O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) pode estar entre os mais estigmatizados dos transtornos mentais.

Atualmente, há rumores no campo da saúde mental sobre as implicações negativas do próprio termo, já que muitos o consideram equivocado e repleto de associações negativas. O TPB é muitas vezes não diagnosticado, diagnosticado erroneamente ou tratado inadequadamente (Porr, 2001). Os médicos podem limitar o número de pacientes com TPB em sua prática ou abandoná-los completamente por causa de sua resistência ao tratamento. Se a pessoa com a condição repete o comportamento de autoagressão, a frustração entre a família, amigos e profissionais de saúde aumenta e pode levar à diminuição do atendimento (Kulkarni, 2015).

O TPB é caracterizado por humor, autoimagem, processos de pensamento e relacionamentos pessoais voláteis. Quando incapazes de regular suas emoções, borderlines tendem a se envolver em comportamentos descontrolados, imprudentes e fora de controle, como relações sexuais perigosas, abuso de drogas, jogos de azar, gastos excessivos ou comer compulsivo. Uma característica proeminente do TPB é a incapacidade de regular o humor, que é muitas vezes referida como desregulação do humor.

Os sintomas incluem oscilações de humor rápidas, com períodos de desespero intenso e irritabilidade e/ou apreensão, que podem durar de algumas horas a alguns dias. Indivíduos com Transtorno da Personalidade Borderline (TPB) ficam sobrecarregados e incapacitados pela intensidade de suas emoções, seja alegria e euforia ou depressão, ansiedade e raiva. Eles são incapazes de gerenciar essas emoções intensas. Quando perturbados, experimentam uma enxurrada de emoções, processos de pensamento distorcidos e perigosos, e mudanças de humor destrutivas que ameaçam a segurança dos outros, assim como de si mesmos.

Sua abordagem de amor/ódio nos relacionamentos é um processo inteiramente narcisista, já que a direção do relacionamento é sempre determinada pelos sentimentos do borderline em um certo momento. Mas, ao contrário de alguém com um Transtorno da Personalidade Narcisista, uma pessoa com TPB tem capacidade e disposição de ser genuinamente empático, sensível, generoso e altruísta. No entanto, esses atributos positivos não estão isentos de condições; quando o borderline explode com raiva vingativa, tudo o que eles disseram ou deram aos seus amados pode ser retirado em um único surto de agressão.

A vida nos extremos: amor/ódio

Os borderlines experimentam o mundo em extremos: preto e branco ou tudo ou nada. Quando estão felizes, o mundo é um lugar lindo e perfeito. A alegria que eles experimentam é tão perfeita quanto a alegria de qualquer pessoa. Por outro lado, eles experimentam inconscientemente uma raiva imprudente, paranoia e sentimentos de desesperança quando percebem que estão sendo rejeitados ou abandonados.

Seu mergulho em uma fúria tórrida e incontrolável os leva a prejudicar a si mesmos ou aos outros. Em circunstâncias extremas de depressão, agitação ou fúria, a pessoa com TPB pode se comportar de maneira violenta e letal – em relação a si mesma e/ou aos outros.

As pessoas com TPB são cronicamente inseguras em suas vidas, seja com sua família, relações pessoais, trabalho ou futuras aspirações. Eles também experimentam pensamentos e sentimentos incertos e inseguros sobre sua autoimagem, objetivos de longo prazo, amizades e valores. Frequentemente sofrem de tédio crônico ou sentimentos de vazio. Essas pessoas normalmente não pretendem causar danos a ninguém, nem a si mesmas, mas suas explosões emocionais inconscientes criam uma forma de insanidade temporária.

Durante os momentos de um colapso emocional completo, os processos de pensamento, a percepção do estado emocional e a capacidade de tomar decisões sensatas e racionais ficam gravemente prejudicados. Eles colocarão a si mesmos e a seus entes queridos em perigo por causa de uma onda irracional e incontrolável de ódio, fúria ou paranoia. Isso não se deve à falta de amor, mas porque, naquele momento, eles foram levados a experimentar a ira e a raiva ligadas a memórias reprimidas de sua infância abusiva, negligente e traumática.

