O lar é o lugar onde você se sente bem, confortável, onde se sente amado, em que pode ser quem é. Um espaço seguro de desenvolvimento e proteção. As pessoas que fazem parte desse círculo tão íntimo são as mais queridas, confiáveis e estáveis. Ao menos é assim que deveria ser. No entanto, o lar, a casa, é o local que mais registra ocorrências de violência contra as mulheres.

Nas relações românticas, o número é alarmante. Dados do Balanço 2014 do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher (SPM-PR) aponta que em mais de 80% dos casos de violência reportados, a agressão foi cometida por homens com quem as vítimas têm ou tiveram algum vínculo afetivo: atuais ou ex-companheiros, cônjuges, namorados. E a cada ano os números só crescem.

Antes da criação da lei Maria da Penha (LMP) (nº 11340/2006), a violência que acontecia dentro do contexto familiar era vista como de baixo potencial ofensivo e as penas para os abusadores eram muito brandas e pouco ofereciam de compensação para as vitimadas. Hoje, apesar de todas as críticas que podem ser feitas a legislação e aplicação da lei, observa-se avanço.

A violência é um fenômeno complexo, multifatorial e que se apresenta de formas variadas; dificilmente se inicia abertamente. Momentos velados, crises de ciúme, episódios de raiva incontida ou mesmo comentários desdenhosos podem ser o início de uma relação abusiva.

Existem vários tipos de violência e todas tem um impacto negativo na vida das pessoas vitimadas, podendo inclusive levar a morte. A título de exemplo, usarei a tipificação presente na LMP, em que diferencia-se violência como:

1) Psicológica;
2) Física;
3) Moral;
4) Sexual;
5) Patrimonial.

Por se tratar da mais encoberta, a violência psicológica é muitas vezes confundida como parte normal de uma relação, dificultando sua identificação por parte dos envolvidos. Pensando nisso, enumerei abaixo alguns exemplos, para orientação. Vamos lá?

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Ele (ela) não te bate, mas:

a) Diz que você não pode sair sem que ele deixe ou permita: Esse tipo de frase pode ser disfarçada com uma preocupação como “o mundo está muito perigoso, é melhor você não sair sem mim”. Nesse segundo caso, se a parceira resolve sair, ocorre um episódio de intensa culpabilização, indicando que a vítima se expôs a um risco desnecessário.

b) Chama-a de adjetivos que diminuem: vagabunda, vadia, inútil são apenas alguns exemplos de um vocabulário depreciativo vasto. O que importa é fazer com que a vítima se sinta desvalorizada e se sujeite as vontades e ordens do abusador.

c) Não gosta que você se vista como deseja e manifesta isso de forma a depreciá-la: falas como “só uma vadia usaria esse vestido”, “mulher minha não usa roupa assim”, “mulher que se dá ao respeito não usa batom vermelho”, entre outras. O modelo de conduta é o que o abusador acha apreciável e não necessariamente o que a vítima goste ou se sinta confortável.

d) Vigia seus passos e quer saber sempre onde e com quem você está: não é possível ir a padaria sem informar ao parceiro e sem a permissão dele. Para algumas vítimas, a vigilância é tao intensa que tem seus números grampeados e monitorados por GPS. Vários podem ser os motivos alegados, no entanto o objetivo é controlar a vítima, restringindo seus contatos sociais, o exercício de uma vida feliz ou qualquer coisa que não seja do desejo de quem abusa.

e) Acusa-a de prejudicar o relacionamento quando você faz algo sem ele ou sem a sua permissão: essa é uma situação muito comum para os que viveram ou vivem uma relação abusiva. Tudo o que é feito pela vítima pode se tornar motivo de briga ou discussão, na qual o abusador demonstra que a culpa é sempre do outro e que ele está destruindo a relação com seu comportamento. A única saída é obedecer aos seus comandos.

f) Não te apresenta para nenhum amigo ou familiar porque você não sabe se comportar em público: comentários como “você não sabe falar direito”, “você é uma burra”, “deixa que eu falo as coisas”, “por isso que eu não te levo a lugar nenhum” são alguns exemplos. O intuito desse tipo de comentário é demarcar a vítima como incapaz de se relacionar de maneira apropriada, mantendo o controle do abusador sobre ela.

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g) Diz que está com você porque ele é o único que a suportaria: esse tipo de comportamento tende a aparecer quando a violência já está instalada. O abusador demonstra que a companheira não deve buscar novos contatos sociais, já que é insignificante, chata ou insuportável. O intuito é manter a vítima isolada e sem possibilidade de buscar ajuda.

h) Não se importa como você se sente: esse aspecto diz respeito a omissão quanto as necessidades da parceira. O foco é sempre no que o abusador deseja e não em como a vítima está.

i) Diz que vai se matar (ou matar você), caso a relação termine: talvez o exemplo de mais fácil identificação na violência psicológica. Os objetivos são causar medo (quando a ameaça é dirigida a vítima) e culpa (caso a ameça seja contra a própria vida).

j) Diz que você não deveria tentar estudar ou trabalhar, porque é muito burra: outras frases desse tipo são “acho que isso é muito difícil para você”, “não é um lugar adequado para uma mulher”. Novamente, a ideia é isolar a mulher e torná-la cada vez mais dependente do abusador.

Essas frases são apenas algumas das que permeiam as relações abusivas. Poderia me alongar em enumerá-las, no entanto creio que abarcam em grande parte o que delimita uma violência como psicológica. Independente da crença que sustente o ciclo de violência, essa é uma violação, um crime. A vítima nunca é culpada. Nada justifica uma ação ou omissão violenta.

Caso você ou alguém que conheça esteja em uma relação desse tipo, procure ajuda para sair dela. Isso não é amor, é violência.

Referências: agenciapatriciagalvao




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