Agradinho para lá, agradinho para cá. Rasgação de seda. Proteção. Troca de favores. Não suporto. Não vendo minha alma. Não permito ficar devendo. Detesto sujeira e limpeza pesada. Ah, vida!

Quantas vezes nos entregamos por carência. Quantas vezes agradamos mesmo sem vontade. Quantas vezes dizemos palavras para agradar, apenas. Quantas vezes nos colocamos entre a cruz e a espada para não frustrar alguém. Quantas vezes fingimos que tudo está bem para não magoarmos. Quantas vezes somos bondade, somos amor gratuito e também trouxa.

Vivemos, às vezes, um círculo vicioso desordenado, porque aprendemos que ser bom é melhor do que ser qualquer coisa. Tudo bem! Eu acredito na bondade, mas não acredito em bonzinhos demais, porque tudo cansa. Ser bom é diferente de ser trouxa, de ser capacho, de ser perfeito. Eu acredito nas pessoas que se doam e se desdobram, mas não acredito em alguém que se permite ser “qualquer um” para ser bom.

Bondade é sinônimo de gratidão, e trouxa é sinônimo de idiota mesmo. Pessoas do bem impõem limites e sabem a definição de amor perfeito. Não se pode abaixar muito, porque senão acaba perdendo o controle e caindo.

Chega um determinado tempo da vida que vamos nos desprendendo de conceitos aceitos de nossos pais, de acreditar em uma sociedade ainda em processo de lapidação para tentarmos outras opções. Nesses rompimentos aprendemos a desconstruir alguns princípios para nos tornarmos livres. E nessa possibilidade de melhoria pessoal, percebemos que ser bom não permite que o outro faça de nós o que bem quer, porque não existe amor ou consideração quando há humilhação e amém para tudo.

A vida, às vezes, é bem sacana com a gente, eu até entendo. Mas, não entendo porque tem tanta gente que é inferno, que finge ser bom. Eu não sou nada, apenas faço questão de não ser mais trouxa. Ser bom não tem limites, mas ser trouxa, não tem nada de cristão modelo, porque santo de verdade tiveram seus pecados tão parecidos quantos aos nossos. Ainda não cheguei na bondade, digo paciência de Jó. Ainda estou na fase para tentar o meu melhor, às vezes erro feio, outras ganho, mas continuo tentando.

Deixei de ser trouxa quando percebi que não tem nada melhor do que ser bom. Ser bom é ser de tudo um pouco, mesmo que medindo, errando, acertando e perdoando… ás vezes sendo chato também. Agora, eu imponho, coloco meus pontos de vistas e não permito que pisem em mim. Não cheguei a perfeição.

Ser trouxa tem limite, é verdade. E ser bonzinho, bem trouxinha mesmo, não te leva para lugar algum, apenas te deixa irritado e doente da alma, porque a raiva consegue te fazer uma pessoa ruim. Então, seja bom.

Imagem: Christopher Harris




Simone Guerra é mãe, escritora, professora e encantada pela vida. Brasileira morando na Holanda. Ela não é assim e nem assada, mas sim no ponto. Transforma em palavras tudo o que o coração sente e a alma vive intensamente. Apaixonada por artes, culturas, línguas e linguagem. Não dispensa bolo com café e um dedinho de prosa.

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