A fobia é um tipo de neurose, também conhecida como neurose de angústia.

Podemos apresentar alguma fobia e nem por isso possuirmos uma estrutura fóbica. Da mesma forma que existem neuróticos histéricos com traços obsessivos ou neuróticos obsessivos com traços histéricos, é possível encontrar pessoas histéricas ou obsessivas com traços fóbicos.

A fobia é o medo desproporcional de algum objeto. Este objeto pode ser um animal, uma planta, um tipo de situação, um objeto de fato etc. Por exemplo: a fobia de borboletas é muito comum, embora saibamos que elas são inofensivas. Outras fobias muito conhecidas são as de gato e palhaço.

Sobre situações, muitas pessoas temem lugares fechados como elevadores e aviões. A fobia social também é comum.

Porém, na realidade, o problema em si não se encontra nas borboletas, nos gatos e nos palhaços. Nem nos elevadores e nos aviões.

Os objetos e situações simbolizam algum temor da pessoa que ela não consegue identificar. O excessivo medo por palhaços, por exemplo, tem forte relação com o temor ao desconhecido, com aquilo que não podemos ver, com aquilo que se mantém escondido.

Os gatos são animais muito utilizados em filmes de terror. Diferentemente dos cachorros que associamos com amizade e lealdade, relacionamos os gatos ao oculto, ao mistério, ao egocentrismo, enfim, novamente com aquilo que não podemos entender nem controlar.

Em resumo: não sabemos quem está por debaixo da máscara do palhaço nem podemos controlar as ações de um gato pois ele é menos previsível do que os cachorros. Sem falar, que gatos estão associados simbolicamente à sexualidade e à sensualidade, o que pode gerar também um desconforto inconsciente.

Não poderia, por exemplo, a antipatia exagerada que algumas pessoas sentem pelos gatos ser uma simbologia do receio que elas têm de serem abandonadas por parceiros amorosos imprevisíveis? O cachorro pode representar o seguro, o confiável, o previsível. Mais do que isso: o dependente. Pode ser altamente aterrorizante amar e ser amado por alguém que se move livremente pela relação.

A fobia social tem forte relação com o medo de ser julgado, criticado. A incapacidade para se expor em público, mesmo que seja fazendo uma simples pergunta durante uma aula, pode sinalizar mais do que timidez. Pode sinalizar um fortíssimo senso crítico e autocrítico.

Às vezes, a pessoa julga tanto o que os outros fazem e dizem que se imagina alvo de críticas ferozes por parte das outras pessoas. A fobia social pode sinalizar também um medo muito grande de não ser amado.

Em resumo, o problema em si não é o falar em público ou conhecer pessoas numa festa, por exemplo. O público representa simplesmente uma não aceitação da própria pessoa em relação a ela.

Na neurose fóbica, jogamos em um objeto um medo ou incapacidade estrondosa que sentimos.

Porém, é possível a fobia funcionar como um mero sintoma de um neurótico histérico ou obsessivo. Por exemplo: a pessoa tem fobia social ou medo exagerado de sair à rua e ser atropelado ou assaltado. Mas, na verdade este medo é apenas um sintoma gerado a partir de uma neurose histérica.

Vamos a um exemplo? A pessoa sofre uma grande repressão sexual por conta dos seus valores religiosos. Apartada de qualquer contato sexual, incluindo a masturbação, começa a gerar sintomas fóbicos como ansiedade excessiva, medo de sair de casa. Na rua, além de possíveis atropelamentos e assaltos, pode-se dar o encontro erótico com o outro e este encontro pode fazer a pessoa trair seu rígido sistema de
valores.

O medo de ser atropelado ou assaltado é apenas uma simbologia do medo que a pessoa sente em relação ao novo, ao desconhecido, àquilo que ela não pode prever, planejar nem controlar.

As neuroses estão muito ligadas à nossa dificuldade para lidar com os encontros e desencontros da vida. Para lidar com os imprevistos. Para lidar com tudo aquilo que escapa aos padrões que assimilamos por meio da família e da vida social.

Não é à toa que vemos mulheres bonitas se achando feias porque cresceram num ambiente que supervalorizou a beleza.

Não é à toa que vemos pessoas inteligentes se achando limitadas intelectualmente porque cresceram num ambiente muito crítico.

Pessoas com fome de liberdade e vontade de viverem experiências variadas se restringem a vidas padronizadas.

Pessoas que querem simplesmente viver o amor acreditam que o casamento formal é o único caminho para a realização afetiva.

Homens e mulheres que mal suportam brincar com uma criança durante 15 minutos lutam para serem pais.

Artistas ficam presos em escritórios e libertários reproduzem discursos autoritários.

Enfim, a neurose é uma desconexão com o nosso próprio desejo. É meta da Psicanálise fazer o analisando se deparar com aquilo que ele nega e mesmo não sendo possível um entendimento perfeito do nosso desejo, podemos encontrar meios de lidar melhor com aquilo que nos falta e nos afeta.




Profa. doutora , idealizadora da Pós em Cinema do Complexo FMU, escritora e psicanalista. É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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