Sentimentos exacerbados, dores amplificadas, mente borbulhante, angústia com o que não lhe diz respeito, intuição aguçada, espontaneidade inocente. Talvez você também seja um hipersensível.

Para um hipersensível, diagnosticar-se como tal é algo muito importante. Na verdade, um divisor de águas. Enfim, começamos a nos entender.

Não somos exagerados, mimados ou dramáticos, como quase nos fizeram acreditar. Somos dotados de uma característica peculiar e determinante, a qual, por não podermos abrir mão, é necessário que aprendamos a manejar da melhor forma possível.

Mesmo com o passar do tempo, é difícil chegarmos a uma conclusão exata de quanto da hipersensibilidade é “defeito” (negativo) e do quanto é “qualidade” (positivo). Mas, é o que nos adjetiva, nos compõe, nos impulsiona. É, de nós, inerente, irretocável e intransferível. Resta-nos aceitá-la.

Em razão da sensibilidade exacerbada, a dor, para nós, é – de fato – muito mais intensa. Tanto a física, quanto a emocional. A recuperação de uma cirurgia é muito mais penosa e demorada, por exemplo. Os exercícios físicos nos desgastam mais que aos demais. Alguns procedimentos estéticos são um tanto doloridos para nós. Uma gripe tem o poder de nos incapacitar. Entendemos, então, que não podemos servir de parâmetro para muita coisa.

Os sentimentos, da mesma forma, são elevados ao cubo. Efetivamente, uma “brincadeira-verdade” pode nos fazer sentir muito mal. Indiferenças nos entristecem bastante. Grosserias nos destroem. Outrossim, Barulhos excessivos afetam bastante os que sentem demais. Podemos ficar desconcertados com músicas muito altas, máquinas trabalhando ou pessoas gritando.

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Muitas coisas que podem não ter grande relevância para a maioria das pessoas, para nós são essenciais, e seria interessante que os que conosco convivem soubessem medir as palavras usadas, lembrar datas marcantes, atentar ao tom de voz, evitar “zoadas-inocentes”, repetir declarações, evitar estressores desnecessários.

Evitamos conflitos ao máximo. Não apenas os que nos envolvem, mas qualquer conflito. Presenciar uma agressão entre estranhos, por exemplo, pode nos fazer sentir muito mal, mesmo. Sentimos os golpes quase como se fossem dados em nós.

Inclusive, qualquer espécie de constrangimento, para nós, reflete-se de forma exacerbada. Presenciar uma pessoa sendo colocada numa saia justa, ou sendo xingada, exemplificamente, nos deixa desconfortáveis também. Os evitamos, então, a todo custo.

Presenciar injustiças nos faz estremecer. Podemos não ter nenhuma relação com a situação, mas não conseguimos nos manter neutros. Se, por alguma razão, não nos envolvermos – de fato – no ocorrido, certamente ficaremos com aquilo “matutando” por tempos dentro do nosso ser.

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Empatia também é uma palavra que nos define. Moradores de rua, crianças carentes e pessoas doentes nos fazem murchar. Ver um animalzinho morrer pode acabar com o nosso dia. Até mesmo as tristes e violentas histórias passadas cotidianamente nos noticiários nos fazem muito mal. Melhor manter distância.

O sofrimento alheio nos atinge diretamente. Faz doer nosso coração. Queremos ajudar a todos que vemos necessitar. Não entendemos como podemos viver leve e alegremente em um mundo onde muitos estão passando por grandes dificuldades, das mais diversas ordens. Nossa compaixão, desta forma, é imensa. Às vezes, pode até nos causar transtornos.

Temos a vantagem, por outro lado, de ficarmos bem quando sozinhos. Na verdade, um pouco de solidão é essencial para um hipersensível. Precisamos acalmar a mente, colocar a casa em ordem, dar uma aliviada. O silêncio, nesse ponto, é fundamental.

Expressamos nossos sentimentos com mais facilidade do que os demais. Se estamos tristes ou emocionados, chorar não é problema. Aliás, choramos bastante, às vezes até sem saber exatamente por quê. Talvez, excesso de informação (que nos embaralha, diga-se de passagem). É um alívio, enfim. Uma forma de extravasar o que não cabe mais dentro de nós.

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Contudo, também rimos sem fazer cerimônia. Quando algo é engraçado, divertido ou excitante, ora, não vemos porque reprimir nosso sentimento. Somos espontâneos. Nos envolvemos e nos empolgamos com facilidade. Às vezes passamos por inocentes demais.

Também somos intuitivos e, não raro, captamos emoções e sensações dos ambientes. Sentimos quando não somos bem vindos, quando a situação é forçada, quando a intenção não é tão boa assim. Deveriam dar mais crédito aos nossos insights.

Um dos pontos negativos, outrossim, é não esquecermos tão fácil as coisas. Temos uma boa memória. Lembramos por tempos humilhações, desfeitas, indelicadezas, desconsiderações. Não que as fiquemos remoendo, mas, em algum momento, sua ocorrência será recordada (ainda que não necessariamente manifestada).

Somos pensadores profundos. Nossa mente, efetivamente, borbulha (ainda que saibamos que isso nos consome). Procuramos explicações, soluções, inovações. O comportamento humano nos fascina. A dinâmica da vida – e da morte -, igualmente. Vivemos tentando entender o mundo. Buscar o sentido das coisas. Encontrarmo-nos. Conhecermo-nos. Desenvolvermo-nos.

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Apreciamos as sutilezas. Um céu estrelado. Um toque leve na nossa mão. Um aroma que surge inesperadamente no ar. Um por do sol multicolorido. Um som que toca o nosso coração. Um poema que parece nos traduzir. Um olhar que nos desnuda. Tudo isso nos fascina.

É trabalhoso. É sofrível. É, muitas vezes, exaustivo. Mas é gostoso. É encantador. Na verdade, essencial. Não saberíamos viver de outra forma, com outra intensidade. Nosso tom é esse. A hipersensibilidade.

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Servidora pública de profissão, escritora de coração. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

21 COMENTÁRIOS

  1. Creio que seja por ai…me sinto assim em cada situação descrevida. Seria portanto eu, uma pessoa hipersensivel?? Pois nao gosto de brigar, simplesmente me afasto para nao sofrer mais do que ja esta a sofrer…

  2. Fiquei tão impressionada lendo esse artigo, que me peguei sorrindo várias vezes. A autora me descreveu, “da cabeça aos pés”. Nunca gostei muito de ser assim, sofro muito, sempre vi essa forma de ser como algo negativo!! Pelo menos vejo que não sou a única, como pensava ser… talvez agora, depois dessa leitura, eu consiga me ver com outros olhos. Obrigada Susiane Canal!

  3. Esse texto me chegou em boa hora…momento em que administro o luto da perda de um amigo que embora não tivesse convívio diário era alguém muito especial! Sua partida me colocou diante de vários sentimentos e de repente me vi chorando como a muito não fazia. Eu me defino como hiper sensível, mas para os meus familiares isso soa como fragilidade/inocência. Sou extrovertida mas em determinadas situações sou tímida, então eles não conseguem entender essa dualidade… Vou imprimir e distribuir, assim quem sabe eles entendem a proporção do que sinto…Grata Susiane por abordar tema tão complexo e pouco conhecido.

  4. Sim, pode até ser bonito e às vezes enjoativo, pq há pessoas que não nos entendem…
    Mas, o pior de tudo são aquelas pessoas que nos traem, nos humilham, nos ludibriam, e tem até mesmo nos roubam materialmente mesmo! E tem pessoas assim, que ainda tem a capacidade de querer reverter situações tão tristes e desumanas para conosco.
    O bom de ter essa sensibilidade é que deito minha cabecinha no travesseiro leve, por muitas vezes triste, magoada e querendo entender o porque que aquele amigo, familiar, colega de trabalho fez aquilo comigo! Hoje, já com quase cinquenta anos, mais madura, machucada e tentando me proteger um pouco mais, sei que o problema não é comigo! É de quem não sabe receber amor, é de quem não tem ética, é do hipócrita, é de quem não tem uma autocrítica e uma autoestima bem construída, é de quem não aplica sua religiosidade nas suas ações… Enfim, o problema não é meu é dele, é dela!
    Sendo hipersensíves tornamos mundo omelhor, com certaza, amém!
    Hoje, procuro me preservar dos seres humanos aproveitadores, só que isso traz solidão, mas aprendi a conviver bem comigo mesmo, e a quem eu realmente interesso, estará ao meu lado. A quem posso estender a mão, continuou fazendo, mesmo com meus sacrifícios… Quem desfruta do meu choro fácil, de me ver chorando no final de novelas e de filmes e não se aproveita dessa sensibilidade é gente, não precisa ter hipersensibilidade precisa ser um Ser.
    Ainda me trabalho todos os dias! Fruto de terapias e de minha religiosidade, a primeira me fortalece aqui na terra a segunda me fortalece com Deus!
    Obrigadaaaaaaaaa a autora do texto e a página. Me emocionei lendo esse descrito de minha pessoa, lógico que chorei, rsrsrs.

  5. Exatamente eu! Só faltou a questão de que os hipersensíveis costumam ser independentes, não por orgulho, nada disso, aliás mto longe disso, mas sim pelo simples fato de não gostarmos de atrapalhar ninguém, sabemos que de certa forma as pessoas podem dispor de um tempo para nós que na vdd nós gostaríamos que elas dispusessem apenas a elas, sabemos o grande valor do tempo e temos a certeza de cada milésimo de segundo é gigantemente preciso e raro, desta forma os hipersensíveis vêem isso como uma forma justa de se viver um para p outro.
    Mto obrigada por ter me ajudar a me reencontrar. Bj

  6. Que bom ler um texto que me define!!! Sou quase exatamente assim…. e ainda não encontrei uma pessoa que fosse como eu, embora eu me dê muito bem com pessoas diferentes de mim….Mas é bom saber que tenho “ almas gêmeas “ neste mundão…..
    Você soube trazer luz para algumas coisas que sinto, que nem a terapia resolveu- entendi porque não resolveu: a gente é como é e por incrível que possa parecer, realmente gostamos de ser assim…..
    Obrigada pelo texto e por sua sensibilidade.

  7. Texto lindo!! Me vi em cada palavra. E fiquei feliz em ler os comentarios e saber que não estou sozinha que existe um “nome” que não sou a fraca ou a chorona e não preciso me odiar por não ser igual a todo mundo, posso me aceitar por sentir as coisas dessa forma.. Muito Obrigada!!

  8. Nossa, que texto lindo. Serviu de espelho para mim. Obrigada pela clareza e sutileza das palavras. Sinto-me mais em paz comigo após esse leitura. Gratidão!

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