Sentei para conversar comigo. Queria falar daquelas coisas já no passo do improtelável.

Não marquei horário para evitar desistência. No meio de tantas renúncias era possível acontecer mais alguma inesperada.

Fiz o inverso das tentativas de reconciliação comigo.

Não quis me olhar nos olhos.

Olhei dos olhos para dentro, buscando o espelho da alma. Um reflexo. A desnudez sensata, sem maquiagens de qualquer ego que fosse.

Parei por algum momento, deixando a turbulência do primeiro encontro passar.

Acessei meus sentimentos.

Acesos na incandescência da ebulição.

Como se a água de dentro de mim fosse fervura e fervor de devoção inevitável.

Havia me acostumado com tudo isto.

Em me inundar de tudo e de tanto. Pouco a pouco ou em turbilhão.

Não quis me olhar nos olhos.

Olhei dos olhos para dentro.

Percorri as emoções, como se fizesse delas uma música.

Senti sinfonias. Algumas fúnebres e estrondosas. Outras, no ritmo do meu peito, em nuances cardíacas apaixonantes. Foi onde encontrei conforto. Era como uma almofada no chão duro. Como flor em terra árida. Como vela na escuridão.

Por dentro dos meus olhos.

Dos olhos para dentro.

Numa passagem secreta. Percorri a minha trilha sonora. Percorri o meu caminho.

De dentro.

Do peito.

Dos olhos para dentro.

Que nunca mais jorraram uma gota sequer.

Nem dos olhos para dentro. Nem dos olhos para fora.

(Autora: Mônica Kikuti)
(Fonte: cabecaliberta.wordpress.com)
* Texto publicado com a autorização da autora




Mônica Kikuti é cronista e colunista do site Fãs da Psicanálise.

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