O presente texto nos convoca a refletir sobre uma questão importante e repleta de sutilezas. Afinal de contas, todas as pessoas em algum momento da vida provavelmente vivenciaram um conflito interno referente a essa questão: qual o problema de eu querer o melhor para mim?

Para evitar gastar um excesso de energia quando esta problemática nos surge é importante buscar enxergar melhor o assunto.

Primeiramente, que “mim” é esse? Muitas vezes temos a compreensível ilusão de que somos limitados por uma imagem e um corpo. O que enxergo em um espelho, sou eu. Meu rosto, meu corpo, e todos os comportamentos desse complexo psicobiofísico ao qual atribuo um nome. Mas será que sou só isso mesmo? Defendo aqui que não.

Desde o nascimento, recebemos diversos alimentos. Leite materno, alimentos pastosos, sólidos, frutas, bebemos água, etc. Recebemos alimento psíquico, com a educação dos pais (ou de quem assume esse papel), a influência de amigos, e pessoas em geral que nos cercam. Recebemos alimento intelectual na escola e também através de quem está conosco, sem falar do alimento cultural, através de hábitos e comportamentos que vemos o tempo todo ao nosso redor.

Ora, estamos enormemente entrelaçados, desde o nascimento até o dia de hoje, com as pessoas mais próximas e até com as mais distantes, sem falar nos diversos seres vivos, meio ambiente… Tudo isso faz de mim, juntamente com minhas escolhas, quem eu denomino de “eu”.

Agora voltemos para a pergunta que intitula o texto. Algum problema em querer o melhor para mim? Vivemos em um contexto social regido por vários ideais. Precisamos ser proativos e criativos para obter sucesso profissional. Precisamos ser solidários e caridosos para sermos considerados bons cidadãos e bons familiares. Esses ideais regem nossos comportamentos muitas vezes, e nos confunde nessa busca do melhor.

Será que o melhor pra mim é ignorar e desrespeitar o espaço do meu colega de trabalho para conseguir uma promoção no emprego? Ou, por outro lado, será que o melhor pra minha consciência é me submeter aos caprichos de um familiar controlador?

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Todo ser humano naturalmente busca o melhor para si. É o impulso básico a nos fazer tomar todas as decisões na existência. Mesmo quando uma pessoa faz uma escolha que a prejudica, ela realmente está buscando o que enxerga como sendo o melhor. Se não busca outra coisa, é porque não está de fato percebendo outras possibilidades.

Não há saída, buscaremos SEMPRE o melhor. Logo, não só é muito saudável, como é a única opção. Mas, quando percebemos quem é, de forma mais profunda, esse “eu”, as decisões geram menos arrependimentos, menos sofrimento.

Quando compreendo que apesar dos desejos do meu familiar controlador eu também tenho desejos, e que é importante (e saudável) eu construir um espaço meu, sem prejudicar ninguém, percebo que o melhor pra mim é frustrar as tentativas de controle sobre mim investidas. Da mesma forma, se entendo que o meu colega de trabalho tem suas potencialidades, seus direitos e também seu espaço, o melhor para mim, além de buscar sim melhorar meu desempenho, será respeitar meu colega.

Afinal, numa instituição, qualquer que seja, meu colega é meu parceiro para atingir os objetivos da mesma. Prejudicá-lo pode ser prejudicar a todos, inclusive a minha almejada promoção. Passar por cima dele, além de ser uma atitude ilusória e antiética, também não é inteligente.

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Posso e devo querer o melhor para mim. Todo ser humano, para continuar vivendo bem, precisa ver sentido na existência. E a única coisa que dá sentido à existência é a certeza de que ela pode nos proporcionar a sensação de plenitude, de felicidade, mesmo que em singelos e breves momentos. Entretanto, o “eu” é muito mais do que se vê no espelho. Muito mais do que falam sobre mim. Ele se fortalece antes pela cooperação do que pela competição.

Antes pela certeza do que pela dúvida. Antes pela coragem de se assumir riscos do que pelo medo que me paralisa. Então busque o melhor sempre. Tendo a certeza de que a melhor forma de fazê-lo será perceber melhor quem de fato você é.




Psicólogo, reside no Rio de Janeiro e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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