Tudo está muito veloz nos tempos de hoje. Ao acordar temos a nossa vida de corpo presente e o mundo virtual, que se expressa através de aplicativos de comunicação, redes sociais, emails, etc.

Essa enxurrada de comunicação, somada às atribuições naturais dos papéis que ocupamos a cada dia faz de nós integrantes de um exército muito peculiar: o das pessoas que resolvem muitas coisas ao mesmo tempo.

Diante de tantas demandas é mais do que compreensível que queiramos responder a todas. É minha mãe pedindo um favor, é minha necessidade de estudar e cumprir as tarefas do trabalho, é convite de amigos… ufa! E muitas vezes tudo ao mesmo tempo. Muita gente diz que consegue perfeitamente dar conta de várias coisas ao mesmo tempo, mesmo que a custas de muito estresse. Certamente. Mas será que ao final do dia os corpos dessas pessoas estão satisfeitos? Será que conseguem dar conta a ponto de terem condições de aproveitar os resultados desse esforço?

Quando resolvo muitas coisas ao mesmo tempo, provavelmente estou criando novos problemas. Isso por quê? Porque quando faço algo já pensando e ansiando por outra coisa, me afasto do momento presente. O gasto de energia para se manter fora do aqui-e-agora é sempre enorme. Por exemplo, quando estou escrevendo esse texto já preocupado com o horário de buscar meu filho na escola, minha escrita é preocupada. Estou vendo as ideias que me surgem, escrevo, mas estou também com a mente no relógio e não tenho a serenidade necessária para que surjam mais e melhores ideias. Meu desejo passa a ser de “me livrar” logo do texto. Por outro lado, quando vou buscar meu filho na escola, guardando essa vontade de continuar a escrever meu texto, não consigo dar a atenção e a alegria que gostaria para o meu pequeno. Vejo nele, nesse momento, um fator de atraso em minha vida.

Essas pequenas contrariedades geram repercussões físicas no corpo. A musculatura de meu ombro fica tensa, meu coração e minha respiração aceleram, e quando sinto raiva da situação posso sentir dor no estômago e ter dificuldade para digerir, ou sentir vontade de comer mais para aliviar essa ansiedade constante de minha vida. Isso quando não sinto dores de cabeça, perco a fome, sinto dor nos olhos… diversas são as consequências possíveis desse tipo de postura mental dividida e ansiosa. Muitas vezes achamos que estamos super bem, mas o corpo é um excelente termômetro para saber se estamos enganados ou não quanto a isso.

Mas, Vitor, a vida me convoca a tantas coisas ao mesmo tempo… como não embarcar nessa correria? Pois é, querido(a) leitor(a). Se eu quero vivenciar as possibilidades da existência, não tem como fugir das exigências da vida. Se tenho filho, preciso cuidar dele, se tenho texto a escrever, preciso me dedicar a isso também. Entretanto, a forma como damos conta das demandas será sempre escolha nossa.

É possível resolver uma coisa de cada vez, mas para isso é necessário abrir mão da necessidade de controlar as outras coisas. No exemplo supracitado eu deixo de escrever com tranquilidade por estar preocupado com o horário de buscar meu filho na escola. Ora, se estou achando que meu horário tá apertado, porque não parar de escrever simplesmente e ir logo buscar o filho? Estarei inteiro até então no meu texto e estarei inteiro para meu filho. E assim que eu perceber que meu filho está bem, dar atenção para ele, é o momento de dar uma pausa dele e voltar a escrever. Uma coisa de cada vez.

Quando estou resolvendo algo, mas de olho no Whatsapp, vendo os emails que chegam, preocupado com horário apertado, na verdade não estou aproveitando muito nada. Estou deixando de vivenciar o que há de criativo em mim, e vivo ao máximo nesse “piloto automático”, pois para dar conta de tanta coisa e com tanta velocidade, só me utilizando de respostas condicionadas. Mas se quero ser criativo e original, ou se simplesmente quero estar com mais saúde mental e física nas minhas tarefas, é preciso dedicação integral, a cada coisa, a cada momento.

Que tal viver uma coisa a cada momento? Fica o convite e a reflexão para que percebamos nossa capacidade de estar melhor diante das tarefas que nos são exigidas e de criar soluções criativas para os desafios. Mas é preciso abrir mão de se “abraçar o mundo” e, humildemente, assumir que a cabeça é uma só. Se quiser, eu posso assumir muitos desafios e empreitadas, mas cada coisa a seu tempo.




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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