Somos convencidos, sem perceber, mas a todo minuto, pela grande mídia e pela cultura, que um relacionamento duradouro e a formação de uma família, será o responsável pela grande parte da nossa satisfação pessoal, a maior fatia do bolo, a coisa que importa. Não é possível ser completo sem estabelecer essa instituição.

Você pode até dizer que nada a ver, você não é dessas ou desses, mas no fim do dia, com a cabeça no travesseiro…

Você vai virando a piada de domingo da família, começa a sofrer bullying das tias: as mulheres por não terem sido eficientes o suficiente para conquistar e prender um homem e os homens por não terem tido a coragem de renunciar a vida de farra por uma família.

Mas o negócio de o relacionamento ser a maior fatia do bolo é o que nos prejudica mais, a idealização de uma conjugalidade perfeita, no qual culturalmente as mulheres são as maiores atingidas, pois pressupõe-se que há renúncias no casamento para os homens, mas para as mulheres seria o que elas sempre quiseram na vida: encontrar o par perfeito.

1. O outro como condição para a sua felicidade
Dependências, esperanças, expectativas…

É exatamente a questão da maior fatia do bolo, acreditar que a relação será o centro da vida, aquilo que vai resolver muitas questões e trazer a felicidade que faltava, quando na verdade, muitas relações trazem mais problemas que soluções.

Quando outra pessoa entra na sua vida, você vai lidar com todas as particularidades dela, o bom e o ruim, muitas adaptações deverão ser feitas. Imagina começar esperando que o outro assuma a responsabilidade de te fazer feliz? É claro que um relacionamento saudável pode colaborar pra isso, mas não será o único responsável, pois a vida é permeada de várias outras questões.

Somos sujeitos com questões subjetivas conscientes e inconscientes, levamos isso para todas as nossas relações, portanto a maturidade emocional seria a primeira condição para a sua felicidade, consciência das suas necessidades e assumir responsabilidade por elas.

O outro não pode nos completar e é essencial que saibamos disso, a incompletude é intrínseca da condição humana. E dada as incertezas da vida, é melhor que estejamos preparados para cuidar de nós mesmos, viver bem sozinho com bastante amor próprio, pois as pessoas não são posses, sempre podem ir embora.

Esse poema do Osho, ilustra de forma mais acessível:

Leia Mais: Superar um relacionamento não é tentar provar ao outro que você está feliz

“Primeiro fique sozinho.
Primeiro comece a se divertir sozinho.
Primeiro ame a si mesmo.
Primeiro seja tão autenticamente feliz, que se ninguém vier, não importa; você está cheio, transbordando.
Se ninguém bater à sua porta, está tudo bem.
Você não está em falta.
Você não está esperando por alguém para vir e bater à sua porta.
Você está em casa.
Se alguém vier, bom, belo.
Se ninguém vier, também é bom e belo
Em seguida, você pode passar para um relacionamento.
Agora você se move como um mestre, não como um mendigo.
Agora você se move como um imperador, não como um mendigo.
E a pessoa que viveu em sua solidão será sempre atraído para outra pessoa que também está vivendo sua solidão lindamente, porque o mesmo atrai o mesmo.
Quando dois mestres se encontram – mestres do seu ser, de sua solidão – felicidade não é apenas acrescentada: é multiplicada.
Torna-se uma tremendo fenômeno de celebração.
E eles não exploram um ao outro, eles compartilham.
Eles não utilizam o outro.
Em vez disso, pelo contrário, ambos tornam-se UM e desfrutam da existência que os rodeia.”
(Osho)

2. Amor incondicional
Para Freud, aprendemos a nos relacionar em algo que ele chama de “romance familiar”, quase sempre queremos repetir o amor incondicional que tivemos de nossos pais. Um pai ou uma mãe (quando tudo dá certo) ama seus filhos apesar dos defeitos, dos erros que eles possam cometer e de eventuais ofensas, mas na vida conjugal não é assim.

Principalmente os homens, quando foram muito mimados e protegidos por suas mães, tendem a pensar que serão a única razão de viver de sua esposa e que portanto, esta não pode abandoná-lo, não importa o que ele faça.

As pessoas se enganam com o boom da paixão e acham que vai ser sempre assim. A paixão também, essa do começo, dá uma impressão de força para o casal, eles se metem nessas bolhas, apaixonadas e envolvidas, se afastam um pouquinho das pessoas e se dão muito bem se sentem impulsionados a fazer tudo que elas desejam. Então não precisam cultivar amizades, carreira e outras coisas, esse é um dos maiores erros. Afinal paixão não sustenta uma vida.

Leia Mais: Relacionamento sem confiança, não é relacionamento. É prisão!

Se afastar da família, e se afastar das questões pessoais, unir a vida financeira muito rapidamente, que é uma questão muito delicada e que as pessoas na empolgação tomam decisões precipitadas e muitos relacionamentos não aguentam depois, separar tudo isso é catastrófico.

Nessa mesma questão do amor incondicional, às vezes as pessoas esperam que o parceiro mude. Sendo que, por amor, as pessoas podem até camuflar esconder alguns de seus defeitos e suas características mais fortes, mas elas não vão de forma alguma mudar, nem por todo amor do mundo.

Amor incondicional, só o da mãe mesmo!

3. Exclusividade absoluta
Esse tópico não é pra falar de traição, é algo bem mais sutil. É sobre desistir de fazer muitas coisas e às vezes, esperar que o parceiro(a) desista também. Exclusividade absoluta é querer o outro 24 horas disponível, responsabilizá-lo por questões que você deveria resolver.

Se perder na intimidade, querer virar um só. Isso não é possível, faz parte da idealização que somos incentivados a levar adiante. Um relacionamento em que o casal tenta viver uma única vida é desastroso, é preciso que cada um preserve sua individualidade e sua independência.

Desistir do futebol, desistir de viajar, desistir de estudar, são coisas que muita gente faz, principalmente as mulheres, o tempo todo. Parece absurdo, mas apenas de conversar com as pessoas por aí, percebemos que esse tipo de atitude é muito comum. Enquanto elas acreditam que estão ajudando e se dedicando, a relação pode ficar sufocante.

Já ouviu alguém dizer “dei tudo de mim e só recebi ingratidão em troca”? Então, o problema é que talvez, não devêssemos dar TUDO de nós. Para o amor é preciso deixar um espaço, para uma falta, para um mistério, um algo mais para ser descoberto. Sem isso, perde-se o interesse.

Sabendo que é da cultura te meter nessa fria, que tal tentar um amor mais maduro, priorizando seu autoconhecimento, para assim estar mais apto a fazer uma escolha de parceiro(a) mais consciente e livre de influências?




Formada em Letras português/inglês pela PUC-GO. Goiana, formanda de Psicanálise. Trabalhando em Redação para Web no momento. Vinho e viagens resumem muito. Acima de tudo, eu escrevo! É colunista do site Fãs da Psicanálise.

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