As pessoas com TPB raramente são capazes de manter relacionamentos estáveis de longo prazo. Seus relacionamentos amorosos começam rapidamente, intensamente e com muita excitação, euforia e química sexual. Suas emoções voláteis se movem em uma de duas direções: amor e adoração ou ódio e destruição. Como essa pessoa teve pouca ou nenhuma experiência com relacionamentos saudáveis, os sentimentos eufóricos de “amor perfeito” que ocorrem no início do relacionamento não são realistas nem duradouros. Esta experiência inicial de amor eufórico é transitória, pois sua fragilidade psicológica os leva a um eventual colapso emocional.

Essa abordagem em preto e branco de seus romances cria um efeito gangorra de comportamento extremo. Ou eles cobrem seus parceiros de amor e bondade, ou se enfurecem contra eles com aversão e violência. Seu processamento dos relacionamentos em termos de amor/ódio coloca um fardo impossível sobre o parceiro.

Abandono: o problema central

Frequentemente, os indivíduos diagnosticados com TPB estão preocupados com o abandono real ou imaginário, que tentam freneticamente evitar. A percepção de uma iminente separação ou rejeição pode levar a mudanças profundas na maneira como pensam sobre si mesmos e sobre os outros, bem como afeta sua estabilidade e comportamento emocional. Seja real ou imaginário, qualquer lembrete de abandono faz com que eles ataquem seu parceiro romântico com raiva e hostilidade agressiva. Um comentário equivocado, uma discordância amigável ou uma expressão percebida como desapontadora pode rapidamente transformar seus sentimentos amorosos em relação à sua “alma gêmea” em uma retaliação furiosa contra um inimigo.

Trecho de The Human Magnet Syndrome: The Codependent Narcissist Trap (2018) Borderline Personality Disorder.

Bibliografia
Kulkarni, J. (2015). “Borderline Personality Disorder is a Hurtful Label for Real Suffering—Time We Changed It.” Retrieved from: https://theconversation.com/borderline-personality-disorder-is-a-hurtful-label- for-real-suffering-time-we-changed-it-41760

Porr, V. (2001). “How Advocacy is Bringing Borderline Personality Disorder into the Light: Advocacy Issues.” Retrieved from: http://www.tara4bpd.org/ how-advocacy-is-bringing-borderline-personality-disorder-into-the-light/ (on December 4, 2012)

Rosenberg, R (2013). “The Human Magnet Syndrome: Why We Love People Who Hurt Us.” Eau Claire,WI: PESI

Rosenberg, R (2018). “The Human Magnet Syndrome: The Codependent Narcissist Trap.” New York, NY: Morgan James Publishing

(Fonte: psychcentral)

*Traduzido e adaptado por Marcela Jahjah, da equipe Fãs da Psicanálise

*Texto traduzido e adaptado com exclusividade para o site Fãs da Psicanálise. É proibida a divulgação deste material em páginas comerciais, seja em forma de texto, vídeo ou imagem, mesmo com os devidos créditos.




A busca da homeostase através da psicanálise e suas respostas através do amor ao próximo.

15 COMENTÁRIOS

  1. Sou borderline, antes não tivesse recebido tal diagnóstico, pois o mesmo me deixou sem chão e sem saber mais quem era, tudo que fui nos últimos 25 anos. Como ser a partir de agora? Quem ser?
    É doloroso sim, as vezes me dizem que eu deveria ficar feliz de não estar numa cama de hospital a beira da morte, mas sinceramente se for para experimentar a sensação de felicidade real, por pouco tempo que seja… eu prefiro ser uma doente terminal a sentir o que sinto.

    • Você diz que antes não tivesse recebido tal diagnóstico. Isso é porque muitas pessoas acabam vivendo pela expectativa do diagnóstico e acabam vivendo pra cumprir esse diagnóstico. Diagnósticos são muito perigosos e na maioria das vezes não precisos. Muitos médicos hoje preferem lidar com traços, visto a enorme complexidade da mente. Tenta se pacificar e procure um psiquiátra e um psicólogo que lide com traços e não com rótulos desesperançosos.

  2. A nossa mente é um mecanismo complexo e maravilhoso, pode nos levar a destruição ou reconstrução. Acredito que devemos ser o piloto, quem conduz, todos os sentidos e sentimentos produzidos pelo inconsciente. Pode até ser maluco falar consigo mesmo, mas pode servir para entrar no eixo diante de algum desequilíbrio emocional. Pesar o que é importante naquele momento e quais as peças que nossa mente nos prega.

