Ir ao colégio sempre foi um motivo de tristeza pra mim, apesar de gostar muito de estudar e tirar boas notas. Os professores me adoravam, era carismático, mas algo me fez parar de ter vontade de acordar de manhã e ter coragem de ir até o colégio. Sempre sofri bullyng. Dos meus próprios “amigos” e sofria muito – do jeito de sair do colégio muito mal e chegar em casa e desabar no choro. Minha mãe me apoiava, porque eu contava tudo pra ela. Ela sempre foi a minha maior apoiadora para que eu continuasse minha vida no colégio… Até que essa vida se tornasse insuportável.

Eu tinha acne, severa. Meu apelido? Não era de nenhum ator da Globo ou super-herói ou algo que me engrandecia. Era daquele astro dos filmes de Terror, o Freddy Krueger. Nenhuma garota ia se interessas pelo “Freddy” do colégio. Tudo era dolorido. Desde as acnes que cobriam parte do meu rosto, até esse apelido nefasto. Lembro de ficar sozinho nos bancos do colégio pensando na vida e porque eu tinha que sofrer tanto. Eu não tive apoio de ninguém dentro do colégio. De ninguém mesmo.

Minha acne piorava, naquela época não se falava muito em terapia, não tinha muitos exemplos pra mim de superação do Bullyng. Eu só tinha exemplos ruins que eram meus colegas de classe me fazendo chorar todo o dia. Hoje eu penso: “nossa, qual a finalidade de fazer uma criança chorar diante de toda a sala de aula?” Mas eu chorava no canto, ou em casa. Lembro de ter chegado a minha mãe e dito que não agüentava mais. Eu podia ter tratado a minha acne que era muito severa, mas também não existiam os tratamentos tão eficazes que existem hoje. Eu só passava produtor tópicos que não adiantavam. Meu rosto piorava junto com o meu sofrimento.

Larguei o colégio, porque não agüentava mais. Freddy matava pessoas nos filmes, e essa era a minha vontade de matar. Matar aqueles garotos que me enchiam de raiva. Era o que eu tinha além da vontade de estudar. Choro e raiva. Não, o Freddy aqui não matou ninguém, só “matou” o desejo de terminar feliz o ensino fundamental. Foi o maior alívio e desafio da minha vida. Mas eu podia ter cometido um ato muito grave se não fossem os meus pais. As meninas não se sentiam atraídas por mim. E eu pensava: qual menina ia gostar de um cara com o rosto todo deformado pela acne?

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Passei por várias etapas da vida sofrendo bullyng e já parei de estudar e larguei faculdades por isso. Hoje eu não sofro mais, apesar de ter terríveis cicatrizes e os métodos para tratar da acne terem avançado. Mas é um tratamento caro e eu não tenho ainda grana pra pagar. Porém, hoje eu tenho 33 anos e não ligo pra isso. Acredito que minhas cicatrizes sejam cada vitória que eu venci contra o Bullyng. E uma dica, apenas uma dica que eu dou: não pratique!

Porque o seu colega pode não ter psicológico suficiente para agüentar. Ele pode parar de estudar, surtar ou ter problemas psicológicos muito graves. Assim como eu. Hoje vejo que isso começa dos pais. Os pais devem dizer que é ruim falar mal do coleguinha. Uma boa base familiar é essencial. Não só isso, mas o bom senso também. Porque eu lembro de que tudo era muito perverso. Eles queriam estragar e destruir a minha vida, mesmo achando que isso era uma coisa tão natural para eles.

Porém, eles não conseguiram. Hoje, eu quero voltar a estudar. Quero fazer faculdade numa área ligada a educação. Ou voltar ao ambiente acadêmico que eu me acostumei a gostar e não ligar para o que os outros dizem. Hoje muitos sentem inveja de mim… Por ser o que mais fala, o mais prestigiado pelos professores, o cara super estiloso e inteligente. Continuo com cicatrizes, porque ainda não tive grana pra tirar pois sempre acabo gastando meu dinheiro com outra coisa. Isso não é minha prioridade.

Já tive várias namoradas e elas gostam do meu rosto assim. Eu acredito que ver as cicatrizes como vitórias que eu tive na minha vida, me motivam hoje a estudar e seguir na vida. Mas garanto a vocês: foi um processo muito doloroso. Que me fez escrever esse texto e deixar bem claro: não pratiquem bullyng!




É escritor, estudante de Psicologia e é colunista do site Fãs da Psicanálise.

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