Eu me apego a todas as coisas que diariamente tiram um sorriso do meu rosto. Seja meio tímido, meio frouxo ou escancarado.

Eu me apego ao passarinho que canta em minha janela fazendo de minhas manhãs mais vivas. Eu me apego à minha mãe que me acorda todos os dias com cheirinho de café. Eu me apego ao frescor do amaciante que torna meu cobertor mais perfeito e me apego ao cobertor também, na sensação dele se enroscando em minha pele.

Eu me apego ao meu cachorro que me dá alergia e inclusive faz xixi no meu sofá. Eu me apego ao gato da vizinha que de vez em quando vem me dar um “olá”. Eu me apego as minhas amigas que mesmo ausentes ainda estão lá. Eu me apego. Gosto de me apegar.

Dia desses conheci um cara. Ele sorriu para mim. Entregou-me um chocolate no meio da faculdade e disse que queria adoçar ainda mais o meu dia, no final da tarde. E eu me apeguei alí. Eu me apeguei porque ele me fez sorrir de volta. E me apeguei também à paquera que ele me proporcionou. E qual o problema em se apegar? Medo de se decepcionar?

Nos decepcionamos diariamente com tudo à nossa volta. Criamos expectativas e as pessoas não as cumprem. Todo mundo falha. Eu e você também. Nos machucamos dia sim e dia não. Com isso, crescemos, amadurecemos. Seguimos em frente. Mas qual o sentido de blindar o coração contra envolvimentos ou contra a fé por causa de algumas decepções do passado e o medo do futuro? O sentido é não sofrer?

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Se você não sofre na vida, se não passa por situações difíceis como aprenderá a viver? Impossível. A dor fortalece. Não devemos ter medo do apego, mas sim do desapego. Porque o desapego não faz parte da natureza humana.

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O desapego é cruel, é frio. Desapegando do que nos faz bem com medo que um dia nos faça mal é um ato extremamente covarde. Ninguém pode evitar sofrimento. Então porque economizar alegria?

Desapegando você pode achar que está protegido contra todo o mal. Mas não está. Você estará sofrendo sozinho sem perceber. E um dia, meu caro, um dia terá consciência de tudo que viu perder.

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Eu me apego sim ao cara do sorriso galanteador.  Por isso tivemos um jantar maravilhoso, regado a papo bom e caipirinha. Embora não saiba se o verei amanhã, me apegarei também ao beijo gostoso que ele me presenteou ao fim do dia. Sonharei com seu sabor cheio de expectativas. E se ao final ele não aparecer mais, eu desapego. Como tem que ser. Depois da tentativa, Depois da entrega. Não antes de saber o que pode ou não acontecer.

Apegue-se também. Apegar faz bem.




Publicitária por formação, aeromoça por opção e escritora por paixão. Virginiana, perfeccionista, mãe do Henri. Entre fraldas e mamadeiras, entre pousos e decolagens, entre artes e artimanhas, ela escreve. Escreve porque para ela, escrever é como respirar: indispensável à vida! É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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