagar os fatos que aconteceram, portanto, cultivar a dor é só mais uma forma de fazer com que a situação permaneça em nossas vidas enquanto deveria virar passado.

Perdoar requer da pessoa reconhecer que é a única responsável pela permanência do seu sofrimento. Não é possível mudar o passado, contudo é possível mudar a forma como lidamos com ele. Estacionar a dor é culpa nossa!

Perdoar como dizia Comte, é cessar o ódio, não é esquecer ou apagar. É ter misericórdia e compaixão, ainda que aquela seja mais difícil, essa mais afetiva e espontânea quase sempre é possível mover. Reconhecer que todos somos seres humanos, falhos e capazes de errar assim como os outros é uma forma de se colocar no lugar do outro e entender o que o levou a agir daquela forma.

A misericórdia requer uma reflexão, uma identificação com o mal, que o ladrão cometeu um erro que já pensou em cometer quando jovem, por exemplo. E sobretudo os atos mais horríveis são os que mais necessitam de um olhar misericordioso. Para que existiria o perdão se fosse usado apenas para bagatelas?

“A misericórdia é a virtude do perdão, seu segredo e sua verdade”– Comte

O amor é rarefeito, somos incapazes de fazer nascer misericórdia do amor com aqueles que são maus. Não sabemos amar nem mesmo os bons, como amaríamos os canalhas? Nesses casos há a piedade como essência, mesmo o corpo desejando punir, ele se inclina ao sofrimento do próximo ao tentar poupá-lo.

O canalha é prisioneiro de si, de sua tolice. Ele não escolheu livremente ser assim, portanto acreditar que esse é incompreensível, seria prejudicar nós mesmos. O que nos custará se assim fizesse alegremente combatendo o ódio em nós? Ódio somado á Ódio nos faz mais cúmplices da situação do que vítimas, como dizia Epicteto: “Homem, se for absolutamente necessário que o mal em outrem te faça experimentar um sentimento contrário à natureza que antes a piedade que ódio”.

Leia Mais: Como o perdão pode melhorar a saúde mental

Certo conto dizia que uma criança estava sempre de mau humor, sentia ódio e brigava com seus colegas de sala. Certo dia, seu pai sugeriu martelar um prego na porta do seu quarto sempre que ele discutisse com um colega. O menino martelou muitos pregos na porta, mas como isso era um grande esforço, ele parou de discutir com seus colegas. O pai sugeriu tirar um prego por cada dia em que ele não tivesse se irritado, e a criança assim o fez, mas o pai então mostrou as marcas deixadas pelos pregos na porta e disse para ele: jamais esqueça disso, a raiva e ódio deixam marcas em nossos corações.

Por trás da raiva e do ódio podemos encontrar a baixa autoestima, a insegurança, a imaturidade emocional, o egoísmo, a impaciência, a falta de tolerância ou a frustração. A raiva é a armadura com a qual uma pessoa pode proteger-se contra a impotência de que, às vezes, seus desejos possam não ser realizados. Dessa forma retira da pessoa a capacidade de racionalizar e entender a situação e resolver os conflitos existentes, a falta de empatia com os outros o faz acreditar que está sempre certo.

Família

Muitos dos problemas que possuímos atualmente é por conta de uma situação que vivemos na infância, quando crianças somos egocêntricos por natureza e acreditamos que somos o centro do universo e consequentemente responsáveis pelo que acontece em nossa volta. Porém, não sabemos que nossos pais por exemplo, podem estar vivendo outras situações totalmente problemáticas. Com isso, ao se tornar adulto, investigar o passado é um dos primeiros passos para a cura de alguma mágoa. Portanto, o olhar de empatia é uma das demonstrações mais belas de respeito e amor ao outro.

“Os filhos começam por amar os pais e quando crescem julgam-nos; às vezes, perdoam-nos” Oscar Wilde

Confiança

Muitas das vezes a responsabilidade pela situação é mais nossa do que da pessoa que “errou”, criamos expectativas que não condizem com a realidade, ou até mesmo com a proposta do outro.

O ato de perdoar nos relacionamentos amorosos é ainda mais difícil por conta de enxergar o parceiro como o ponto de equilíbrio da vida, como se o que viesse da pessoa fosse muito mais sensível do que os outros. A confiança depositada no parceiro é excessiva e um simples erro pode significar para algumas pessoas o pior ataque a receber. Afinal a maior decepção vem de quem nunca esperamos.

Traição

A traição é considerada para muitos em um relacionamento como o ato imperdoável em um relacionamento e na maioria dos casos é o grande motivo dos divórcios.

Perdoar uma traição significa antes de tudo, perdoar a si mesmo: assumir seu aprendizado na situação e só assim será capaz de enxergar a verdade do outro e assim, perdoá-lo. Se isso significa que vai haver reconciliação ou não, não importa. Sem o autoperdão, a lição que a traição veio mostrar continua não aprendida. A raiz da traição continua não resolvida dentro de você, e futuramente ela se mostrará novamente em outra situação desagradável, ou até mesmo em outra traição, seja com o mesmo parceiro ou com outro.

Deve haver uma reflexão sobre os pontos do relacionamento e se houver negligências no amor, os erros e lições a serem aprendidas. É preciso levar em conta as responsabilidades que se tem para que a situação chegasse a esse ponto. Não é culpar a si mesmo! É reconhecer as ilusões e expectativas, as vezes o parceiro sempre se mostrou indisposto a um relacionamento fiel e mesmo assim você quis acreditar que daria certo ou até mesmo o relacionamento não estava dando certo e ambos não foram capazes de terminar.

Conhecer os motivos que levou o outro a agir assim é uma construção pessoal, seja para si, o atual relacionamento ou até mesmo para relacionamentos futuros, assim os possíveis erros não seriam levados para a vida em diante.




Colunista da Revista Atrevida cerca de 6 anos, tem formação e trabalho em Psicanálise e Terapia Ericsoniana. Pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior, Psicologia e Psiquiatria da Infância e Adolescência, Neuropsicologia e Teologia. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui