Alguma vez você já se encontrou com uma pessoa que parecia viver em um mundo de fantasia em que tudo o que dizia lhe parecia falso ou exagerado? Já teve uma experiência com uma pessoa que parece sempre misteriosa e nada do que dizem realmente acontece?

Bem… se assim for, você pode estar lidando com um sociopata, narcisista ou até mesmo um mentiroso patológico. Este artigo irá discutir 6 características importantes de que todos devemos estar conscientes a respeito do mentiroso patológico.

A mentira patológica (PL) foi definida pelo Psychiatric Times como uma “longa história (talvez toda uma história de vida) de mentir frequente e repetidamente sem nenhum motivo psicológico aparente ou benefício externo que possa ser reconhecido.” Não existe um consenso real sobre o que é mentira patológica e muitas pessoas desenvolveram sua própria definição. A mentira patológica é algo que afeta negativamente muitas pessoas, até mesmo os profissionais, que muitas vezes desconhecem a instabilidade psiquiátrica ou o distúrbio de personalidade do mentiroso.

Por exemplo, em um de meus artigos anteriores, concentrei-me no juiz Patrick Couwenberg, um juiz da corte superior da Califórnia, que mentiu repetidamente enquanto servia ao público. O ex-juiz manteve a mentira de que ele era:

– Um graduado da Caltech
– Um veterano de guerra ferido
– Um agente da CIA nos anos 60

Todas essas declarações foram facilmente identificadas por seus colegas como não confiáveis e inconsistentes, mas Couwenberg continuou a enganar outras pessoas. Mais tarde, ele foi afastado por “conduta imprópria intencional e prejudicial” por mentir a respeito de frequentar a Caltech, já que este nível de educação era fundamental para a sua posição judicial.

A parte triste dessa história não é tanto que o ex-juiz perdeu o emprego no final, mas sim que ele não tinha discernimento sobre o fato de que seus passos poderiam ser rastreados e que muitas pessoas acabariam por descobri-lo. Couwenberg não tinha um nível apropriado de consciência de suas mentiras, assim como muitos mentirosos compulsivos não o têm.

O próprio fato de que uma mentira pode ser descoberta não afeta o mentiroso patológico. Eles têm uma incapacidade de considerar as consequências ou mesmo medo de serem descobertos. É como se o mentiroso patológico acreditasse que eles são mais espertos do que todos e nunca serão descobertos. O próprio fato de que sua vida profissional, doméstica ou sua reputação possam estar em perigo como resultado das mentiras não os perturba. Culpa, vergonha ou arrependimento não afetam o mentiroso. Consequências também parecem não afetá-lo. Então, por que ele se envolve em tais comportamentos?

Múltiplas pesquisas têm tentado encontrar uma resposta a esta pergunta, sem sucesso. Tentar entender a mente, os comportamentos e intenções do mentiroso patológico não é uma ciência exata. Está mais para uma ciência muito inexata, que envolve anos de estudo. Os seres humanos são complexos e tentar entender as razões pelas quais eles fazem tudo o que fazem, requer mais do que um diploma de graduação em psicologia e anos de experiência. Para muitos profissionais de saúde mental e psiquiatras, tentar entender o mentiroso patológico (ou sociopata e narcisista que se engaja nesse comportamento) envolve uma combinação de intuição e ciência. A ciência sozinha não pode responder às muitas perguntas que temos sobre mentirosos patológicos, mas a experiência pode oferecer algumas pistas.

Sabemos agora que a mentira patológica é espontânea e não planejada. A impulsividade é frequentemente responsável por isso. Sabemos também que a mentira patológica é mais provável de ocorrer em certos transtornos ou entre indivíduos que possuem certos traços de personalidade. Alguns diagnósticos que podem incluir mentiras patológicas incluem, mas não estão limitados a:

– Transtornos de Personalidade
– Transtorno de Personalidade Antissocial (mais conhecido como sociopatia)
– Transtorno de Personalidade Borderline
– Narcisismo ou Transtorno de Personalidade Narcisista
– Transtornos de Comportamento
– Transtorno de conduta (frequentemente diagnosticado em crianças e adolescentes que têm comportamentos semelhantes a criminosos ou que demonstram características sociopáticas como crueldade animal, causar incêndios e comportamentos de oposição à autoridade)

– Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD) e Transtorno de Conduta (TC)
– Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), frequentemente combinado com TOD ou TC
– Narcisismo e comportamentos autocentrados e padrões de pensamento
– Egoísmo
– Atitude abusiva
– Comportamentos obsessivos, controladores e compulsivos
– Impulsividade
– Agressividade
– Comportamento ciumento
– Comportamento manipulador
– Dissimulação
– Socialmente inadequado, desconfortável ou isolado
– Baixa autoestima
– Instabilidade
– Raiva

É importante ter em mente que existem mentirosos patológicos que, francamente, simplesmente não podem deixar de contar tantas mentiras. É quase como um impulso automático para o mentiroso. Seu mundo é muito diferente do nosso mundo. Mas também há mentirosos que ficam satisfeitos em contar mentiras, são bons nisso e não se arrependem de nada do que disseram. Esses indivíduos são mentirosos “habilidosos” que tentam iludir e prejudicar todos que encontram em suas vidas. Na verdade, esses mentirosos preencheriam critérios diagnósticos de transtorno de personalidade antissocial (ou sociopatia). Esses sociopatas também contam verdades de maneiras que induzem a perspectivas incorretas. Em outras palavras, eles dizem a verdade de maneira enganosa para fazer com que as pessoas vejam as coisas de maneira incorreta. Tais indivíduos gostam e obtêm muita gratificação de manter as pessoas confusas e acreditando em suas histórias. É a experiência de ver uma “vítima” percorrer o labirinto de confusão que dá satisfação à maioria dos mentirosos.

Baseada em minha experiência clínica e pesquisa geral da profissão, encorajo-o a manter 6 coisas em mente ao lidar com o mentiroso patológico:

1- Saiba que um mentiroso patológico irá estudá-lo: o objetivo do mentiroso pode estar escondido, mas você pode contar com o fato de que ele não quer que você saiba a verdade. Para iludir alguém, você certamente precisa estudar a pessoa e analisar em que essa pessoa poderia ou não acreditar. Mentirosos, muitas vezes sociopatas, são conhecidos por “estudar” a pessoa da qual eles esperam tirar vantagem. Em outras palavras, eles procuram por pontos fracos.

2- Não se esqueça de que o mentiroso não tem empatia: por mais difícil que seja acreditar, isso é fato. Ele não tem consciência moral de como o comportamento mentiroso pode fazer você se sentir. Ele não pensa antes de mentir: “Oh, é melhor eu não dizer isso ou eu poderia magoar essa pessoa ou iludi-la”. Ele não se importa com seus sentimentos e nunca se importará. Uma pergunta que muitos pais de meus antigos clientes faziam a seus filhos que mentiam era: “Por que você apenas não me conta a verdade? Por que isso é tão difícil?” Por mais difícil que seja acreditar, não é fácil para o mentiroso contar a verdade. Ele não tem a capacidade de considerar o que você pode sentir em resposta à sua mentira (empatia).

3- As pessoas normais se sentem culpadas e ficam aliviadas quando você muda de assunto ou para de fazer perguntas. Esse foi um ponto interessante que aprendi quando estudei psicologia forense como estudante de graduação, alguns anos atrás. Enquanto trabalhava com delinquentes juvenis, descobri que o mentiroso patológico não demonstra emoção ao mentir, o que os torna críveis. Uma pessoa que está mentindo e que tem níveis normais de empatia e preocupação com os outros frequentemente mostrará alívio quando o assunto em discussão for mudado.