  3. Nunca fui de comentar em posts, mas estou aqui na esperança de ajudar as pessoas que estão preocupadas com seus diagnósticos de Boderline, conheci uma garota e começamos a nos aproximar e ela me contou que possuía isso, me informei e pesquisei sobre, não tive medo, e não a afastei, passamos por muitos problemas mas sempre conseguimos lutar por a gente e após muitas discussões chegamos a um relacionamento estável, claro que as vezes possuímos brigas e coisas do tipo mas isso faz parte de todo relacionamento, nós aprendemos a lidar com nossos defeitos e evoluir juntos, principalmente ela que não se permitiu ser controlada por isso, quem traça o destino de vocês são vocês mesmos, não deixe um diagnóstico de Boderline atrapalhar isso, criem meios de evoluírem, não por ninguém, mas por vocês mesmos e façam seu próprio destino, me disponibilizo para ajudar quem estiver precisando só pesquisar meu nome no Facebook e mandar uma mensagem explicando a situação.

  4. fiz 4 dias de testes no psicoterapeuta pro psiquiatra analisar os resultados e me informar esse diagnóstico do q eu tenho, no caso é tpb, complexo narcisista e de eléctra, n é fácil, tenho 19 anos e meus relacionamentos n duram, incluindo amizades, além da minha compulsão por compras

  5. Gosto demais do site, mas parece também site de astrologia porque tudo que leio se encaixa a mim, como se estivesse lendo os signos do horóscopo de um jornal.

    • Pois é.. Não desconfiando do conteúdo postado mas também presenciei esta sensação. Parece que tudo tem os dois lados, e sendo assim se encaixara com a maioria dos seres humanos.

  6. Quem é ou pensa que é devia experimentar primeiro a vida no meio selvagem, e longe das cidades, que tudo criam para manter os seus mais agarrados do que vêm no princípio do útero da Mãe…

  7. Acho uma bobagem ter um titulo destes: “o mais doloroso de todos os transtornos”. Sera que é possível perceber que para alguém que está passando por um processo de adaptação ao ler isto dificulta ainda mais??? Eu tenho o transtorno. E posso dizer que eu sou MUITOOOOOO FELIZZZZZ com ele… quando se aceita, quem somos, olhamos no espelhamos e compreendemos as nossas dificuldades e permitimos trabalhar elas com as ajudas necessarias é possivel SIM VIVER E VIVER COM MUITA QUALIDADE DE VIDA. O que infelizmente em nenhum momento o texto falou, so trouxe os aspectos “negativos” da doença! Por favor, por artigos mais solidários e mais humanos, ainda mais se tratando de bordelines. Vai ter gente lendo e entrando em crise!!!!

    • Eu convivo com um familiar há 26 anos e ele é diagnosticado como ”boderline”. Quando você diz que ”é MUITO FELIZ com o transtorno” soa tão inacreditável para mim, pois minha experiência testemunhando a rotina de um ”boderline” me mostra alguém que JAMAIS consegue experimentar a felicidade. Por mais que o deseje. Neste sentido, o título da matéria foi apropriado. Quero dizer, o familiar com quem eu convivo e assim diagnosticado pelo profissional, se encaixa em cada linha descrita desta matéria, e é muito dificil ver um aspecto positivo de alegria a se manifestar nesta pessoa. Qualidade de vida? Neeeem pensar! A pessoa vive abaixo de medicação e ansiolíticos. Para finalizar, quero desejar a você todo o bem e fico feliz de saber que você é feliz, me faz acreditar que seu diagnóstico é de ”leve a moderado”, menos mal que assim seja. Paz e Luz,

  8. Cuido de meu pai,91 anos.Todos o seus relacionamentos foram destruidos.Inclusive viveu destes 91,54, foi sozinho. A ira incontrolável afasta a todos de seu convívio.Torna-se violento letal.Mas,graças ao bom Deus ele cai no choro inconsolável devido as perdas afetivas,depressão compensadas com o comer compulsivo. Sempre foi abusivo com familiares e colegas de trabalho.Foi submetido à internações psiquiátricas e ,aposentado compulsoriamente. De todos os 7 filhos do casamento,apenas eu,consegui permanecer perto e cuidar.É difícil, e me exige um esforço sobrehumano para até agora ter completado 5 anos perto,mas ,não sem correr riscos …sou psicóloga e já aposentada.Mas a fé,a compaixão e o desejo de protegê-lo tem sido o controle da dinâmica até ,então. Mas não é brinquedo,não.

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