A gravidez é um período complexo. São dois seres distintos, ligados física e emocionalmente, vivendo em um mesmo corpo. Para algumas pessoas, depois de todas as mudanças e expectativas da gravidez, o parto é o momento mais esperado. É a hora de conhecer o bebê, ver suas feições pela primeira vez, beijá-lo, abraçá-lo. Algo quase mágico. Tudo o que foi esperado por nove meses finalmente pode ser realizado.

No entanto, algumas semanas depois do parto, para algumas mulheres, inicia-se uma condição inesperada. A, agora, mamãe começa a apresentar atitudes estranhas, inesperadas. Sente-se triste, cansada, parece perder interesse em si e na criança. Esses comportamentos podem ser indícios de um dos quadros psiquiátricos mais comuns desse período, a depressão pós-parto (DPP).

O que é a DPP?

A DPP é um subtipo do Transtorno Depressivo Maior. Acomete, segundo revelam as estatísticas americanas, em torno de 10% a 19% das mulheres. Entre as brasileiras, estima-se que 26% desenvolvem a doença.

O transtorno se caracteriza quando os sintomas (descritos posteriormente nesse texto) aparecem em grau que atrapalham, dificultam ou causam prejuízo a mulher ou ao bebê. A duração dos sintomas deve ser de no mínimo quatro semanas e podem ter início algumas semanas ou até um ano após o parto.

O que causa a depressão pós-parto?

Várias são as questões que influenciam o desenvolvimento da DPP, incluindo aspectos hormonais, ambientais, neuroquímicas e psicológicos. Sobre os fatores hormonais, o médico Frederico Navas, em entrevista ao Doutor Drauzio Varela, descreve que “O pós-parto é um período de deficiência hormonal. Durante a gestação, o organismo da mulher é submetido a altas doses de hormônios e tanto o estrógeno quanto a progesterona agem no sistema nervoso central, mexendo com os neurotransmissores que estabelecem a ligação entre os neurônios. De repente, em algumas horas depois do parto, o nível desses hormônios cai vertiginosamente, o que pode ser um fator importante no desencadeamento dos transtornos pós-parto.”

Entre os aspectos ambientais ou sociais estão: vulnerabilidade financeira, rede de apoio parca ou inexistente, gravidez inesperada, gravidez tardia, gravidez indesejada, violência doméstica, estresse, entre outros.

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Sobre os aspectos neuroquímicos, um dos estudos que avaliaram esse conjunto de fatores foi o realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, coordenada pelo médico Carlos Eduardo Rosa. A pesquisa, que utilizou ressonância magnética, detectou alterações neuroquímicas como a redução do “complexo de glutamato” (glutamato mais glutamina), que participa da neurotransmissão dos neurônios do córtex cerebral, da plasticidade e da formação de novas ligações entre células nervosas (sinapses).

Outra diminuição importante é a do “complexo do NAA” (N-acetil-aspartato mais N-acetil asparto-glutamato), que indica disfunção metabólica e perda da integridade dos neurônios. Ambas as diminuições estão associadas a alterações no metabolismo e comprometimento no funcionamento saudável.

Em relação aos aspectos psicológicos, alguns fatores são relevantes: histórico anterior de transtorno de humor, principalmente depressão; transtornos de ansiedade antes ou durante a gravidez; relação conturbada com parceiro; dependência de substâncias; problemas com figuras maternas. Além disso, a mudança nos hábitos de vida e despreparo para esse período também influenciam.

O grau de interação necessária entre os pontos acima apresentados e o que causa o aparecimento desse quadro ainda é parcialmente desconhecida por médicos e pesquisadores. Mesmo em famílias em que se observa atenção e cuidado adequado, as novas mães podem desenvolver DPP. Não existe uma fórmula que indique com certeza o desenvolvimento desse transtorno. Apesar disso, o conhecimento sobre os fatores de risco é essencial, já que alguns casos podem ser evitados.

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Um ponto importante: o diagnóstico impreciso

Ressalto, também, que a depressão pós-parto é, muitas vezes, mal diagnosticada. Isso se dá devido a algumas questões. A primeira é que os comportamentos que serão vistos como sintomas aparecem em grau leve em quase todas as mulheres. A diferença entre a depressão e uma tristeza pós-parto, que é comum devido a alteração hormonal, é a intensidade e a duração dos sintomas e por isso, alguns profissionais têm dificuldade de diagnosticar.

Outro ponto é a percepção inadequada do comportamento da mulher pelo parceiro (a) e pessoas próximas. Alguns percebem as alterações, mas as interpretam como ciúme do bebê, dificuldade em assumir responsabilidade como mãe, entre outras questões. Um terceiro ponto é o impedimento psicológico (quase uma trava) em perceber que a tristeza pode acontecer nesse período. A chegada do bebê é tão romantizada, a ponto de que qualquer problema que ocorra nessa época é ignorado.

Quais são os sintomas?

– Alterações inesperadas de peso (perda ou ganho excessivo);
– Alterações inesperadas de sono (hipersonia ou insônia);
– Choro constante;
– Tristeza excessiva;
– Diminuição da libido;
– Perda de interesse nas atividades diárias ou cuidados com o bebê;
– Pensamentos de morte ou suicídio;
– Vontade de causar mal ao bebê.

E como tratar?

A depressão pós-parto é tratada com psicoterapia e, dependendo da gravidade, medicação. A duração do tratamento é de no mínimo seis meses. Além da presença de uma equipe qualificada, o apoio do parceiro, amigos e familiares é essencial.

É muito importante tratar o quadro assim que esse for diagnosticado. Casos sem tratamento podem evoluir para depressões graves ou até psicoses pós parto. Os perigos dessa evolução podem incluir crises de despersonalização, episódios psicóticos, tentativas de suicídio da mãe e tentativas de homicídio dirigida ao bebe pela mãe.

Vamos informar e conscientizar!

Referências:
https://drauziovarella.uol.com.br/mulher-2/depressao-pos-parto-3/
https://bebe.abril.com.br/parto-e-pos-parto/remedio-depressao-pos-parto-resultados-promissores/
https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/imagens-revelam-efeitos-da-depressao-pos-parto-no-cerebro/
http://www.acp.med.br/noticia/gravidez-e-a-depressao-02d14931-ef68-4f6b-b9f5-f4d7a3abb382




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