Por exemplo, se alguém lhe dissesse que cresceu em um campo de concentração e sofreu muitos traumas, você faria perguntas sobre isso para entender melhor. Se você mudasse de assunto no momento em que observasse o estresse ou a ansiedade em resposta às suas perguntas, veria a pessoa relaxar porque está ciente das consequências de sua mentira. A maioria de nós relaxa quando os outros deixam de fazer muitas perguntas sobre um tópico sobre o qual estamos mentindo. Um mentiroso patológico não se perturba. Você raramente verá emoções.

4- Nem todos os mentirosos fazem as coisas comuns que você acha que os mentirosos fazem: acredite ou não, os mentirosos nem sempre tocam o nariz, mexem-se em seus assentos ou mudam de um pé para o outro, ou mesmo olham sorrateiramente quando mentem. Alguns mentirosos realmente experientes são bons em fazer contato visual direto, parecendo relaxados ou descontraídos, e podem parecer muito sociáveis. O que se deve procurar é o contato visual que parece penetrante. Alguns sociopatas aprenderam a iludir as pessoas com contato visual direto, sorrisos sociáveis e humor. Confie em seus instintos e discernimento. O que os olhos dele lhe dizem? O que o comportamento deles ou o riso lhe dizem?

5- Os mentirosos mais sorrateiros são manipuladores: uma vez ouvi alguém dizer “todos nós manipulamos”. Embora isso possa ser verdade até certo ponto, o mentiroso tende a manipular mais do que qualquer outra pessoa e aprendeu a se tornar um “profissional” em fazê-lo. Não há nada impressionante sobre o manipulador perigoso ou cruel. Eles sabem tudo que devem dizer e fazer, sabem o que você quer e o que não quer e, novamente, eles o “estudarão”. De fato, muitos mentirosos patológicos (e sociopatas) usam excitação sexual ou emocional para distraí-lo da verdade. Aja com cautela ao lidar com alguém que parece estar direcionando sua atenção para você de forma a estimular sua excitação para distraí-lo. Essa excitação pode ser psicológica (provocando o seu interesse), emocional (fazendo com que você se sinta conectado a eles) ou sexual.

6- Mentirosos patológicos exibem comportamentos estranhos: você consegue se lembrar de como se sentiu, talvez quando criança ou adolescente, depois de ter sido pego mentindo para um professor, um pai ou um amigo? Você se sentiu culpado, triste ou com medo de que a outra pessoa não aceitasse mais você? Algumas pesquisas sugerem que os mentirosos patológicos não demonstram desconforto quando pegos mentindo, enquanto outros estudos sugerem que eles podem se tornar agressivos e irritados quando descobertos. A conclusão é que nenhum mentiroso patológico é o mesmo.

Como você pode ver, tentar entender o mentiroso é tão difícil quanto tentar entender como o mundo começou. É algo que requer muito estudo, paciência, intuição ou discernimento e sabedoria. Estudos continuam tentando entender a mente e o comportamento do mentiroso patológico. Psiquiatras e profissionais de saúde mental continuam estudando o mentiroso a fim de entender por que eles fazem o que fazem e como podemos proteger suas vítimas.

Referências:

Dike, C. 2008. Pathological Lying: Symptom or disease? Psychiatric Times. Retrieved 8/20/2014 from, http://www.psychiatrictimes.com/articles/pathological-lying-symptom-or-disease.
Los Angeles Times. (2001). Panel Ousts Judge for Lying. Retrieved 11/4/2014 from, http://articles.latimes.com/2001/aug/16/local/me-34920.

(Link original: blogs.psychcentral)

*Traduzido e adaptado por Marcela Jahjah, da equipe Fãs da Psicanálise

*Texto traduzido e adaptado com exclusividade para o site Fãs da Psicanálise. É proibida a divulgação deste material em páginas comerciais, seja em forma de texto, vídeo ou imagem, mesmo com os devidos créditos.




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