E então você se percebe num mundo onde todos devem pensar fora da caixa.

Ter o melhor celular, ser linda, magra, jovem e bem sucedida… Trivial não é!?

Você corre atrás de um milhão de coisas

Tenta consumi-las, todas!

Crê em “fazer e acontecer”

Dorme pouco, malha muito

Come sem prazer, mas acredita numa alimentação ideal que seja qualquer uma delas: vegana, sem glúten, sem lactose… sem nada.

A roupa é tumbler, as poses de blogueira, it girl

1000 curtidas, não menos, porque você sempre arrasa!!

Além de ter que provar que é interessante, tem que ser inteligente, pós graduada, mestre, quem sabe, PhD.

Não, não precisa ser mãe, mas se for, tem que ter filhos lindos, felizes e educados.

Todos fofos nas redes. Super expostos e saudáveis. E eles se inspiram em você. Desde cedo com seus dedinhos rápidos, entram em todos os aplicativos e talvez até tenham seu próprio canal no Youtube.

Não, não há frustração. Ela não é permitida! Dá se um jeito de atender a todos os desejos dos pequenos.

E há quem diga que isso tudo não é felicidade. Como assim?

Estou dizendo que essa felicidade é medíocre? Não!

Essa felicidade é inexistente!

Sabe-se que suicidas sorriam muito na véspera; casais, por vezes, tem dentes de marfim a desfilar por fotos entre uma traição e outra; e avós, são abandonados, se não fisicamente, emocionalmente durante o ano todo, mas, estão presentes na foto de Natal.

A felicidade é medíocre, sim! Porque ela surge nos momentos efêmeros de pequenas vitórias, no sorriso de quem se ama, na sensação do dever cumprido, nas invisíveis e reais trocas entre pessoas que decidem ser “de verdade” em dado momento, nas peripécias de um gatinho filhote, no cheiro do café da bisa, no primeiro pingo de chuva de verão, no vendaval que o vento faz nos cabelos comunicando a mudança de tempo, no momento secreto e silencioso entre mãe e bebê durante a mamada.

Coisas assim, que nos remetem a memórias afetivas tão fortes.

Coisas assim que não tem valor capital, são medíocres!

Sem valor comercial nem de status social.

Às vezes mais efêmeras que o clique da foto, ou incaptáveis por qualquer lente, essas felicidades podem ser pouco valorizadas, mas, só quem sabe o valor das coisas reais entende que o tempero da felicidade pode ser algo medíocre sim.

Médio, mediano, passável, como consta nos dicionários, sofrível se preferir, até porque quem conhece o sofrimento, valoriza toda centelha que desperta essas emoções tão belas, como a satisfação e a alegria, partículas participantes da felicidade. Então, é disso que se trata.

Vou usar uma expressão popular, com o perdão da língua portuguesa: “ Seje menas!” . Pra você pensar!

Menos é mais. Ser menos é poder mais. É abrir possibilidades.

É não estar restrito ao seu título universitário, nem a quantidade de seguidores.

Ser menos é permitir-se ser você.

E se dessa mediocridade a sofisticação surgir, parabéns para você que entendeu que para viver não é necessário ser escravo de um dispositivo móvel, e sim, estar em contato com as próprias emoções, com os vínculos que cria e cultiva e com o sensorial da pele, que é mais real que qualquer stalkeada. E que dá mais trabalho e também mais sabor, saber olhar nos olhos e ganhar o like desse olhar que te vê de verdade.

Autora: Sibila Malfatti Mozer, psicóloga.

(Imagem: Reprodução)




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

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